RJ em Foco

Justiça autoriza exumação na Tunísia de homem que teria sido morto por 'serial killer' carioca

Primeira audiência de instrução do processo foi marcada para abril de 2026

Agência O Globo - 25/11/2025
Justiça autoriza exumação na Tunísia de homem que teria sido morto por 'serial killer' carioca
- Foto: Reprodução

O Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou a exumação do corpo de Hayder Mhazres, que morreu em maio deste ano. Segundo a Polícia Civil, ele foi assassinado pelas gêmeas Ana Paula Veloso Fernandes, chamada de "serial killer" pelos investigadores, e Roberta Cristina Veloso Fernandes. As irmãs são acusadas de manterem o jovem, de 21 anos, em maio deste ano na capital paulista e depois tentarem aplicar um golpe na família do rapaz.

Morte após feijoada:

'Infelizmente, ele te matou, você deu mole':

O corpo de Hyder foi levado à Tunísia, onde foi sepultado ainda em maio. Por algumas semanas os familiares resistiram à ideia da polícia de exumar o corpo para fazer exames complementares. As análises feitas no sangue coletado no Brasil não apresentaram indícios do uso de venenos. No entanto, os laudos apontam que esse não seria o teste indicado para venenos de rápida metabolização. Esses químicos tendem a se concentrar preferencialmente em tecidos sólidos e vísceras. Por isso, os investigadores defendem ser necessária a exumação.

A família de Hayder então aceitou e autorizou a exumação por escrito. O procedimento será feito por meio de cooperação internacional e vai envolver a polícia de São Paulo, o Ministério das Relações Exteriores, a Embaixada do Brasil na Tunísia e a Interpol, além de autoridades tunisianas locais.

Na mesma decisão, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo manteve a prisão das gêmeas e ratificou que elas são rés por quatro mortes, todas suspeitas de serem por envenenamento. Também foram marcadas as primeiras audiências de Instrução e Julgamento do processo para abril de 2026, quando as testemunhas e as acusadas serão ouvidas pela Justiça. Depois, o Tribunal vai decidir se elas irão a juri popular.

Na ação, a defesa de Ana Paula alegou que a acusação é feita com indícios parciais e imprecisos e sem robustez para sustentar a ação penal. Já os advogados de Roberta Cristina pediram a absolvição da mulher alegando que não há indícios de que ela participou das mortes.

Veja os quatro homicídios que as gêmeas são acusadas de terem cometido:

Marcelo Hari Fonseca

Ana Paula e Roberta alugavam um imóvel nos fundos da casa de Marcelo, de 51 anos, no bairro Vila Renata, em Guarulhos. O corpo foi encontrado em 31 de janeiro deste ano, por volta das 18h, já em adiantado estado de putrefação. Quem chamou a PM para o local foi a própria Ana Paula, que permaneceu em frente à casa de Marcelo acompanhando o trabalho dos policiais. A investigação inicial não apontou a causa da morte do homem, que foi considerada indeterminada.

O inquérito policial foi arquivado em 5 de maio. No entanto, a filha de Marcelo, Giuliana Santana Fonseca, pediu em 26 de maio o desarquivamento do caso. A jovem afirma que Ana Paula limpou a área onde o corpo foi encontrado. A partir do pedido de Giuliana feito pelo advogado Fábio Gerdulo a polícia retoma as investigações. A estudante de Direito é interrogada no 1º DP, em Guarulhos, e confessa ter matado Marcelo.

Prisão de filha

Maria Aparecida Rodrigues

Ana Paula teria sido a última pessoa a ver Maria Aparecida com vida. A vítima foi encontrada morta em casa, sem sinais de violência, em 11 de abril deste ano, em Guarulhos. A morte, a princípio, parecia ter causas naturais. A estudante de Direito, porém, começa a ser envolvida no crime quando a filha de Maria Aparecida, Thayná Rodrigues Felipe, de 24 anos, presta depoimento na delegacia. A jovem conta que a mãe fez amizade com Ana Paula e saiu na noite de 10 de abril com ela, que se apresentava para Maria Aparecida com o nome de Carla.

Linha 3 do metrô, VLTs e despoluição da Baia de Guanabara:

Na noite da véspera da morte, a vítima e Ana Paula foram à casa da universitária, onde Maria Aparecida tomou café e comeu bolo. Roberta, irmã de Ana Paula, estava lá. Quando o corpo da vítima foi encontrado pela tia de Thayná, na manhã do dia 11, a jovem foi ao local. Chegando lá, encontrou Ana Paula, que admitiu ter saído na noite anterior com Maria Aparecida.

As gêmeas, segundo as investigações, ainda teriam tentando incriminar um policial militar e sua esposa pela morte de Maria Aparecida. O agente teve um breve caso amoroso com Ana Paula pouco tempo antes da morte da mulher, mas rompeu o relacionamento.

Neil Corrêa da Silva

O idoso, de 65 anos, seria a terceira vítima de Ana Paula e Roberta. Ele morreu em 26 de abril deste ano, em Duque de Caxias, na Baixada. Segundo a investigação da Polícia Civil de São Paulo, a"s comunicações entre Ana Paula e sua irmã Roberta Cristina Veloso Fernandes — mensagens e áudios recuperados por extração forense — revelam planejamento prévio, divisão de tarefas, discussões sobre pagamento e o emprego de 'código' para se referirem ao homicídio: chamavam de 'TCC' a execução da morte. Em diversos trechos, Roberta orienta Ana Paula a 'cobrar' por futuros 'TCCs', fixa R$ 4.000,00 como “valor mínimo” e recomenda o uso exclusivo de dinheiro em espécie para aquisição de “taxas/insumos”, deixando claro o propósito de dissimular rastros financeiros", afirma o delegado Halisson Ideiao Leite, do 1º DP, num trecho do relatório da investigação ao qual O GLOBO teve acesso.

Polícia Civil mata traficante Matuê,

Por esse crime, também foi presa Michelle, filha de Neil, indiciada pela Polícia Civil. Ela teria envenenado Neil, ao lado de Ana Paula, usando uma feijoada envenenada. A própria Ana Paula admite ter dado comida "batida no feijão" a Neil, num áudio enviado à irmã, e diz que “não conseguiu fazer o TCC como planejado”. Segundo o ex-marido de Michelle contou à polícia, quando Neil passou mal em sua casa, apenas a filha do idoso e Ana Paula estavam na residência. Nesta quinta-feira, o corpo de Neil foi exumado pela polícia para exames que podem apontar se ele foi vítima de envenenamento.

Hayder Mhazres

O tunisiano, de 21 anos, é a última vítima atribuída pela polícia até o momento. O rapaz morreu na noite de 23 de maio deste ano, na capital paulista. Ele começou a passar mal no condomínio onde morava, no bairro do Brás. Ana Paula admitiu um relacionamento com Hayder e estava no condomínio quando ele começou a se sentir mal.

A vítima estava também acompanhada do irmão, Hazem. O Samu foi acionado, e o jovem foi levado para um hospital. Segundo Roberta contou à polícia, a irmã disse a ela que Hayder seria traficante, e que a morte teria sido em decorrência de drogas.

Poze do Rodo será convocado à Alerj

Segundo um amigo de Hayder contou à polícia, Ana Paula dizia estar grávida do tunisiano, embora ele afirmasse nunca ter feito sexo com ela. Segundo o relatório do inquérito, "Ana Paula mantém Roberta informada em tempo praticamente real, inclusive com vídeo de UTI, e, minutos após a confirmação do óbito, ambas retomam temas banais, denotando frieza emocional. Dias depois, Ana Paula chega a simular gravidez em fotografia enviada a familiares de Hayder e remete mensagens em árabe com teor ofensivo/ameaçador, em busca de vantagens".

À polícia, a universitária não confessou ter matado Hayder. O corpo do tunisiano não chegou a ser periciado no Brasil, e foi levado para a Tunísia pela família para ser sepultado.