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Após tiroteio em Botafogo, PM ferido faz apelo ao homem que o socorreu: 'Pediu para eu avisar o filho dele que o amava muito'

Cláudio Marques dos Santos Barcellos realizou, na tarde desta quarta-feira, uma cirurgia para a retirada dos projéteis alojados em seu corpo.

Agência O Globo - 26/11/2025
Após tiroteio em Botafogo, PM ferido faz apelo ao homem que o socorreu: 'Pediu para eu avisar o filho dele que o amava muito'
Após tiroteio em Botafogo, PM ferido faz apelo ao homem que o socorreu: 'Pediu para eu avisar o filho dele que o amava muito' - Foto: Ilustração de IA

A ambulância ainda nem havia chegado à esquina das ruas Visconde Silva e Conde de Irajá, em Botafogo, quando pedestres se mobilizaram para salvar o policial militar Cláudio Marques dos Santos Barcellos, atingido por três tiros durante uma tentativa de assalto na segunda-feira. Em uma ação rápida, Rômulo Azevedo e outros três homens colocaram o agente no carro e seguiram rumo ao Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea.

Internado em estado grave:

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Rômulo, produtor de 36 anos, estava de folga — assim como o policial — e almoçava em um restaurante próximo ao local dos disparos. Já sentado, à espera do pedido, ouviu cerca de 10 tiros e, assustado, foi para a rua ver o que estava acontecendo. A cena era confusa, conta. Três homens feridos estavam caídos na calçada, e não era possível entender o que havia ocorrido. A situação só começou fazer sentido quando um policial reconheceu Cláudio Barcellos, que vestia, por baixo de sua camiseta preta, a farda da corporação.

Bastou saber que o agente era um dos feridos para a movimentação começar. Um dos homens, que participou do resgate, buscou seu carro em uma oficina mecânica próxima e logo o policial foi colocado no banco de trás. Dentro da picape, Rômulo ficou ao lado de Cláudio no assento traseiro, enquanto outro homem ocupava o banco dianteiro e o dono do veículo assumia a direção. Na caçamba, um policial gritava para abrir caminho, enquanto outros dois agentes de moto faziam a escolta e abriam o trânsito.

— Ele pediu para eu avisar o filho dele que o amava muito. E eu falei: “Não, você que vai dar esse recado pro seu filho. Você vai sair dessa” — conta Rômulo, que narra também a tensão durante o percurso: — Ele falou que ia morrer. Dizia que não estava conseguindo respirar e que a barriga estava doendo.

O policial militar é casado com Bruna Barcellos há uma década e, juntos, têm Heitor, de 4 anos. Na tarde de terça-feira, enquanto aguardava mais informações sobre o estado de saúde do marido no Hospital Municipal Miguel Couto, ela contou que agir nessas situações “faz parte do instinto dele”.

Ainda internado, o agente passou por uma cirurgia na tarde desta quarta-feira para retirar os projéteis que estavam alojados em seu corpo — um na região do abdômen, que atingiu alguns órgãos; outro na clavícula; e um nas costas. De acordo com a irmã, Gisele Barcellos, o procedimento foi bem-sucedido, e agora a família aguarda as primeiras 24 horas, que, segundo ela, são essenciais.

'Aqui ninguém morre’

Por ter sido socorrido antes da chegada da ambulância, Cláudio deu entrada no hospital cerca de 40 minutos antes dos outros feridos. Muito preocupado, repetia: “Eu vou morrer, eu vou morrer” e chegou a vomitar. Rômulo conta que uma das enfermeiras que recebeu o agente disse a ele que nada de ruim aconteceria:

— A enfermeira falou para ele: “Aqui não vai morrer ninguém. Aqui ninguém morre”.

O produtor foi embora quando o policial foi encaminhado para a primeira cirurgia, cujo objetivo era estancar o sangramento. Mas voltou ao hospital à noite porque “a cena não saía da cabeça” e ele “precisava saber de mais notícias”. Rômulo ainda mantém contato com a família e aguarda com esperança a possibilidade de reencontrar o agente, quando se recuperar.

— Eu fiz o que deveria ser feito e faria novamente. Sensação de orgulho e de humanidade, muito gratificante. E conta tudo: o abraço da mãe dele, o afeto em meio ao caos. Tudo conta — conclui.

A esposa do agente destaca sua gratidão por Rômulo e pelos outros rapazes que prestaram socorro. Ela acredita que, se eles não tivessem ajudado, talvez seu marido não estivesse vivo hoje.

— Graças a eles, o Cláudio está vivo, porque a ambulância só chegou 40 minutos depois. Ele ficou com a gente no hospital como se fosse da família — diz Bruna.

Entenda o caso

O tiroteio que deixou três feridos na tarde de segunda-feira, na esquina das ruas Visconde Silva e Conde de Irajá, em Botafogo, ocorreu em frente a um restaurante e a um posto de gasolina, a cerca de 350 metros de um colégio particular. Dois homens em uma moto tentaram assaltar um pedestre. O policial militar Cláudio Marques dos Santos Barcellos que passava pelo local, também de moto, reagiu, e houve troca de tiros.

Alexandre Zabeu Menezes de Almeida, de 28 anos, suspeito de participar da tentativa de assalto, morreu na terça-feira. Ele também estava internado no Hospital Miguel Couto, mas, segundo a direção da unidade, não resistiu aos ferimentos. Já o pedestre que era alvo do roubo, identificado como Leandro Rodrigues, foi transferido para uma unidade particular. O estado de saúde dele não foi informado.

Uma testemunha, funcionária de um comércio da rua, relatou que ninguém percebeu o início do assalto, mas todos ouviram a sequência de disparos:

— Foi uma correria generalizada. O ponto de ônibus estava muito cheio e todos ficaram com medo de serem atingidos com uma bala perdida. Infelizmente assaltos se tornaram comuns por aqui.

Enquanto Alexandre Zabeu foi baleado, o outro suspeito conseguiu fugir. De acordo com uma testemunha, ele teria roubado o carro de uma mulher em uma rua próxima durante a fuga.

*Estagiária sob supervisão de Leila Youseff.