RJ em Foco
Ator, diretor e jurado do Estandarte de Ouro, Haroldo Costa morre aos 95 anos
Ele participou de momentos históricos do teatro e do cinema brasileiros
O ator, diretor, comentarista de carnaval Haroldo Costa morreu aos 95 anos neste sábado, após internações recentes devido a problemas de saúde. Ele integrava o corpo de jurados do 'Estandarte de Ouro', promovido desde 1972 pelo jornal O Globo. A premiação, que completou 50 anos em 2022, já é parte do carnaval carioca, uma história que se assemelha à contribuição de Haroldo Costa às festividades carnavalescas. A família confirmou a morte por volta das 21h, nas redes sociais do próprio Haroldo, e informou que em breve dará mais informações sobre o velório e o sepultamento.
De sorriso fácil e fala mansa, Haroldo fez 95 anos no dia 13 de maio. Na ocasião fez uma postagem nas redes sociais comentando sobre a data:
"Olha, eu estou fazendo 95 anos. Parece que pesa, né? Posso garantir que não pesa", disse, na ocasião.
Presidente do júri Estandarte de Ouro, Marcelo de Mello destacou a importância de Haroldo para o prêmio.
— A credibilidade e o prestígio do Estandarte de Ouro se devem, em grande parte, à presença de figuras como Haroldo Costa no júri. Quando o prêmio foi criado, em 1972, ele já era uma referência no carnaval e na cultura brasileira. Conhecia a história das escolas de samba como poucos e ajudou a construí-la escrevendo livros, comentando os desfiles na TV e promovendo eventos de carnaval. Foram mais de sete décadas de uma história que justifica plenamente a reverência e o respeito de todos que o chamavam, e continuarão a chamar, de mestre — disse.
De acordo com o Memória Globo, Haroldo Costa integrou o corpo oficial de jurados dos desfiles organizados pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Abriu mão da função em 1963, segundo afirmou, após um desfile da agremiação Acadêmicos do Salgueiro, da qual se tornou torcedor.
Até então mangueirense, ele se apaixonou pelo Salgueiro em 1963, ano em que a agremiação apresentou Chica da Silva em seu enredo, na Avenida Presidente Vargas. A paixão pelo Salgueiro durou até o fim da vida.
O samba de Chica da Silva, que sagrou o Salgueiro campeão, foi um dos que trouxeram a temática negra para o carnaval das escolas de samba do Rio. Até então, os enredos focavam muito na cultura europeia.
Nas redes sociais, o Salgueiro prestou uma homenagem a Haroldo, dizendo que ele foi um de seus 'maiores pilares':
"É um momento de profunda consternação, respeito e reflexão. Nos despedimos de Haroldo Costa, um dos pilares vivos da história do Salgueiro, um salgueirense de alma inteira, daqueles que não apenas passaram pela nossa escola, mas ajudaram a construí-la, registrá-la e eternizá-la. Haroldo foi muito mais do que um intelectual. Foi memória viva, foi guardião da nossa história, foi voz firme na defesa do samba, do Carnaval e da cultura afro-brasileira. Um homem que entendeu cedo que o samba não podia ser apenas vivido. Precisava ser preservado, estudado, contado e respeitado", destacou a escola.
E a agremiação segue, destacando alguns de seus trabalhos:
"Em suas obras fundamentais, como Fala, Crioulo, Na Cadência do Samba, 100 Anos de Carnaval no Rio de Janeiro e, sobretudo, Salgueiro: Academia de Samba e Salgueiro – 50 anos de glória, Haroldo escreveu aquilo que muitos sentiam, mas poucos sabiam transformar em registro eterno. Ele deu palavra, contexto e dignidade à nossa história. Pesquisador incansável, escritor essencial, Haroldo foi também ator, diretor, jornalista, produtor, conferencista. Um intelectual negro que atravessou o teatro, a televisão, o rádio e a literatura sem nunca abrir mão de suas raízes, de sua identidade e de sua missão: defender a cultura do povo brasileiro. No Salgueiro, sua presença sempre foi de respeito. Sua palavra sempre foi de autoridade. Sua trajetória sempre foi de amor verdadeiro pela Academia do Samba".
A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) disse que "recebeu com grande pesar a notícia da morte de Haroldo Costa" e que ele "foi um profissional de enorme talento, tendo dedicado uma vida inteira ao samba e ao carnaval".
A carreira na TV
Filho de um alfaiate e uma dona de casa, aos 2 anos de idade, Haroldo se mudou com a família para Maceió, onde morou até os 10 anos. Na capital alagoana teve contato com a cultura local, dos folguedos, reisados e cheganças. Ao voltar para o Rio, estudou no Colégio Pedro II, onde participou do movimento estudantil.
Segundo conta o projeto Memório Globo, suas primeiras experiências na TV foram nos anos 1950, em teleteatros da antiga TV Tupi. Foi na TV Excelsior, no entanto, que deu início à sua marcante presença na cobertura do carnaval carioca. Começou a trabalhar na Globo em 1965, como diretor de musicais. Como ator, lembra o projeto, participou da novela 'A Moreninha'.
Também foi diretor de musicais humorísticos como 'Só o Amor Constrói,' considerado um dos precursores do 'Fantástico'.
Anos depois, com Chacrinha, foi jurado dos programas 'Buzina do Chacrinha' e 'Discoteca do Chacrinha'.
Haroldo Costa é autor de vários livros sobre o carnaval carioca, como 'Salgueiro: Academia de Samba' (1984) e 'Ernesto Nazareth – Pianeiro do Brasil' (2005).
Em 2024, aos 94 anos, concluiu seu livro “Histórias do Brasil na boca do povo”. “São coisas sobre o Brasil que nunca foram reveladas pela historiografia oficial", contou ele, à época, sobre a obra.
Naquele momento, ao blog do Ancelmo Góis, ele declarou:
— Faço parte de um grupo de amigos ‘imorríveis’. Sou de uma geração criativa, que adora trabalhar.
Haroldo conheceu o poeta brasileiro Vinícius de Moraes em 1954 em Paris, onde foi convidado para protagonizar a peça "Orfeu da Conceição". O espetáculo estreou em 25 de setembro de 1956.
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