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Metanol: bares e restaurantes do Rio percebem recuperação na venda de drinques após crise causada por contaminação em destilados
Estabelecimentos comparam o baque sofrido desde setembro ao da pandemia, mas dizem que a confiança da clientela nas bebidas já foi praticamente restabelecida
A crise das bebidas alcoólicas adulteradas com metanol provocou uma incômoda sensação de déjà-vu em quem trabalha em bares e restaurantes da cidade. Embora não tenha sido confirmados casos de intoxicação no estado do Rio, a crise trouxe impacto para o setor e houve quem lembrasse dos tempos da pandemia de Covid-19. A boa notícia é que a situação, pelo que tem sido observado nas casas do ramo, começa a dar sinais de recuperação.
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— A única vez que vi o consumo de drinques despencar tanto foi na pandemia — lembra a bartender Jessica Sanchez, consultora da Casa Horto.
O P’Alma — que é parte da Casa Horto juntamente com o Pátio e o Empório 1839 — vendia cerca de 500 drinques por semana antes da crise, que eclodiu em setembro. Na semana seguinte ao registro dos primeiros casos de intoxicação foram comercializados apenas 50 coqueteis. A procura foi retornando aos poucos e hoje já está na faixa dos 350 semanais.
— A Casa Horto enfrentou dias de tensão, mas acredito que a confiança da clientela nas bebidas que servimos foi restabelecida — afirma Sanches. — E acho que essa crise fez com que as pessoas passassem a consumir produtos do tipo com mais consciência e só em estabelecimentos sobre os quais não pairam dúvidas.
No auge da crise do metanol, o P’Alma voltou seus esforços para drinques como Aperol Spritz, por exemplo. A decisão foi tomada após a constatação de que a preocupação dos consumidores estaca concentrada mais em destilados como vodca e gin foco maior dos falsificadores. O fato de que a Casa Horto produz seu próprio gin, o OBY, ajudou bastante a manter a confiança dos clientes. Elaborado artesanalmente com 22 botânicos da Mata Atlântica, é o mais utilizado no preparo de drinques por lá.
— Todo bar ou restaurante no qual as bebidas destiladas compõem parte relevante do mix de vendas sentiu um baque muito grande com essa crise — disse Fernando Blower, presidente do sindicato de bares e restaurantes do Rio de Janeiro, o SindRio. — E os estabelecimentos mais afetados foram aqueles que nunca fizeram nada de errado. Graças à desinformação, no entanto, eles acabaram penalizados pela prática daqueles que usam bebidas adulteradas.
No Cafofo Pub, em Botafogo, a recuperação nas vendas está no meio do caminho. O estabelecimento afirma que vendia cerca de mil drinques por semana até a crise do metanol. Hoje a casa tem comercializado cerca de 500 a cada sete dias. Nas primeiras duas semanas após o início da crise, as vendas de coqueteis por lá despencaram 95%.
— A procura está numa curva ascendente. Por sorte, nesta época não perdemos público, que migrou, principalmente, para a cerveja — conta o empresário Marcos Tulio Filho, um dos sócios.
Logo no início da crise, lembra ele, muitos consumidores trocaram os coqueteis por um tipo específico de cerveja: aquelas sem álcool. A explicação pode estar num mix de desconhecimento das causas do problema àquela altura e decisão de não correr qualquer tipo de risco desnecessário.
Jonas Aisengart, um dos sócios do grupo que é dono do Pope, do Quartinho e do Chanchada, num total de 11 restaurantes e bares no Rio — o 12º estabelecimento, a trattoria Giancarlo, em Botafogo, está prestes a abrir — diz que entre seus empreendimentos, o que mais vende drinques é o Quartinho, também em Botafogo. A venda de drinques chegou a bater as 1.500 unidades por semana. Hoje a produção está na faixa dos mil semanais. No pior momento da crise, a venda semanal de drinques caiu para 200.
— A procura está num ritmo crescente — garante Aisengart.
O episódio levou o grupo a dar início à concretização de um sonho antigo: o desenvolvimento de marcas próprias de gin, vodca, cachaça e rum. A meta é produzi-las com equipamentos terceirizados.
— Vamos acompanhar de perto cada etapa da produção — diz Aisengart.
O objetivo é lançar quatro marcas já no primeiro semestre do ano que vem.
De acordo com o último boletim sobre o tema divulgado pelo Ministério da Saúde, há 97 casos de intoxicação por metanol em bebidas registrados no país. Desses, 62 foram confirmados e 35 ainda estão sob investigação. O número de mortes chegou a 16 sendo nove no estado de São Paulo, três no Paraná, três em Pernambuco e uma em Mato Grosso. Há outros 10 óbitos em análise: cinco em São Paulo, quatro em Pernambuco e um em Minas Gerais.
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