RJ em Foco

Personalidades selecionam os 50 melhores restaurantes para comer prato-feito no Rio

O GLOBO convidou 46 pessoas, entre chefs de cozinha, jornalistas, artistas e influenciadores para elencar cinco lugares na cidade, gerando uma lista saborosa e diversa de Norte a Sul do Rio

Agência O Globo - 01/12/2025
Personalidades selecionam os 50 melhores restaurantes para comer prato-feito no Rio

O formato prato-feito é tipicamente brasileiro, mas pelas bandas do Rio ganhou identidade própria, com gostinho só nosso. A começar pelo feijão preto: esse, sim, o verdadeiro feijão que o carioca come — e não o “feijão carioca”, marrom, conhecido no resto do país. Do galeto na brasa à feijoada, cada esquina da cidade serve uma história diferente, e muitas delas vêm no prato. Mas onde exatamente estão os sabores imperdíveis daqui? Para responder a essa pergunta, O GLOBO convidou 46 personalidades, entre chefs de cozinha, jornalistas, artistas e influenciadores, que revelaram cinco de seus lugares preferidos para comer um bom PF na cidade. O resultado foi uma lista de dar água na boca com os 50 melhores restaurantes de Norte a Sul do Rio, para aplacar a fome em uma experiência autenticamente carioca.

ONDE COMER UM BOM PF:

O ranking do GLOBO está disponível em uma ferramenta online, mas cada um pode criar seu próprio top 10, selecionando os preferidos. O seu resultado ainda pode ser compartilhado nas redes.

Rufem os tambores, ou, melhor, as panelas.

Em primeiro lugar, o Bar da Frente, da Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, foi o mais indicado pelos votantes. O espaço não é muito grande, mas acolhe bem. Numa quarta-feira de sol e céu azul, uma família da Estônia, de férias, não foi à praia: foi almoçar lá. Um deles, o engenheiro de telecomunicações Kaupo Kulo, é estoniano, mas mora há 17 anos no Rio, bem ali perto. Levou os primos, de visita, para comer.

— Sou praticamente vizinho do bar. Eles vieram provar o arroz de puta pobre. É um prato bem Brasil pra mim — disse. O prato é arroz, linguiça, panceta, cebola, batata palha e ovo frito. Na mesa também tinha um PF de vaca atolada, o prato da semana: costela e aipim em molho encorpado, com arroz, feijão e farofa.

Idealizar o cardápio era atividade que a dona do bar, Mariana Rezende, fazia com a mãe, a quem perdeu há pouco mais de seis anos. Ela não contou o segredo da receita, mas deu para perceber que o toque especial vem de um lugar de empatia.

— Eu sirvo pros outros a comida que eu gostaria de comer. Eu falo muito isso no meu bar. Somos seres humanos e tem dias e dias. Às vezes um cozinheiro está de mau humor, mas eu falo, “cara, olha só, você ia gostar de ser servido assim? Não. Então, vamos fazer o melhor” — conta Mariana, que se surpreendeu com o primeiro lugar do pódio:

— Tem muito PF bom no Rio, e é muito difícil revolucionar, as opções são muito semelhantes. Mas acho que tem que ter fartura, sabor, tempero. O simples bem feito — defende.

Em vem o Baixela, na segunda quadra da Avenida Rainha Elisabeth da Bélgica, bem perto do Posto 6, em Copacabana. Um cantinho atrás de um portão gradeado, com mesa e guarda-sol na calçada ou dentro do bar. É sentar e olhar a energia do bairro: o vai e vem de carro, morador passeando o cachorro, trabalhador misturado com quem vai à praia, e turista com expressão de quem pergunta alguma coisa para o ar.

— Eu e o Rodrigo sempre trabalhamos em restaurante. A ideia era fazer um com preço justo e comida de qualidade. Eu gosto muito de frango frito e queria colocar no cardápio. A carne assada é um clássico. Os pratos da semana são mais populares, mas menos convencionais. Tem o cozido de fava, dobradinha, moela. Pratos bem brasileiros e de tradição — disse João José Holanda, que toca o Baixela ao lado de Rodrigo Tavares.

O frango a parmegiana de lá, que poderia seguir a receita clássica, tem uma personalidade fortíssima: o filé é de sobrecoxa desossada empanada e o queijo, maçaricado, dando um tostado bem peculiar. Acompanha arroz e purê (ou batata frita), por R$ 42 o prato — para quem gosta muito, pode pedir o feijão e a farofa junto, sem custo adicional.

A ficou com o Bar do Momo, comandado pelo chef Antonio Carlos Laffargue, o Toninho, na Tijuca. O almoço lá tem jeito caseiro da comida ao ambiente. Bem clima de bairro, com chaveiro na esquina, oficina, barraquinha de camelô vendendo guarda-chuva, pano de chão e camisa da seleção brasileira.

É fácil ficar na dúvida do que pedir: contrafilé com fritas (R$ 50), filé de frango à milanesa com maionese ou fritas (R$ 40), isca de fígado com purê (R$ 35) ou o prato da casa, filé de frango e maionese (R$25). Cada dia ainda tem um especial. Naquele, era a carne guisada — receita antiga da família.

— A gente faz do mesmo jeito que minha mãe fazia. Tem toda segunda-feira. Eu trabalho em restaurante desde os 18 anos, com meu pai. Depois comecei meu próprio negócio. Meu filho veio trabalhar comigo, virou chef de cozinha e hoje é referência na gastronomia do Rio. Dá um orgulho danado — conta Tonhão, como é conhecido Antonio Lopes dos Santos, um dos donos e pai de Toninho.

Ele comprou o bar em 1987 do fundador Abrahão Rei, um autêntico rei Momo do carnaval carioca. Até hoje, segue no imaginário do povo.

— Quando eu penso em PF, me vem logo o Momo na cabeça. A carne de panela é a que eu mais gosto. Quando vem com a batata bem corada, então... — diz o sambista Gabriel da Muda, dono do Bar Miudinho, e grande conhecedor de botecos cariocas.

Origens

O prato-feito surgiu no Brasil entre o final do século 19 e início do século 20, em um contexto de urbanização. A origem é associada às casas de pasto e pensões populares que ofereciam refeições quentes, rápidas, fartas e baratas para trabalhadores que tinham pouco tempo disponível para almoçar.

— Com a industrialização, entre as décadas de 1930 e 1950, esse modelo se consolidou, principalmente nas grandes cidades. Cresceu o número de operários, e junto, a demanda por alimentação rápida e acessível fora de casa — comenta Breno Cruz, professor do curso de Gastronomia da UFRJ.

Hoje, o PF se encaixou no jeito de viver do Rio, como analisou o influenciador Marcos Bonder, do blog “Bond Buteco”:

— Sai da praia, pega um PF; depois do futebol, mata um PF antes de ir para casa; vai resolver alguma coisa na rua ou não levou marmita no trabalho, come um PF. É mais prático, despojado, não tem a formalidade de ter a comida toda separada, vem tudo junto — opina Marcos.