RJ em Foco
Seguranças de contraventor são condenados a até 29 anos por execução de Bid na Barra da Tijuca
Júri considerou que dupla traiu função de proteção de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, e repassou informações para emboscada. Decisão manteve penas em regime fechado
Os seguranças do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, foram condenados pelo Tribunal do Júri do Rio pela morte do bicheiro em fevereiro de 2020, na Barra da Tijuca, Zona Sudoeste. Conforme a denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ), “Bid” foi morto pelos homens a mando do também contraventor Bernardo Bello Pimentel Barboza, seu rival na disputa pelo controle dos pontos da contravenção na Zona Sul do Rio.
Líder do Santo Daime, Padrinho Paulo Roberto
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A sentença foi proferida na noite da sexta-feira no I Tribunal do Júri, e manteve a prisão dos réus. Thyago Ivan da Silva foi condenado a 25 anos e 8 meses de reclusão, em regime inicial fechado. Já Carlos Diego da Costa Cabral recebeu pena de 29 anos, 11 meses e 10 dias de reclusão, também em regime fechado. Ambos não poderão recorrer em liberdade.
Os seguranças Carlos Diego e Thyago teriam fornecido todas as informações sobre a localização de “Bid” no decorrer do trajeto que antecedeu o homicídio, permitindo a emboscada. Bello teve o processo desmembrado e será julgado em outra data, assim como, Wagner Dantas Alegre, denunciado como um dos executores de “Bid”.
De acordo com a sentença, o crime ocorreu no dia 25 de fevereiro de 2020, por volta das 4h30, na Rua Jornalista Henrique Cordeiro, em frente ao Condomínio Barra One, na Barra da Tijuca. Na ocasião, Alcebíades Paes Garcia foi executado com dezenas de disparos de arma de fogo no momento em que desembarcava de uma van. As lesões provocadas pelos tiros, descritas no laudo de exame de necropsia, foram a causa direta da morte.
Para os jurados, os dois seguranças tiveram participação decisiva no crime. No caso de Thyago Ivan da Silva, os jurados reconheceram que ele forneceu informações sobre a localização de Bid ao longo do trajeto que antecedeu o crime, além de ter se omitido quanto à promoção da segurança da vítima. Também foi reconhecido que ele prestou auxílio material e moral ao executor, posicionando-se ao seu lado para encorajá-lo a agir com calma e tranquilidade, além de garantir cobertura armada, caso fosse necessário.
Em relação a Carlos Diego da Costa Cabral, os jurados entenderam que ele abandonou sua posição na segurança de Bid, sob a falsa justificativa de que teria se perdido. Além disso, recebeu informações sobre a localização do bicheiro durante o percurso, o que permitiu a movimentação precisa dos demais envolvidos e, em seguida, a emboscada.
O Tribunal do Júri não acolheu o pedido de absolvição dos réus. Os jurados também não reconheceram a qualificadora de motivo torpe — ligada à disputa por pontos da contravenção. Por outro lado, entenderam que o homicídio teve outras circunstâncias que aumentaram sua gravidade. Uma delas foi o chamado perigo comum, já que os disparos foram feitos em uma área urbana movimentada, quando a vítima estava dentro de uma van com outros passageiros e o motorista, colocando várias pessoas em risco.
Os jurados também reconheceram que o homicídio foi cometido mediante dissimulação, já que os réus foram contratados como seguranças da vítima, que acreditava estar protegida. Outra qualificadora reconhecida foi a emboscada, pois Bid foi alvejado por dezenas de tiros de fuzil, sem qualquer possibilidade de defesa, no momento exato em que desembarcava da van.
No caso de Thyago Ivan, a pena-base foi fixada em 22 anos de reclusão. Com o agravamento pelo fato de a vítima ser maior de 60 anos, a pena chegou a 25 anos e 8 meses. Já Carlos Diego também teve a pena-base fixada em 22 anos, mas recebeu agravamento adicional por reincidência, além da majorante pela idade da vítima, alcançando 29 anos, 11 meses e 10 dias de reclusão.
A magistrada Alessandra da Rocha Lima Roidis determinou o cumprimento das penas em regime inicial fechado. Os dois condenados estão presos há cerca de quatro anos.
Quem é Bernardo Bello?
Bernardo Bello Pimentel Barboza é um bicheiro investigado em casos de assassinatos de rivais e desafetos. Durante participação na série Vale o Escrito, do Globoplay, ele afirmou que um de seus rivais quer matá-lo. Apontado como o mentor intelectual da morte do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid — assassinado em 25 de fevereiro de 2020 —, Bello foi preso em janeiro de 2022, em Bogotá, na Colômbia, quando retornava de Dubai, nos Emirados Árabes. A prisão ocorreu durante uma ação conjunta da Delegacia de Homicídios da Capital e do Gaeco, do Ministério Público do Rio.
À época, o nome de Bernardo Bello constava na difusão vermelha da Interpol, classificado como “perigoso” e “violento”, sendo considerado um fugitivo internacional. Quatro meses depois, no entanto, ele foi solto após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) conceder habeas corpus para que respondesse ao processo em liberdade. A decisão impôs medidas cautelares, como a obrigação de se apresentar periodicamente à Justiça, a proibição de sair de casa sem autorização judicial e de mudar de endereço.
Segundo o Ministério Público, Bello descumpriu essas medidas a partir do fim de novembro de 2022, quando passou a ser considerado foragido em outro processo. Desde então, ele não foi localizado pela polícia.
Bernardo Bello também é acusado de integrar o núcleo de comando da contravenção no Rio e foi um dos alvos da Operação Fim de Linha, deflagrada pelo Ministério Público estadual para combater crimes de corrupção e lavagem de dinheiro ligados à exploração de jogos de azar. Na ocasião, ele não foi encontrado.
As investigações apontam que Bello teria comandado diferentes esquemas de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis, comércio de gasolina e diesel, além de empresas de carnes, carvão, temperos para churrasco, confecções de roupas e outros ramos. Em março do ano passado, uma operação teve como alvo a empresa Zé do Churrasco Indústria e Comércio de Alimentos, localizada na Penha, Zona Norte do Rio — investigação que expôs um conflito de interesses que terminou na morte do advogado Carlos Daniel Dias André, ex-policial civil.
Formalmente, o sócio-administrador da empresa era Marcelo Magalhães. De acordo com as investigações, porém, quem efetivamente controlava o negócio era Allan Diego Magalhães Aguiar, ex-cunhado de Bello, atualmente preso. Criada no quintal de uma casa, a Zé do Churrasco movimentou cerca de R$ 22 milhões em apenas oito meses.
Segundo a Polícia Civil, Carlos Daniel atuava como intermediário em uma disputa entre os sócios, mas Bello teria interpretado a atuação do advogado como uma traição. Carlos Daniel foi morto em maio de 2022, e o contraventor passou a ser considerado suspeito de envolvimento no crime.
Entre outros alvos das investigações está uma pequena confecção que, aberta com capital social declarado de R$ 100 mil, faturou R$ 70 milhões em apenas sete meses de 2021, durante a pandemia de Covid-19. Também foi cumprido mandado de busca em um posto de combustíveis em Coelho da Rocha, na Zona Norte carioca, apontado pelos investigadores como uma espécie de quartel-general do grupo ligado a Bello.
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