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Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
Especialistas apontam que nova moeda do bloco pode mudar equilíbrio global e desafiar hegemonia do dólar, mas implementação enfrenta desafios.
Frank-Jürgen Richter, ex-diretor do Fórum Econômico Mundial, avalia que a criação de uma moeda comum entre os países do BRICS pode afetar significativamente a economia dos Estados Unidos.
O presidente dos EUA, Donald Trump, tem demonstrado desconforto com a proposta do grupo, chegando a ameaçar os membros do BRICS com sanções caso avancem com a ideia de uma moeda única.
Em contrapartida, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defende o plano do BRICS para que os países do bloco deixem de depender do dólar como reserva global, descrevendo a iniciativa como "uma moeda do mundo". Para Lula, a criação de uma nova moeda é essencial para o multilateralismo e para o equilíbrio nas negociações comerciais entre Estados.
Os líderes do BRICS explicam que a intenção não é criar uma moeda para substituir as moedas nacionais no cotidiano dos cidadãos, mas sim uma alternativa ao dólar para transações bilaterais, eliminando o intermédio da moeda norte-americana.
No Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, o professor de economia do IBMEC de Brasília, Renan Silva, destacou a queda de credibilidade do dólar após crises como a de 2008 e a pandemia de Covid-19, o que abriu espaço para questionamentos sobre a dependência da moeda dos EUA.
"Por que a gente não transaciona e vamos baratear os custos de transação para os nossos negócios entre nossos países?", argumentou.
Segundo Silva, a moeda do BRICS deverá ser fundamentalmente diferente do dólar e da maioria das moedas nacionais, que são fiduciárias, ou seja, não têm lastro em ativos físicos como o ouro.
"Se lançarmos uma moeda sem lastro real, ela está fadada ao fracasso porque a moeda deve ser eleita por agentes econômicos, não imposta", afirma. Para ele, uma moeda lastreada em commodities teria mais credibilidade e aceitação no mercado.
Karin Vazquez, professora associada da O.P. Jindal Global University e senior fellow do Center for China and Globalization, concorda com a análise de Richter, mas ressalta que o ex-diretor subestima a inércia institucional do sistema financeiro internacional atual.
Assim como Silva, Vazquez destaca que a velocidade dessa mudança estrutural depende da confiança dos mercados na nova moeda e de seu uso em comércio, finanças, reservas e contratos privados.
Ela observa que a cooperação entre países do Sul Global tem se expandido rapidamente, como mostra o Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco do BRICS. No entanto, uma mudança na dominância do padrão monetário global no curto prazo ainda é incerta.
"É importante destacar a velocidade das transformações no sul global, o quanto já mudou nessas últimas décadas e que tem se acelerado, com várias inovações financeiras e novas instituições criadas nos últimos anos. Talvez isso possa até encurtar prazos tradicionalmente considerados ao longo da história", analisa.
Por fim, Vazquez avalia que, embora a criação de uma moeda única do BRICS seja um desafio, uma solução mais viável seria uma moeda para liquidação entre bancos centrais e bancos de desenvolvimento, baseada em uma cesta de moedas dos países-membros ou em um mecanismo de compensação para saldos em moedas nacionais.
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