Cinco policiais militares do Batalhão de Choque foram presos na semana passada, acusados de furtar dois fuzis e peças de um carro durante a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou na morte de 122 pessoas em outubro. Reportagem exibida pelo Fantástico revelou que um policial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também teria se apropriado de um radiotransmissor e da capa de um colete à prova de balas. Todos os atos foram registrados pelas câmeras corporais dos próprios agentes.

Após a rendição de 20 suspeitos que haviam invadido uma residência, o sargento Silva Vieira entrou no imóvel e encontrou, próximo à pia da cozinha, um fuzil AK-47 com guarda-mão de madeira polida. “É o quê? É ruim de eu entregar esse daqui. Esse aqui vai ficar pra gente”, afirmou, conforme áudio divulgado pelo Fantástico. Segundo o Ministério Público, nenhuma arma com essas características consta entre as mais de 90 apreendidas na operação.

“Ninguém tem esse AK aqui, não”, reforçou o sargento antes de entregar o fuzil a outro policial, que o escondeu em uma mochila. Quinze minutos depois, Silva Vieira deixou a casa com o colega, e ambos começaram a planejar como ocultar a arma. “Sabe desmontar, não?”, perguntou Silva Vieira. O outro respondeu que precisaria de uma chave de fenda, mas decidiram manter o armamento na mochila: “Fecha de qualquer jeito. Já é, vamos sair daqui”, disse o sargento.

Sem identificação na farda

A Corregedoria da Polícia Militar também obteve imagens de um policial do Bope conversando com o sargento Silva ainda dentro da casa. Diante dos objetos apreendidos sobre uma mesa, ele questiona: “Vê se tem uma coisinha pra levar”. O sargento responde: “Pega, pô”. O agente do Bope, sem identificação na farda, afirma que gostaria apenas do colete (sem as placas de proteção), mas acaba optando por outro item: “O radinho também vou levar!”. Tudo foi registrado pelas câmeras corporais.

A promotora Allana Poubel informou que dois policiais foram identificados e denunciados por peculato, crime que consiste em se apropriar de bens apreendidos durante diligências. As imagens também mostraram outros policiais subtraindo um fuzil adicional e peças de um veículo dentro da favela. Até o momento, o O GLOBO não conseguiu contato com a defesa dos acusados.