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Daniela Mercury celebra 30 anos da Parada LGBTQIA+ do Rio com show político e homenagens à Preta Gil e Marielle Franco
Artista prepara repertório especial, reforça defesa dos direitos humanos e destaca jovens como força central da luta por igualdade
A cantora Daniela Mercury retorna neste domingo ao trio elétrico da Parada do Orgulho LGBTQIA+ do Rio de Janeiro, que celebra 30 anos em 2025. Figura histórica do movimento no país, ela prepara um show político, com homenagens à Preta Gil e Marielle Franco, reafirmando seu compromisso com a causa, aos direitos humanos e às minorias. Em entrevista ao GLOBO, a artista descreveu o evento como “uma passeata democrática”, ressaltou o papel do público jovem na mobilização atual e lembrou que a luta por igualdade ainda está longe de terminar.
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Para ela, estar na Parada do Rio significa reencontrar uma cidade que ajudou a moldar o movimento no país.
— O Rio sempre foi a cidade da arte e, consequentemente, das lutas — disse. — Aqui, nos anos 70, outros artistas tiveram a coragem de abrir o caminho para a existência plena das pessoas LGBTQIA+. Essa história nos trouxe até aqui.
Homenagens a Preta Gil e Marielle Franco
Daniela adiantou que fará homenagens à Preta Gil, de quem era amiga, e à vereadora Marielle Franco, que esteve ao seu lado no trio na parada em 2018, ano em que a vereadora foi assassinada.
— Preta é uma guerreira, um símbolo de resistência e amor. E Marielle continua sendo um farol. Não há parada no Rio sem lembrar do legado que ela deixou. Honrar essas mulheres é honrar a luta — afirmou a cantora, emocionada.
O repertório de sua apresentação, segundo a artista, foi desenhado para reforçar o caráter político do evento. Ela promete hits e faixas que dialogam com o tema da resistência.
— A parada é uma manifestação pelos direitos humanos. Eu sempre penso na música como ferramenta de transformação, e o show desse ano vai sublinhar isso — destacou.
Ativismo paralelo à carreira
Daniela Mercury lembrou que sua atuação pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ vai além dos palcos. Ela é embaixadora global da campanha Free & Equal, da ONU, e segue como embaixadora do Unicef. Também integra a Comissão Arns, que trabalha há anos pelo avanço de pautas de direitos humanos, e é membro do Observatório de Direitos Humanos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
— Eu e Malu (esposa da artista) fomos catapultadas para esse lugar de ativismo. A visibilidade do nosso casamento teve impacto no Brasil e fora. Isso me trouxe responsabilidades e um compromisso ainda maior — disse. — A gente lutou pela criminalização da homotransfobia, pelo casamento civil e por direitos básicos, como registrar nossos filhos.
Ela aproveitou para anunciar que está divulgando o Formulário Rogéria, voltado ao monitoramento de violações de direitos da população LGBTQIA+. A ação é em homenagem à atriz, maquiadora e transformista brasileira, Rogéria, que morreu em 2017. Conhecida como a "travesti da família brasileira", ela foi uma pioneira na luta pela visibilidade LGBTQIAP+ no Brasil.
Presença do jovem na luta atual
Daniela se emociona ao falar da presença crescente de jovens na parada — muitos deles bissexuais, fluídos, em processo de autoconhecimento e, pela primeira vez, com liberdade para viver suas identidades.
— A juventude tem um papel político gigantesco — afirmou. — Um jovem de 16 anos já vota, já participa da vida do país. Quando ele vai à parada, mesmo que não diga nada, ele está ali como cidadão, defendendo o direito de cada pessoa viver seu corpo e sua identidade com dignidade.
Mas a artista também lembra que grande parte da violência homotransfóbica recai justamente sobre jovens, especialmente negros e pobres.
— Temos uma população enorme de jovens LGBT vivendo em situação de rua por expulsão familiar. A violência é brutal. Por isso educar para os direitos humanos é tão urgente.
“Passeata democrática”
Daniela Mercury reforçou que a parada é, antes de tudo, um movimento político — e não apenas festivo.
— A parada é a maior manifestação democrática do país que junta arte, cultura e defesa dos direitos civis. Ela só existe porque ainda precisamos dizer o óbvio: que ninguém pode ser violentado ou diminuído por quem ama, ou por quem é.
Ela defende que o Brasil deveria adotar mobilizações semelhantes para outros grupos vulneráveis.
— Precisamos de uma parada das mulheres, uma parada contra o racismo. Quando a comunidade LGBTQIA+ ocupa as ruas há 30 anos, ela está dizendo que todas as minorias violentadas deveriam estar conosco.
Daniela aproveita seu lugar no Observatório do CNJ para cobrar mudanças institucionais.
— A violência contra a comunidade LGBTQIA+ não é só social. Às vezes é também violência de Estado. É preciso que agentes públicos, inclusive da segurança e da Justiça, se eduquem para acolher todas as pessoas com suas interseccionalidades. As pessoas mais vulneráveis — negras, pobres, mulheres, pessoas trans — sofrem muito mais. E essa é uma luta de todas as minorias, mas também das maiorias que não concordam com a opressão.
O papel da cultura e da visibilidade
A artista destacou que novelas, séries e produções culturais têm papel central na mudança de percepção da sociedade.
— As artes sempre abraçaram essa luta. A cultura ajuda a trazer para o cotidiano a normalidade de relações entre pessoas do mesmo sexo. Isso é essencial para desmontar preconceitos.
Daniela encerra com um recado direto à população do Rio e do Brasil:
— Quando a gente vai para uma parada, vai como cidadão defendendo a Constituição. Defender a comunidade LGBTQIA+ é defender a democracia. E todo mundo é bem-vindo: quem é da comunidade e quem não é, mas acredita em um país mais justo. A luta é de todos.
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