RJ em Foco

Alerj vota hoje se mantém Rodrigo Bacellar preso; saiba como será o rito

Destino de Bacellar começa a ser traçado em uma reunião fechada, pela manhã, dos sete membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)

Agência O Globo - 08/12/2025
Alerj vota hoje se mantém Rodrigo Bacellar preso; saiba como será o rito
Rodrigo Bacellar - Foto: Reprodução / Instagram

Com votações previstas para hoje, a Assembleia Legislativa do Rio () decide o destino político e a manutenção ou não da prisão do deputado estadual (União), presidente da Casa, que desde a última quarta-feira é mantido em uma cela de quatro metros quadrados na Superintendência da Polícia Federal do Rio. A ordem do Supremo Tribunal Federal () para prendê-lo foi expedida após investigação da PF apontar a suspeita de que o parlamentar vazou informações sobre a operação que, em setembro deste ano, prendeu o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, acusado de ser um braço político do Comando Vermelho (CV).

Fatos 'gravíssimos':

Após trocar de telefone na véspera da operação que o prendeu,

Em depoimento à PF, exibido no Fantástico de ontem, Bacellar admitiu ter conversado com TH Jóias na véspera da operação. Segundo relatou, o deputado o procurou para perguntar se ele sabia de alguma ação policial direcionada contra ele.

“Eu falei: eu não estou sabendo nada. Estava uma fofocada na Casa já há três dias, que vai ter algum problema essa semana para um deputado”, explicou Bacellar. Em seguida, o deputado acrescentou: “Aí, ele (TH Jóias) fala assim: ‘Não, beleza. Eu não sei o que eu faço, não sei se eu vou embora’. Falei: Aí é com você. Eu, se eu estou no seu lugar, só me preocuparia com a tua filha pequena, entendeu? Agora você tem que saber o que faz ou o que deixa de fazer. Você vive insistindo pra mim que não tem nada!”, contou Bacellar à PF.

Na sequência, o delegado questionou sobre o vídeo que TH Jóias enviou mostrando um freezer cheio de carnes e mencionando não ter como “levar”. O agente indagou por que o presidente da Alerj não comunicou às autoridades o fato de um deputado — que seria alvo da operação — estar eventualmente retirando itens de sua residência. Bacellar respondeu: “Não estou aqui pra entregar colega. Não tô aqui para proteger colega também que faz nada errado. Eu confesso que eu até me assustei. Achei aquilo ato de impertinência dele, me ligar de um telefone que eu não tinha (...) Eu atendi, mas depois não fiz mais contato com ele. E só falei isso com ele. Falei: Você tá doido?”

Da CCJ ao Plenário

Na Alerj hoje, o destino de Bacellar começa a ser traçado em uma reunião fechada, pela manhã, dos sete membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Eles analisarão a decisão do STF e os argumentos da defesa, além de discutir internamente os pontos de debate. Em seguida, votarão, por maioria simples, o parecer que será encaminhado ao plenário para apreciação.

A maioria da comissão é composta por aliados do parlamentar. Presidente da comissão, Rodrigo Amorim (União) é aliado de primeira hora e mantém relação direta e pessoal com Bacellar. Mas também deve haver vozes dissonantes. Luiz Paulo, líder do PSD na Casa, por exemplo, diz que seguirá a orientação partidária pela manutenção da prisão. Elika Takimoto também deve acompanhar a posição do PT, favorável à manutenção da prisão.

Após essa etapa, o rito determina que, no plenário, os deputados votem, de forma aberta e nominal, se mantêm ou revogam a prisão. A sessão será conduzida pelo primeiro vice-presidente da Casa, Guilherme Delaroli (PL), que anunciará o item, permitirá as manifestações dos líderes e colocará o tema em votação eletrônica. O resultado será proclamado após verificação de quórum. A Alerj tem 70 deputados, e a decisão exige maioria absoluta: pelo menos 36 votos.

Ainda há uma indefinição sobre o que será votado pelos deputados. A CCJ vai decidir se apresentará um único projeto de resolução com duas deliberações — sobre a soltura e o afastamento de Bacellar do cargo — ou se haverá uma votação separada para cada uma delas. Para Bacellar, interessa que tudo seja votado em conjunto, já que isso pode facilitar uma articulação para mantê-lo no comando da Casa.

Debandada

Já a oposição defende que a votação ocorra em duas etapas. Há ainda uma terceira possibilidade, na qual os deputados deliberariam apenas sobre a prisão e deixariam para o ministro , do STF, a decisão sobre o afastamento.

Nos bastidores da Alerj, há um clima de que, independentemente do voto, os deputados ficarão em uma posição “complicada” diante da Casa ou de suas bases eleitorais. O desconforto em votar a favor da prisão de Bacellar tem como pano de fundo o fato de que o deputado continua exercendo influência nas decisões da Casa, mesmo preso. Antes de ser detido pela PF, na cadeira mais alta da Assembleia Legislativa, ele era conhecido por costurar acordos tanto com a direita quanto com a esquerda.

Nas conversas sobre os votos, os espectros políticos não estão sequer sendo considerados. O que pesa é a proximidade e o alinhamento de cada parlamentar com o governo. Diante da exposição delicada que o voto acarretará, circula que vários deputados buscam uma justificativa para se ausentar da votação desta segunda-feira. Até licenças médicas já foram ventiladas.

— Quem puder fugir, vai tentar. Até porque, qualquer que seja o voto, é duríssimo. Se você vota pela manutenção, fica numa posição de animosidade dentro da Casa. Se você vota pela soltura, fica indisposto com as suas bases. É complicado — disse um deputado que não quis se identificar.

Já houve movimentações na Alerj sinalizando as estratégias dos deputados para evitar desgaste político. Na sexta-feira, com publicação no Diário Oficial, o deputado Jair Bittencourt (PL) deixou o mandato na Alerj e reassumiu o cargo de secretário estadual de Desenvolvimento Regional do Interior, Pesca e Agricultura Familiar. No lugar dele, assume o quarto suplente do PL, Douglas Gomes. Em suas redes sociais, o deputado reempossado anunciou ontem que votará pela manutenção da prisão de Bacellar.