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Dia da Consciência Negra no Rio tem Largo da Prainha lotado de celebrações em torno do busto de Zumbi
Da Praça Onze ao Largo da Prainha, mas sem deixar de passar pelo Cais do Valongo, turistas, moradores e movimentos culturais transformaram a região em um espaço de memória
O Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira, movimentou o Centro do Rio desde cedo, com diferentes movimentos espalhados pela Pequena África e arredores. Da Praça Onze ao Largo da Prainha, mas sem deixar de passar pelo Cais do Valongo, turistas, moradores e movimentos culturais transformaram a região em um espaço de memória, música e rituais. Cada um a sua maneira, reforçando a importância histórica da data.
Praça Onze Maravilha:
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Ainda pela manhã, o famoso Cortejo da Ciata deu início aos festejos com sua concentração no Terreirinho da Ciata, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian. A caminhada é uma homenagem à Tia Ciata, ialorixá, matriarca do samba e figura marcante da região conhecida como Pequena África. Neste ano, além das centenas de pessoas que tradicionalmente seguem o movimento, o prefeito Eduardo Paes, acompanhado do vice-prefeito Eduardo Cavaliere, reforçaram o movimento, arrastando as milhares de pessoas que se reuniram na quadra da Escola de Samba Estácio de Sá para dentro do cortejo.
Acontece, que enquanto o povo se reunia no Calouste, a Prefeitura anunciava no Estácio o programa Praça Onze Maravilha — uma promessa de revitalização do entorno da Sapucaí. Quem decidiu sair da Rua Benedito Hipólito, local de concentração do cortejo, e passar pela Avenida Presidente Vargas, há poucos metros dali, se deparou com outro movimento, o "Busto do Zumbi". Lá, pessoas de diferentes pontos da capital fluminense aproveitaram uma feira de empreendedores negros de diferentes áreas: moda, artesanato, literatura, entre outros. Além de curtirem uma programação artística diversa, como a apresentação do Bloco Afro Òrumilà.
— A alegria também é arma antirracista. Décadas atrás quase não se falava do 20 de Novembro. Hoje, todo mundo sabe o que representa e já falamos de novembro negro. Mostra como a festa também tem sua importância na luta — disse Luiz Negro Dum, presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine).
Também presente no espaço, estava Bia Nunes, presidente da Associação Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio (Acquilerj). Ela reforçou o simbolismo da festa.
— Dançar, cantar, rir, também é lutar. É mostrar que estamos vivos e presentes. Funciona para pensarmos como estamos avançando a cada ciclo — revelou Bia.
No começo da tarde, o evento também fez uma homenagem para diversas mulheres negras que militam na causa antirracista. Um desses nomes foi Selminha Sorriso, lendária porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis e atual presidente da Escola Mirim Sonho do Beija-Flor.
— Eu fui pega de surpresa. Estava curtindo o evento como espectadora, apenas. Daqui apouco tive meu nome chamado e fui para o palco ser aplaudida pela comunidade negra. Estou emocionada — revelou Selminha.
Embora seja famosa pelos passos de dança e pela defesa elegante do pavilhão da azul e branco da Baixada Fluminense, Selminha faz um trabalho de conscientização racial com milhares de crianças e jovens do município de Nilópolis. Na Sonho do Beija-Flor, ela implementou um modelo de formação do sambista onde há aulas sobre a história negra do Rio de Janeiro e Brasil.
No Cais do Valongo, um dos locais por onde mais se chegaram negros escravizados no Rio de Janeiro, este 20 de novembro também virou alegria e um símbolo de conexão ancestral. Por volta das 15h, um grupo de Macumba Carioca, coordenador pelo pai de santo Felipe Neto, começou a organizar os preparativos para uma gira aberta.
— A ideia da gira aberta é levar um pouco do que fazemos dentro da nossa casa, na Praça XI, para quem por ventura não consegue ir até o espaço ou tem interesse de conhecer a religião. É um movimento que resolvemos começar agora e essa data é muito significativa — contou Felipe.
Felipe também conta que Macumba Carioca não é um termo pejorativo para Umbanda. Na verdade, é um conjunto de práticas religiosas de matriz africana desenvolvido no território carioca no fim do século XIX. De acordo com ele, muitos estudiosos defendem que o culto tenha sido uma das principais bases para o que veio a se tornar a umbanda. Um pouco mais adiante, o Largo da Prainha se mostrou como outro ponto histórico marcado por celebrações do dia. Restaurantes cheios ao som de samba criaram um clima de celebração espontânea.
— Viemos até o Largo da Prainha para estar próximos da nossa história em um dia tão importante para nosso povo. É muito legal ver como a gente consegue ressignificar um ponto de escravatura, em um lugar de pertencimento e alegria — disse Márcio Costa, que foi até a Pequena África acompanhado da esposa Rosangela Bleque.
Os movimentos reafirmam a Pequena África como território fundamento da história negra no Rio. Assim, entre sorrisos, ritmos e lembranças, a data voltou a mostrar como a celebração e a resistência caminham juntas no coração da cidade.
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