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Hemorio recebe novos freezers ultrarrápidos que vão ampliar produção de medicamentos feitos do plasma

Aquisição do Ministério da Saúde trouxe dez 'blast freezers' que congelam plasma em 90 minutos; modernização deve ampliar produção nacional de medicamentos derivados do sangue

Agência O Globo - 28/11/2025
Hemorio recebe novos freezers ultrarrápidos que vão ampliar produção de medicamentos feitos do plasma
- Foto: Ilustração de IA

A Hemorrede do Rio de Janeiro — que reúne todos os serviços dos hemocentros, incluindo o Hemorio, a Fundação Saúde e a Secretaria estadual de Saúde — iniciou nesta semana uma modernização significativa com a chegada de dez blast freezers, equipamentos de congelamento ultrarrápido capazes de resfriar o plasma em 90 minutos. Antes deles, o processo levava cerca de oito horas. A tecnologia, inédita no SUS, faz parte de um pacote nacional de investimentos no sistema público de sangue.

Veja detalhes:

Gil, Alok e João Gomes:

A modernização integra um movimento nacional de retomada do investimento em hemoderivados. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o governo federal está distribuindo mais de 600 equipamentos similares pelo país, em um investimento superior a R$ 160 milhões, voltado a 125 serviços de captação e processamento.

— Estamos entregando freezers de –80°C e –30°C e equipamentos de processamento. Isso aumenta em 30% a capacidade do Brasil de acondicionar plasma com qualidade - disse Padilha. — Durante muito tempo, o país não produzia aqui fatores derivados do plasma e dependia de importação. Esse investimento fortalece a soberania brasileira e amplia o acesso a medicamentos essenciais, como albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação.

Hemoderivados são medicamentos produzidos a partir do plasma humano, a parte líquida do sangue. Eles são essenciais para tratar doenças graves, crônicas e emergenciais — como hemofilia, imunodeficiências congênitas, doenças autoimunes e quadros críticos de grandes queimaduras — por isso são considerados estratégicos para o SUS e para a autonomia sanitária do país.

O ministro destacou ainda que a Emobras, responsável pelo processamento industrial do plasma excedente, já é a maior produtora de imunoderivados da América Latina e que ampliar a qualidade e a quantidade do plasma armazenado é um passo fundamental.

— As imunoglobulinas hoje tratam doenças infecciosas e diversas outras condições. É crucial que o Brasil desenvolva essa tecnologia e reduza a dependência externa- afirmou.

No Rio, o Hemorio — principal unidade da hemorrede — será um dos mais beneficiados pela chegada dos novos equipamentos. De acordo com a diretora técnica, Thais Ferraz, o impacto é direto no processo de fracionamento e no aproveitamento do plasma excedente enviado à Emobras para transformação em medicamentos estratégicos.

— O impacto é a melhora do processo. Quando alguém doa sangue, ele é fracionado em hemácias, plaquetas e plasma. Só cerca de 10% desse plasma é usado para transfusão. O restante é enviado para a Hemobrás, que devolve medicamentos como fatores de coagulação, albumina e imunoglobulina — explicou.

Ela afirma que a maior rapidez no congelamento reduz perdas e melhora a qualidade do plasma encaminhado à produção industrial.

— Se congelamos mais rápido, entregamos plasma de maior qualidade. Conseguimos mandar mais, e, se entrego mais, volta mais medicamento para a população. Esses blast freezers não existiam antes no SUS. É uma virada de chave — afirmou.

Thais acrescenta que outras aquisições também reforçarão a estrutura: freezers de armazenamento a - 30°C e - 80°C, ampliando a capacidade operacional da hemorrede.

Queda nas doações e alerta para o fim do ano

Apesar do avanço tecnológico, o Hemorio enfrenta uma queda de cerca de 10% nas doações em relação ao mesmo período do ano passado, período que historicamente já é considerado crítico.

— Dezembro é um mês difícil. As pessoas viajam, muitas empresas entram em férias coletivas, e ao mesmo tempo aumenta a demanda, com mais acidentes e cirurgias, disse a diretora, que estima que o estado não deve atingir a marca de 100 mil bolsas este ano — diz Thais.

A diretora destaca, porém, que a estrutura interna está modernizada:

— Temos um salão modelo, reformado há cerca de um ano, e tecnologias como o QuNoga, que localiza a melhor veia sem furar o doador. Os novos equipamentos reduzem o trabalho artesanal e permitem operar em maior escala — afirmou.

Secretaria amplia coletas externas

A secretária estadual de Saúde, Claudia Mello, afirmou que dezembro exige mobilização intensa.

— Nessa fase, fazemos fortes campanhas de mídia e redes sociais. É quando o mundo viaja, há réveillon, muitos acidentes e cirurgias grandes. Precisamos de muito sangue — disse.

Segundo ela, a Fundação Saúde também ampliará a estratégia de coleta:

— Temos duas equipes de captação externa e vamos colocar uma terceira. Queremos ir onde as pessoas estão para facilitar a adesão — afirmou.

Claudia destacou que o Hemorio é referência nacional e atua, inclusive, no processamento de bolsas de outros estados.