Allane de Souza Pedrotti Matos, morta na última sexta-feira aos 41 anos, era reconhecida por sua paixão pela música, frequentemente registrada em fotografias cantando ou tocando instrumentos em rodas de samba. Ela se apresentava em locais como o Clube Renascença, no Andaraí, integrando grupos como Quilombo Urbano, Resenha dos Amigos do Rena e Mensageiros do Samba. Paralelamente à vida artística, construiu uma sólida trajetória acadêmica e alimentava o sonho de se tornar professora universitária.

Formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Allane havia concluído recentemente sua segunda graduação, desta vez em Letras, pela Universidade Veiga de Almeida. A apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) estava marcada para esta terça-feira. Ela também possuía doutorado em Linguística, com passagem por uma universidade na Dinamarca.

A universidade particular onde concluiu a nova graduação fica a poucos metros do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), instituição onde atuava na Diretoria de Ensino. "Seu sonho era ser professora universitária", relembra um amigo próximo.

A irmã de Allane, a pesquisadora e tradutora Alline de Souza Pedrotti, de 35 anos, contou ter conversado com ela um dia antes do crime. "Nos falamos um dia antes de ela falecer e a última coisa que ela me disse foi que me amava e tinha acabado de entregar o TCC", relata Alline. "A orientadora ficou de me entregar o trabalho. Tenho certeza de que é sobre alguma causa social. Gostaria até de defender por ela, mas isso não será possível."

Allane foi atingida na cabeça e no ombro. A psicóloga escolar Layse Costa Pinheiro, também vítima do ataque, foi ferida na cabeça e no tórax. Ambas foram socorridas e encaminhadas ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, mas não resistiram aos ferimentos. Os sepultamentos ocorreram no fim de semana. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital como duplo feminicídio.

Segundo relatos, o funcionário João Antônio Miranda Tello Ramos Gonçalves chegou normalmente ao Cefet pela manhã, cumprimentando colegas. À tarde, entrou na Diretoria de Ensino e disparou contra as duas mulheres, tirando a própria vida em seguida.

Em nota oficial, a Direção-Geral do Cefet/RJ lamentou profundamente a tragédia que abalou a comunidade acadêmica e decretou luto oficial de cinco dias na instituição a partir de 1º de dezembro de 2025.