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'Sala da tia Dani' era temida por crianças vítimas de coordenadora pedagógica presa por tortura em creche de Copacabana

Cinco funcionárias também foram indiciadas; agressões começaram em 2024 e afetaram crianças de 4 a 6 anos, segundo a polícia

Agência O Globo - 06/12/2025
'Sala da tia Dani' era temida por crianças vítimas de coordenadora pedagógica presa por tortura em creche de Copacabana
'Sala da tia Dani' era temida por crianças vítimas de coordenadora pedagógica presa por tortura em creche de Copacabana - Foto: Depositphotos Foto: https://depositphotos.com/

A coordenadora pedagógica de uma creche particular em Copacabana foi presa preventivamente nesta quinta-feira, suspeita de torturar crianças entre 4 e 6 anos. Daniele de Oliveira Bispo foi detida em outra creche, no Méier, Zona Norte do Rio, por policiais da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), com apoio da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (DEAPTI). Ela é acusada de praticar puxões de cabelo, sufocamentos e de isolar alunos em uma sala escura e fechada.

De acordo com relatos, a sala da coordenadora pedagógica era temida pelos alunos. O espaço, conhecido como ‘Sala da Tia Dani’, era utilizado para manter as crianças trancadas e sozinhas, no escuro, como forma de castigo.

— Essa 'sala da tia Dani' era como se fosse uma sala de tortura. Era o local que as crianças mais temiam. Os relatos apontam que era uma sala escura e fechada — afirma a delegada Maria Luiza, responsável por ouvir os pais dos alunos. As crianças não foram ouvidas por serem muito pequenas. Em todos os depoimentos, a delegada destacou a sensação de impotência das famílias:

— Você deixa seu filho confiando que ele está sendo cuidado e, depois, se depara com um trauma inesperado. Até constatar o que está acontecendo, pode demorar. É complexo — acrescenta a delegada.

As agressões ocorreram ao longo de 2024, mas o caso só chegou à polícia em maio, após uma mãe denunciar o sufocamento do filho. Os sinais não eram evidentes: a criança se recusava a comer, perdeu peso e não queria mais ir para a escola, demonstrando medo ao mencionar a “tia Dani”. Estranhando o comportamento do filho, a mãe solicitou as imagens das câmeras de segurança da creche e constatou as agressões.

Segundo a delegada adjunta da DCAV, Maria Luiza Machado, as imagens são angustiantes e mostram agressões não só ao menino, mas também a outras crianças:

— A coordenadora não aceitava que a criança se recusasse a comer. Ela forçava a alimentação, causando engasgos, e ainda esfregava a roupa suja no rosto da criança. Foi uma experiência extremamente traumática, levando a criança a rejeitar a alimentação — relata a delegada.

Após a descoberta das agressões, Daniele foi demitida ainda no ano passado, mas passou a trabalhar em outra creche, no Méier, onde foi presa. A polícia ainda não recebeu relatos de casos nessa nova unidade, mas não descarta a possibilidade de novas denúncias.

Com o avanço das investigações na creche de Copacabana, outras responsáveis também apresentaram relatos semelhantes. Pelo menos quatro crianças, entre 4 e 6 anos, foram identificadas como vítimas.

Segundo a polícia, além de Daniele — acusada de tortura física e psicológica — outras cinco funcionárias que tinham conhecimento das agressões também foram indiciadas por tortura, na modalidade omissiva, incluindo a diretora da unidade escolar.

A delegada orienta os responsáveis a ficarem atentos a mudanças de comportamento das crianças:

— É importante observar se algum comportamento foge do habitual, se a criança está se alimentando normalmente, se reage de forma estranha a algum funcionário ou se relata dores pelo corpo.

Daniele foi presa na creche onde atuava no Méier, na Zona Norte do Rio. O mandado de prisão preventiva foi cumprido por agentes da DCAV, com apoio da DEAPTI.