RJ em Foco
Trem do Samba chega a sua 30ª viagem e, longe dos trilhos, segue outros caminhos
Projeto que virou uma tradição no Rio durante as comemorações do Dia Nacional do Samba rompeu fronteiras e já fez festa até na França
No próximo sábado, o Trem do Samba fará a sua trigésima viagem, partindo da Central do Brasil com destino a Oswaldo Cruz, levando os sambistas e a tradição do ritmo nascido no terreiro da casa da Tia Ciata, na Praça Onze. Nos três palcos montados no bairro do subúrbio carioca vão se revezar artistas como Leci Brandão, Roberta Sá, Dudu Nobre, Dorina e a Velha Guarda da Portela.
Os festejos começam, na verdade, já na terça-feira, Dia Nacional do Samba, com uma missa em ação de graças pela manhã, celebrada pelo Padre Omar, no Cristo Redentor. A comemoração segue à noite, com um grande festival de rodas de samba, reunindo na quadra da Portela, em Madureira, Terreiro de Crioulo, Samba da Volta e Grupo Arruda.
O projeto inspirado nas viagens de trem de Paulo da Portela — fundador da escola azul e branca, que, no início do século XX, se reunia com outros sambistas nos vagões — foi mais longe do que poderia prever seu idealizador, Marquinhos de Oswaldo Cruz. Tudo começou timidamente com um número pequeno de passageiros. Hoje, mobiliza um público estimado em mais de cem mil pessoas.
Esse número inclui não só os que fazem a viagem de trem, onde a batucada rola solta nos vagões, mas também os que passam pelos palcos montados em Oswaldo Cruz.
Com o sucesso, o trem rumou para outras direções. Criada no ano passado, sua versão itinerante já foi a 11 localidades, incluindo cidades do interior e até mesmo de outro estado, no caso Espírito Santo, onde se apresentou na capital, Vitória. A diferença é que esse trem não viaja pelos trilhos.
— O Trem do Samba tem muito respeito e admiração. Já é conhecido no Brasil todo e fora dele. O projeto itinerante leva esse mesmo conceito para outras localidades — diz Maria Machado, produtora dos dois eventos.
O projeto filhote, que começou a ser elaborado durante a pandemia, ganhou o nome de Trem do Samba nas Estradas e se utiliza de uma estrutura montada no chassi de um caminhão, com camarim e palco. Aonde chega, estaciona numa praça pública e faz acontecer o espetáculo.
—Todo lugar tem uma tradição do samba ou alguém que foi importante para o samba — afirma Marquinhos de Oswaldo Cruz, justificando porque o projeto prestigia a tradição e os talentos locais por onde passa.
Artistas da gema
Quando esteve em Campos dos Goytacazes, no ano passado, o projeto levou Alex Ribeiro, filho de Roberto Ribeiro, sambista nascido na cidade, para relembrar antigos sucessos do pai, morto em 1996. O compositor Aluísio Machado, também campista e um dos maiores vencedores de samba-enredo do Império Serrano, foi outra atração na cidade.
Debutando em Valença este ano, o projeto mergulhou no repertório de Rosinha de Valença e Clementina de Jesus, duas pratas da casa. O mesmo aconteceu em Macaé, onde esteve duas vezes, e revisitou a obra de Benedito Lacerda, que foi parceiro de Pixinguinha e nasceu naquela cidade.
Entre as cidades fluminenses por onde o projeto já passou estão Piraí, no Vale do Paraíba, e Duque de Caxias, na Baixada. Na capital, já se apresentou em vários bairros como Irajá, Vila Isabel e Méier, também mantendo marca de prestigiar talentos locais.
A próxima parada, a última de 2025, será hoje, em Paracambi, onde haverá shows de Marquinhos de Oswaldo Cruz e banda, Grupo Gameleira e Velha Guarda da Portela, além de artistas locais. A expectativa dos organizadores é levar a iniciativa para todo o estado e a outros bairros da cidade no ano que vem. Mas, para isso, ainda dependem de patrocínio.
— A intenção inicial era expandir para outros bairros. Daí veio a ideia de explorar as histórias e a cultura do samba em outras cidades. Foi feito um mapeamento, e a coisa foi acontecendo. Nós contamos a história do Trem do Samba, falo um pouco sobre a história do lugar e abro espaço para os artistas locais — explica Marquinhos.
O sucesso do Trem do Samba já extrapolou também as fronteiras do país. Somente na França já se apresentou seis vezes, sendo a primeira em 2015, nas cidades de Lille e Nice, como parte das comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro. Na ocasião, foram três dias de evento. O auge da festa aconteceu em Nice, onde os representantes do samba reproduziram o tradicional evento carioca num VLT que circula naquela cidade.
Para a cantora Roberta Sá, que vai se apresentar no sábado que vem no Palco Dona Ivone Lara, na Rua Átila da Silveira, em Oswaldo Cruz, o convite veio num momento especial, de comemoração dupla para a artista:
— Participar do Trem do Samba justamente no ano em que ele completa 30 anos, enquanto eu celebro 20 anos de carreira, é muito simbólico para mim. É uma honra, uma alegria profunda e um reconhecimento imenso integrar essa festa que já faz parte do calendário do Rio e da cultura carioca.
A artista, nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, considera que o samba, assim como o Rio, é acolhedor:
— O Trem do Samba celebra esse ritmo que sempre me recebe de braços e sorriso abertos, assim como essa cidade, que me acolheu como se eu tivesse nascido aqui. Estar presente nesse momento é, para mim, realmente especial.
Veja a programação da semana
Cidade do Samba
Escolas do Grupo Especial estão participando de minidesfiles desde a sexta-feira. Hoje será a vez de Paraíso do Tuiuti, Vila Isabel, Grande Rio e Salgueiro. O evento é aberto com show de Zeca Pagodinho. A entrada é franca. Basta levar um quilo de alimento não perecível.
Copacabana
O quiosque Samba Social Clube, no Posto 2, vai inaugurar depois de amanhã as estátuas em tamanho real de Carlinhos de Jesus e Neguinho da Beija-Flor. Vai ter feijoada, servida a partir das 13h, e contará com a presença dos homenageados. A partir das 12h30, tem apresentação da banda Samba Social Clube, com Marcelle Mota. Às 16h30, o público vai curtir o Samba do Mancha.
Mangueira
O Museu do Samba (Rua Visconde de Niterói,1.296) vai celebrar o Dia Nacional do Samba com a inauguração de nova exposição, show e roda de samba. A festa começa amanhã, às 19h, com abertura da mostra “Alvoradas de Cartola”. Na sequência, Flávio Bauraqui apresenta o espetáculo “Cartola vive — um tributo ao mestre”, seguido por uma roda de samba comandada por Ivo Meireles, tendo como convidados Sandra de Sá, Flávia Saolli e Dorina. A entrada é franca, mas é preciso retirar antecipadamente os ingressos na plataforma Sympla.
Oswaldo Cruz
O Trem do Samba parte no sábado que vem, mas antes, como sempre, faz um esquenta num palco montado na Central do Brasil, onde se apresentam Marquinhos de Oswaldo Cruz, as velhas guardas de Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e Vila Isabel e sambistas como Makley Matos, Gisa Nogueira, Didu Nogueira, Osmar do Breque, Ernesto Pires e Marquinhos Sathan, entre outros. Nos três palcos montados em Oswaldo Cruz se apresentam: Samba da Volta, Dorina, Marquinhos Diniz e Dudu Nobre (Palco Mestre Candeia, na Rua João Vicente); Terreiro de Crioulo e convidados e Roberta Sá (Palco Dona Ivone Lara, Rua Átila da Silveira); Velha Guarda da Portela, Marcelinho Moreira com homenagem a Arlindo Cruz, e Leci Brandão (Palco Mestre Monarco, na Praça Paulo da Portela). O trem parte às 18h04. Para embarcar é só trocar um quilo de alimento não perecível pela passagem.
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