Vida Esportiva

Ex-piloto brasileiro mais velho da Fórmula 1 completa 100 anos: 'Eu era muito amigo do Fangio'

Hermano da Silva Ramos, pioneiro do automobilismo nacional, relembra carreira e avalia a evolução da F1: 'Hoje é mais segura, mas antes era mais divertida'

Agência O Globo - 07/12/2025
Ex-piloto brasileiro mais velho da Fórmula 1 completa 100 anos: 'Eu era muito amigo do Fangio'
Hermano da Silva Ramos - Foto: Reprodução / Instagram

Hermano da Silva Ramos, filho de pai brasileiro e mãe francesa, nasceu em Paris em 7 de dezembro de 1925 e completa 100 anos neste domingo. Com dupla nacionalidade, Hermano é o ex-piloto de Fórmula 1 mais velho vivo e um dos pioneiros do Brasil na principal categoria do automobilismo mundial.

Apesar do nascimento na capital francesa, Hermano cresceu no Rio de Janeiro e sempre se considerou mais brasileiro do que francês no esporte. "Sinto que sou muito mais brasileiro do que francês no automobilismo", destaca. Conhecido como Nano entre familiares e amigos, ele competiu de 1940 a 1960, levando a bandeira brasileira aos principais circuitos do mundo.

Hermano foi o terceiro brasileiro a correr na Fórmula 1, após Chico Landi e Gino Bianco, participando dos perigosos e gloriosos anos 1950 da categoria. Do litoral de Biarritz, na França, o ex-piloto concedeu entrevista exclusiva ao GLOBO, relembrando momentos marcantes da carreira.

"Cheguei em quinto lugar no Grande Prêmio de Mônaco de 1956. Foi formidável!", recorda Nano, que foi o melhor colocado da equipe Gordini naquela prova. Hermano manteve o posto de brasileiro com mais pontos na F1 por 14 anos, até ser superado por Emerson Fittipaldi em 1970.

Antes dos pontos conquistados por Hermano, Chico Landi também pontuou em 1956, mas, por dividir o carro com o italiano Gerino Gerini, recebeu apenas metade dos pontos previstos pelo regulamento da época.

Além de Mônaco, Hermano disputou outras seis corridas oficiais de F1 entre 1955 e 1956, todas pela Gordini, e correu em circuitos lendários como Silverstone e o antigo traçado de Monza. Entre 1956 e 1959, participou ainda de oito GPs não oficiais.

Estreou na F1 no GP da Holanda de 1955, vencido por Juan Manuel Fangio, de quem se tornou grande amigo. "Fangio é considerado o melhor, mas para mim Stirling Moss era superior. Quando foram companheiros de equipe, a Mercedes deu preferência a Fangio, que era mais experiente, e ele conquistou o título", explica Nano.

Hermano também guarda boas lembranças de suas experiências fora da F1, como a vitória sobre Stirling Moss em uma prova de Gran Turismo, pilotando uma Ferrari contra o britânico em um Aston Martin.

Orgulhoso de ter guiado para a Ferrari, Nano recorda um conselho de Enzo Ferrari: "Ele me disse para me manter na pista e ser rápido. Se eu não fizesse isso, não continuaria na equipe. Na corrida seguinte, superei todos os outros Ferraris e venci em Spa, na Bélgica".

Hermano participou das 24 Horas de Le Mans em 1955 e 1959. Na edição de 1959, quebrou o recorde da pista, mas abandonou após problemas mecânicos. Em 1955, escapou ileso do acidente mais trágico da história do automobilismo, que matou mais de 80 pessoas.

Aos 100 anos, Hermano acompanha a Fórmula 1 moderna e opina: "Hoje a F1 é muito mais segura, mas, na minha época, era mais divertida. Agora, as corridas estão monótonas, sempre com os mesmos vencedores".

Nos anos 1980, Nano conheceu Ayrton Senna e ficou impressionado com o talento do jovem brasileiro, que viria a ser tricampeão mundial.

"Muito obrigado e até logo, amigos da Fórmula 1", despede-se Hermano, um dos grandes pioneiros do automobilismo brasileiro.