RJ em Foco
Guerra entre CV e TCP: Niterói tem duas semanas consecutivas de confrontos entre criminosos rivais
Após ofensiva do Terceiro Comando Puro a comunidades dominadas pelo Comando Vermelho, cidade tem tiroteio mais intenso na madrugada de sábado
Nas últimas duas semanas Niterói testemunhou uma série de invasões e confrontos armados entre facções criminosas, algo incomum nos últimos anos. Desde a última semana, o Terceiro Comando Puro (TCP) tem investido contra as áreas controladas pelo Comando Vermelho (CV), facção que domina quase 100% das comunidades na cidade, desencadeando confrontos que atingiram bairros da Zona Norte, Zona Sul e Centro.
O episódio mais recente ocorreu na noite da última sexta-feira (5) se estendendo até a madrugada de sábado (6), levando moradores das comunidades a viver mais uma madrugada de pânico, com disparos intensos pela segunda semana consecutiva.
Início da ofensiva
A escalada da violência começou na segunda-feira (24), quando o TCP realizou invasões coordenadas em favelas dominadas pelo CV. As investidas ocorreram em comunidades como Santo Cristo e Palmeira, no Fonseca; no Morro do Preventório, em Charitas; e no Morro do Estado, que fica entre bairros da Zona Sul da cidade e do Centro.
A Polícia Militar reagiu realizando operações nas áreas invadidas. No Morro do Preventório foi encontrado o corpo de uma vítima de disparos. Na ação no Fonseca, agentes do 12º BPM trocaram tiros com criminosos, resultando na prisão de dois membros do TCP e na apreensão de dois fuzis, além de granadas e radiotransmissores.
O Coronel Leonardo de Oliveira, comandante do 12º BPM, afirmou na ocasião que o cenário indicava a perda de território do CV:
— A prisão dos criminosos do Terceiro Comando Puro nos leva a entender que houve uma mudança de facção na localidade.
Ainda na semana passada, na madrugada de sexta-feira (28), um vídeo que viralizou nas redes sociais flagrou homens armados com fuzis descendo de uma van e invadindo o Morro do Estado, uma das maiores comunidades de Niterói.
Praticamente uma semana depois ocorreu o episódio mais recente da disputa entre as duas facções, onde foi registrada a maior troca de tiros desde o início dos confrontos. Cerca de cinco horas de disparos consecutivos foram ouvidos, segundo moradores das comunidades da Palmeira, Santo Cristo, Pimba e Coreia, todas no Fonseca, na Zona Norte da cidade. Na mesma noite, disparos também foram registrados no Morro do Estado.
A Polícia Militar afirma que reforçou o patrulhamento em todas as regiões, e através de monitoramentos de inteligência, equipes de ações táticas (GATs) dos batalhões de Niterói e São Gonçalo efetuam incursões nas comunidades para capturar criminosos.
O Coronel Oliveira afirmou existirem indícios de que criminosos do CV de comunidades de São Gonçalo, "principalmente do Morro do Castro e adjacências", podem ter se deslocado para Niterói para reforçar as comunidades do Fonseca na guerra contra o TCP.
Pânico entre moradores
Os impactos da guerra afetam principalmente a rotina dos moradores das comunidades atingidas, que se dizem presos no fogo cruzado.
Uma moradora da Palmeira, que não quis se identificar, descreveu o que passou na semana passada:
— Com essa guerra entre facções, os moradores vivem assustados, oprimidos, sem dormir, com os comércios e as escolas fechados por conta da guerra deles. A gente fica no meio dessa guerra sem saber a quem recorrer.
Neste sábado (6), outra moradora da Palmeira, que também pediu para não ser identificada, disse que os tiros começaram às 21h e cessaram só depois de meia-noite.
— Parecia cena de filme de guerra, tivemos que nos abaixar dentro de casa, pois tinha risco de bala perdida. Inclusive, atingiram a parede do meu quarto pelo lado de fora. Agora temos que tomar cuidado com tudo, fica difícil sair de casa, porque a qualquer momento pode estourar e o tiroteio começar novamente — disse.
A bancária Cristiane Silveira, que reside em um condomínio vizinho no Fonseca, descreveu a madrugada deste sábado (5) como "a pior desde 2015".
— O tiroteio começou por volta de 22h. Parecia guerra. Do meu quarto dava para ouvir xingamentos, ameaças, tiros vindo de todos os lados. Tivemos que dormir na sala. Anos atrás, a parede do meu quarto já foi atingida por disparos. Ninguém pregou o olho — relatou a bancária.
Hegemonia do CV
Apesar da série de ataques do TCP, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) avalia que a hegemonia do Comando Vermelho na região dificilmente será alterada. Segundo dados do Geni, o CV ocupa cerca de 15% do território urbano de Niterói, contra 0,8% do TCP e das milícias.
Para Daniel Hirata, pesquisador do Geni, o movimento do TCP deve ser visto como esforços localizados, e não como uma mudança estrutural no domínio territorial.
— O Comando Vermelho aparece com uma hegemonia bastante grande no Leste Fluminense em geral. Não me parece que haja uma tendência do TCP de tomar Niterói. É uma missão bastante difícil — analisou Hirata, vendo a ofensiva como um esforço esporádico de expansão em comunidades pontuais.
Ainda de acordo com estudos do Geni/UFF, de 2017 a 2022 o Fonseca é o bairro com maior concentração de confrontos por arma de fogo em Niterói. Os bairros do Barreto, Engenhoca e Santa Rosa também aparecem entre as localidades com mais troca de tiros, mas com menos regularidade e intensidade.
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