Vida e Saúde
Música na sala de cirurgia acelera recuperação e diminui estresse, aponta estudo
Pesquisa em Nova Déli indica que estímulos sonoros reduzem uso de anestésicos e estabilizam sinais vitais
Em meio ao silêncio imposto pela anestesia geral, uma paciente indiana passou por uma cirurgia ao som de música instrumental transmitida por fones de ouvido. De acordo com um estudo conduzido pelo Maulana Azad Medical College e pelo Lok Nayak Hospital, em Nova Déli, essa simples intervenção contribuiu para reduzir a necessidade de anestésicos e analgésicos durante a remoção da vesícula biliar, além de acelerar a recuperação no pós-operatório.
O estudo, publicado na revista Music and Medicine e divulgado pela BBC nesta segunda-feira, apresenta uma das evidências mais robustas de que a exposição à música, mesmo com o paciente inconsciente, pode modular a resposta fisiológica ao estresse cirúrgico e diminuir, ainda que de forma modesta, o uso de propofol e opioides.
“Nosso objetivo é a alta precoce após a cirurgia”, afirma a Dra. Farah Husain, anestesista e musicoterapeuta certificada que coordenou a pesquisa. “Os pacientes precisam acordar lúcidos, alertas e, idealmente, sem dor. Melhor controle da dor significa também menor resposta ao estresse.”
O estudo avaliou pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica, um procedimento de recuperação rápida. Todos receberam o mesmo protocolo medicamentoso — prevenção de náuseas, sedativo, fentanil, propofol e relaxante muscular — além de bloqueios regionais guiados por ultrassom, prática já consolidada na anestesia moderna.
Ainda assim, o corpo reage à cirurgia: frequência cardíaca aumenta, pressão arterial oscila e hormônios do estresse são liberados, especialmente durante a intubação. Segundo os pesquisadores, a música pode suavizar esses efeitos.
“A laringoscopia e a intubação são consideradas as fases mais estressantes da anestesia”, explica a Dra. Sonia Wadhawan, diretora do departamento de anestesia. “Embora o paciente esteja inconsciente, o corpo responde com alterações hormonais e cardiovasculares.”
O ponto de partida do estudo foi uma constatação fisiológica conhecida: a audição é o último sentido a ser desligado. Mesmo sob anestesia profunda, o cérebro continua processando estímulos sonoros.
O ensaio clínico, realizado ao longo de 11 meses, acompanhou 56 adultos entre 20 e 45 anos, divididos aleatoriamente em dois grupos. Todos utilizaram fones com cancelamento de ruído; apenas metade ouviu músicas instrumentais relaxantes, podendo escolher entre piano ou flauta.
Os resultados foram claros:
- Redução significativa no uso de propofol
- Menor necessidade de fentanil, um potente opioide
- Controle mais estável da pressão arterial
- Níveis menores de cortisol, principal hormônio do estresse
- Despertar mais rápido e lúcido
A ideia de que o cérebro anestesiado permanece parcialmente receptivo não é nova. Relatos raros de consciência intraoperatória — quando o paciente recorda trechos da cirurgia — já indicavam que o inconsciente pode registrar memórias implícitas.
Se experiências negativas podem ser armazenadas, ponderam os autores do estudo, experiências positivas também têm esse potencial.
“Estamos apenas começando a explorar como a mente inconsciente responde a intervenções não farmacológicas”, afirma Husain. “É uma forma de humanizar a sala de cirurgia.”
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