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Minutos antes de o pai morrer em queda de pico da Tijuca, filha recebe fotos do advogado no passeio pela mata

Paulo Fernando Bandeira da Silva, de 61 anos, morreu no sábado após despencar do alto de uma trilha no Parque Nacional da Tijuca; polícia investiga se ele escorregou ou passou mal durante subida de alta dificuldade

Agência O Globo - 23/11/2025
Minutos antes de o pai morrer em queda de pico da Tijuca, filha recebe fotos do advogado no passeio pela mata
- Foto: Reprodução

A última lembrança que Dominic Bandeira, de 19 anos, tem do pai, o professor de direito penal e advogado Paulo Fernando Bandeira da Silva, chegou às 9h47 de sábado, pelo celular. A filha mais nova recebeu fotos enviadas por ele do alto da trilha do Pico do Tijuca Mirim, na Floresta da Tijuca, Zona Norte do Rio. Minutos depois, Paulo, que tinha 61 anos, escorregou de um ponto elevado do pico e caiu em uma área de mata fechada. Ele morreu na hora, segundo a Polícia Militar. A queda foi de quase 80 metros, de acordo com relatos feitos à família.

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— Meu pai me mandou fotos e, logo depois, a gente não conseguiu mais contato. Minha irmã viu a notícia de que um homem tinha morrido na trilha após cair e presumiu que era ele. Está sendo muito difícil. Ele era uma pessoa incrível — disse Dominic ao GLOBO, emocionada.

Paulo Fernando completou 61 anos no último dia 13 de novembro. Era professor universitário de direito na rede privada e também lecionava história e geografia na rede pública de Goiás e Brasília. A família contou que ele havia se mudado para o Rio no início deste ano e morava com Dominic na Zona Norte. Acostumado a praticar exercícios, tinha retomado recentemente o hábito de fazer trilhas. Ele deixa cinco filhas, de 31, 22, 19 e 17 anos.

— Ele era muito alegre, esperto e brincalhão. Eu e minhas irmãs fomos prioridade na vida dele. Ele voltou para o Rio após pedir licença. Estava aproveitando a vida — afirmou a jovem.

Parentes relataram que Paulo fazia uso de medicamentos controlados, alguns deles capazes de afetar o equilíbrio. Embora a 19ª DP (Tijuca) que investiga o caso ainda não tenha esclarecido a dinâmica da queda, a família acredita que os remédios possam ter contribuído para que ele perdesse a estabilidade no trecho íngreme.

Trilha de alta dificuldade

O acidente ocorreu por volta das 10h, quando Paulo, advogado de formação, fazia a trilha com um grupo de cinco pessoas. Todos, de acordo com a família, eram amigos dele. Segundo o Parque Nacional da Tijuca, o Pico do Tijuca Mirim atinge cerca de 920 metros de altitude em relação ao nível do mar. O ponto exato da queda, em área natural sem mirante ou guarda-corpo, tem entre 40 e 60 metros de altura.

A trilha é classificada pelo parque como de alta dificuldade, com trechos de escalada, forte inclinação e exigência de bom preparo físico. A administração reforça que o percurso não é recomendado sem guia e que muitos visitantes se arriscam sem treinamento adequado. No início do caminho, no Largo do Bom Retiro, novas placas foram instaladas recentemente para alertar sobre os riscos.

Corpo retirado por helicóptero

Paulo integrava um grupo de cinco amigos que subia o Tijuca Mirim. Monitores ambientais que faziam ronda na manhã de sábado encontraram um dos integrantes, que relatou a queda. A equipe acionou imediatamente o Corpo de Bombeiros. Um monitor seguiu até o topo para localizar a vítima, enquanto outro guiou os socorristas do 1º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente (GSFMA) até o ponto de acesso, por volta das 11h30.

Como determina o protocolo em unidades de conservação, os bombeiros só puderam retirar o corpo após autorização da 19ª DP. A área foi preservada até a chegada da perícia. No fim da tarde, o corpo foi içado por helicóptero e levado ao Instituto Médico-Legal (IML).

Investigação

A delegacia da Tijuca informou que já ouviu testemunhas e que as diligências continuam para esclarecer se Paulo escorregou ou passou mal antes da queda. Ainda não há definição sobre a causa da morte.

Em nota, o Parque Nacional da Tijuca lamentou profundamente a morte e anunciou o fechamento temporário da trilha do Tijuca Mirim. A administração reforçou orientações de segurança: avaliar as condições físicas antes de iniciar percursos exigentes, levar água, lanche, repelente e evitar caminhar sozinho, além de atenção redobrada em trechos de escalada e áreas com animais peçonhentos.

A família aguarda o resultado da necropsia e o avanço das investigações para entender o que aconteceu no sábado.