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Alerta da Fiocruz: Rio tem explosão de 44% em casos graves de síndrome respiratória; entenda
Vírus da Influenza já responde pela maioria dos óbitos no estado; capital monitora 7,6 mil registros de síndrome respiratória e reforça vacinação. Crianças pequenas e idosos seguem como grupos mais vulneráveis.
O estado do Rio de Janeiro vive um dos cenários mais preocupantes dos últimos anos em relação às doenças respiratórias. Um levantamento do InfoGripe, da Fiocruz, mostra que, até o início de novembro, foram registrados 13.172 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — um aumento de 44% em relação ao mesmo período de 2024, quando houve 9.187 notificações. O número de óbitos também assusta: 713 pessoas morreram no estado em decorrência da síndrome neste ano.
Operação contra receptação de celulares
Após um ano na federal de Campo Grande,
Segundo os especialistas, a SRAG é uma possível consequência de diferentes doenças contagiosas, como a gripe e a covid-19, porém nem toda pessoa com alguma dessas infecções irá desenvolver um quadro grave.
Mortes se concentram nos idosos
A análise identifica ainda que os idosos acima de 65 anos são o grupo mais vulnerável à letalidade da doença: 467 dos 713 óbitos totais por SRAG (65,5%) ocorreram nessa faixa etária. Para identificar os agentes causadores, 301 dessas mortes tiveram o resultado laboratorial positivo para contaminação por vírus respiratório. Neste grupo de casos confirmados, o Influenza A demonstrou ser o vírus mais letal, sendo responsável por 54% das ocorrências, o que corresponde a 163 mortes confirmadas.
Entre crianças menores, especialmente de 0 a 2 anos, outro vírus preocupa. O Rinovírus, geralmente associado a resfriados comuns, provocou 28 mortes, sendo 11 de bebês que ainda não possuem sistema imunológico plenamente desenvolvido.
A pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e coordenadora do InfoGripe, explicou a metodologia utilizada no monitoramento: — São os casos graves desses vírus respiratórios, como Influenza, Covid-19 e Vírus Sincicial Respiratório, que obrigatoriamente requerem hospitalização e, portanto, precisam ser notificados numa base de dados nacional — detalhou.
Segundo ela, modelos estatísticos corrigem atrasos de notificação e permitem acompanhar em tempo real o crescimento dos casos para emitir alerta.
— O Rio de Janeiro está acima de um limiar alto nas duas últimas semanas, com tendência de aumento no número de novos casos de SRAG. Por isso que o consideramos em risco. Das 27 capitais mapeadas, três delas estão em alerta: Rio, Mato Grosso e Pará — afirmou.
Frio, tempo seco e ambientes fechados impulsionam a transmissão
Tatiana Portella, destacou que fatores ambientais e comportamentais contribuem para o cenário de alta dos casos.
— Durante o inverno as pessoas acabam ficando mais tempo em ambientes fechados e com maior aglomeração. Pode ser que essas alterações climáticas que a gente tem observado esse ano sejam um dos fatores que contribuíram para essa alta de casos, mas com certeza não é o único — explicou.
Com o aumento expressivo de Rinovírus — um vírus que causa a maioria dos resfriados comuns — entre crianças pequenas, Portella reforça o alerta para os pais:
— Muitas vezes o vírus pode causar um sintoma leve em adultos, mas nas crianças pequenas ele pode levar ao agravamento. Por isso, as orientações incluem: o isolamento de quem estiver com sintomas; o uso obrigatório de máscara caso o isolamento não seja possível; não levar crianças sintomáticas à escola; evitar visitas a bebês — especialmente menores de seis meses — sem máscara e cuidados; e manter a vacinação em dia, sobretudo contra a Influenza.
A especialista detalha que o Rinovírus pertence à família Picornaviridae e ao gênero Enterovirus. Ele é altamente contagioso e se espalha facilmente de pessoa para pessoa, principalmente através de gotículas no ar ou ao tocar superfícies contaminadas e depois tocar o rosto.
Na Tijuca, Sulamita Teixeira, de 35 anos, enfrentou a internação da filha de cinco anos, asmática, durante uma semana após um agravamento rápido do quadro respiratório. Ela conta que ainda não havia levado a criança para tomar a dose anual da vacina contra a gripe.
— A gente nunca sabe quando estará correndo risco. Aprendi a lição: sempre vacinar e tomar todos os cuidados possíveis — disse.
Capital monitora 7,6 mil casos
O cenário estadual se reflete na capital. A Secretaria Municipal de Saúde acionou alerta máximo e acompanha 7.633 casos de síndrome respiratória. Desses, a cidade registrou 5.755 confirmações de por vírus respiratório entre janeiro e 15 de novembro e já ultrapassou a marca de 900 casos graves, que necessitam de internação — em 2024, foram pouco mais de 700.
Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, 37% dos casos monitorados na cidade são provocados por Influenza A, o que aumenta a pressão sobre a rede hospitalar. Como os quadros graves exigem internação, há preocupação com a necessidade de abertura de novos leitos.
— Essa é a nossa maior preocupação. Tivemos ano passado mais de 700 casos e, em 2025, já passamos dos 900 casos de síndrome respiratória. Isso preocupa muito porque são casos que requerem internações. O que requer mais leitos disponíveis — afirmou.
Apesar de deter a maior cobertura vacinal do estado, com 49,7% do público vacinado contra a gripe, a capital ainda opera abaixo do ideal. Para ampliar o acesso, a prefeitura intensificou as ações e colocou uma van itinerante para vacinação, com passagens por hotéis e aeroportos. A dose está liberada para qualquer pessoa acima de seis meses, mediante apresentação de documento com foto.
O infectologista Marcos Junqueira do Lago, professor da UFRJ, destaca que crianças e idosos devem permanecer no centro da vigilância sanitária. Embora os casos se concentrem principalmente nos pequenos — especialmente até 4 anos —, a letalidade é muito mais elevada entre os mais velhos.
Segundo ele, o sistema imunológico infantil, apesar de eficiente, ainda não tem "memória suficiente" para reconhecer vírus como o Rinovírus. Já em idosos, ocorre o processo de imunossenescência — processo em que há perda gradual de resposta imunológica.
— Ele (Influenza) é o mais agressivo de todos. E é positivo isso, porque é o que a gente tem vacina. Quem toma a vacina da gripe anualmente tem risco dez vezes menor de ter uma síndrome respiratória pela gripe.
A análise da mortalidade de 2025 confirma essa dinâmica: quase 50% dos óbitos foram causados por Influenza A, seguido de Covid-19 (23,76%) e Rinovírus (14,6%).
Sobre o Rinovírus, Junqueira explica que ele circula durante todo o ano, sem sazonalidade clara, e pode gerar surtos locais.
— As crianças são mais suscetíveis porque nascem com um sistema imunológico excelente, mas sem memória. O idoso é o oposto: ele conhece os vírus, mas o sistema imunológico já está frágil.
Em outro ponto da cidade, na Zona Oeste do Rio, a faxineira Maria do Rosário de Souza viu o pai, Francisco de Souza, de 85 anos, ficar internado por duas semanas após contrair Influenza e apresentar dificuldade intensa para respirar.
Ela credita a recuperação dele aconteceu graças ao cronograma vacinal que estava em dia: — Sabemos qual é a importância de se vacinar. Vacina salva vida, como salvou a do meu pai.
Máscara, isolamento e afastamento escolar seguem recomendados
Diante do crescimento de casos, especialmente entre crianças de 0 a 2 anos, especialistas reforçam medidas de prevenção. A orientação é que adultos e adolescentes com sintomas gripais evitem contato com bebês, usem máscara e permaneçam em isolamento sempre que possível. Crianças com sinais de infecção não devem ser levadas à escola.
A vacinação contra a gripe, embora não proteja contra o Rinovírus, é vista como essencial para impedir sobrecarga da rede e reduzir mortes por Influenza.
Quando procurar atendimento
Resfriado comum: mal-estar, coriza, espirros, tosse, dor de garganta.
Infecção moderada: sintomas anteriores + febre acima de 37,8°C.
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG): febre, sintomas respiratórios + dificuldade para respirar, saturação abaixo de 95% e respiração acelerada. Comum em pessoas com doenças respiratórias crônicas como asma e bronquite.
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