Vida Esportiva

David Luiz reencontra protagonismo na Europa e brilha em campanha do Pafos na Champions: 'Jogar futebol nunca deve ser um peso'

Aos 38 anos, zagueiro brasileiro marca gol, vira referência no clube cipriota e rebate desconfiança após deixar o Brasil

Agência O Globo - 19/12/2025
David Luiz reencontra protagonismo na Europa e brilha em campanha do Pafos na Champions: 'Jogar futebol nunca deve ser um peso'
Imagem ilustrativa gerada por inteligência artificial - Foto: Nano Banana (Google Imagen)

Aos 38 anos, David Luiz voltou a ser personagem central de noites europeias. Longe dos holofotes tradicionais do futebol continental, o zagueiro brasileiro tem sido um dos líderes da campanha histórica do Pafos FC, do Chipre, que disputa pela primeira vez a fase de grupos da Champions League e surpreende pela competitividade diante de adversários de maior investimento e tradição.

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Contratado com desconfiança por parte do mercado, David não apenas assumiu papel de referência técnica e emocional no elenco, como também voltou a marcar na principal competição de clubes do mundo — algo que não acontecia havia oito anos — quando balançou as redes contra o Mônaco, da França, em novembro deste ano.

O gol, celebrado com emoção, simboliza mais do que um momento individual: representa a consolidação de um projeto esportivo e a resposta de um jogador que se recusou a tratar a mudança como um rebaixamento de ambição.

— Tenho estado impressionado com o nível. Acho que, devido à evolução do futebol e da tecnologia, hoje todos os países se preparam muito bem. Isso proporcionou uma evolução geral, e aqui no Chipre não é diferente. É um campeonato muito disputado, e por isso a gente tem conseguido fazer bons jogos na Champions e mostrar nosso valor — disse David Luiz, em entrevista ao GLOBO.

Papel de liderança

O desempenho do Pafos na Champions tem sido tratado pela imprensa europeia como um dos pontos fora da curva da competição. Inserido em um grupo considerado extremamente difícil, o clube cipriota conseguiu pontuar e competir em jogos nos quais era amplamente apontado como azarão.

David Luiz esteve em campo em partidas-chave, com alto volume de minutos, boa taxa de passes e presença decisiva nas bolas aéreas — ofensivas e defensivas. O gol marcado na fase de grupos recolocou o brasileiro em uma lista restrita: ele se tornou um dos jogadores mais velhos a balançar as redes na história da Champions League. Mais do que a estatística, o momento teve peso simbólico.

— Voltar a celebrar um gol na Champions foi algo inexplicável. Também pelo nível físico que tenho apresentado, por poder desfrutar com alegria dos melhores jogos do mundo. É gratificante. Eu jogo futebol porque amo futebol — afirmou.

Novo capítulo

A escolha pelo Pafos, após deixar o futebol brasileiro, onde teve passagens por Flamengo e Fortaleza, foi vista por muitos como um passo lateral ou até descendente na carreira de um jogador com passagens por Chelsea, PSG, Arsenal e pela seleção brasileira. David, porém, rebate a narrativa e associa o momento atual a um processo de trabalho contínuo.

— O que importa não é o que as pessoas pensam, é aquilo que a gente constrói todos os dias. Quando tive a oportunidade de vir, queria voltar para a Europa. Logo depois surgiu a chance de disputar a Champions de novo. Eu sabia de tudo que vinha trabalhando, da forma como sempre trabalhei, e isso fez as coisas acontecerem.

O discurso encontra respaldo no ambiente interno do clube. No Pafos, David é tratado como referência de profissionalismo. Segundo ele, a rotina não mudou com o passar dos anos.

— Até hoje sigo a mesma linha: chegar primeiro e sair por último. Sei que só com trabalho se conquistam objetivos. Esse gol veio para presentear tudo aquilo que o Pafos vem fazendo e também o que eu tenho feito individualmente.

'Pressão sempre vai existir'

A campanha europeia do Pafos começou sob forte descrédito externo. A expectativa dominante era de uma participação protocolar, sem pontos somados. O cenário mudou rapidamente.

— A pressão sempre vai existir quando se representa uma instituição. Muita gente dizia que não faríamos nem um ponto, mas conseguimos grandes jogos e pontuamos bem. Isso veio da dedicação, do trabalho e da ambição de entrar respeitando todos, com humildade, mas sabendo que algo podia ser construído.

David ressalta que, à exceção de uma partida em que o nível do adversário foi claramente superior, o time manteve competitividade.

— Tirando um jogo específico, a diferença foi grande. Nos outros, performamos muito bem. Fomos consistentes.

Apesar do destaque continental, o discurso no Pafos segue ancorado no planejamento doméstico. O clube disputa o Campeonato Cipriota e a Copa Nacional, tratadas como prioridades.

— Nossa meta é conquistar títulos nacionais. A Copa começa agora em janeiro. E, por que não pensar em classificação na Champions, mesmo sabendo da dificuldade? Estamos em um grupo com o Chelsea, será muito duro em Londres e também em casa. Mas vamos nos preparar da melhor forma possível.

Decisão, não peso

Ao falar sobre a saída do Brasil e o retorno ao futebol europeu, David Luiz faz questão de afastar qualquer ideia de desgaste emocional ou obrigação.

— Não foi peso nenhum, foi decisão. Jogar futebol nunca deve ser um peso. Eu jogo porque amo. Voltar à Europa, jogar em alto nível de novo, era algo que eu tinha em mente. Surgiu a oportunidade, e estou muito feliz com o que estou vivendo.