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Transferidos do Rio, sete chefes do CV já estão em celas da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, no Sul do país

Grupo ficará isolado por 50 dias sem receber visitas. Presos poderão ser redistribuídos, posteriormente, para outras unidades federais

Agência O Globo - 12/11/2025
Transferidos do Rio, sete chefes do CV já estão em celas da Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, no Sul do país
- Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Sete chefes do tráfico do Comando Vermelho(CV), suspeitos de ordenar a instalação de barricadas em atos de retaliação à megaoperação policial, realizada no dia 28, nos Complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, foram transferidos para fora do estado e já estão na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, no Região Sul do país. Os detentos saíram do Complexo de Gercinó, na Zona Oeste, por volta das 11h. A viagem foi feita em um avião da Polícia Federal com escolta de policiais penais federais, da Secretaria Nacional de Políticas Penais(Senappen).

Atrás das grades:

Monitorado por câmeras e com celas individuais:

A penitenciária é a mesma onde está preso outro velho conhecido da polícia do Rio de Janeiro. Trata-se do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Ele inaugurou a unidade, em 2006, e após passar por outros presídios federais, num sistema de revezamento, retornou ao presídio, onde está recolhido em uma das celas. Apesar disto, os sete detentos transferidos não terão contato com Beira-Mar. Todos os internos ficam em celas individuais, separadas umas das outras. Além disto, de acordo com o regulamento da Senappen, responsável pelas unidades penais federais, após a chegada ao presídio do Paraná, os chefes do CV ficarão isolados por pelo menos 50 dias. No período, eles não poderão receber visitas de parentes ou ter contato com outros presos, e só tomarão banho de sol em espaços conhecidos como solários individuais.

Nos primeiros 20 dias na unidade, chamados de tempo de adaptação, cada preso é informado dos seus direitos e deveres. Após o período, parentes do interno poderão requerer um pedido de visitas, que será examinado por 30 dias, até ser aceito ou não. Durante os 50 dias, no entanto, eles poderão ter acesso a livros disponibilizados na biblioteca do presídio.

Segundo a Senappen, nas penitenciárias federais, cada preso ocupa uma cela individual e permanece 22 horas por dia em regime de isolamento. O preso tem duas horas de banho de sol, sob monitoramento permanente por equipes da Polícia Penal Federal, com uso de tecnologia de vigilância. A entrada de alimentos vindos de fora é proibida. Todos os itens de higiene, alimentação e vestuário são fornecidos pelas próprias unidades prisionais.

O detento ainda é revistado todas às vezes que deixa o seu dormitório. O xadrez também é revistada sempre que o preso se retira do local para outro ambiente. Já a comunicação com familiares, amigos e advogados, quando é permitida, deve ser feita por parlatório ou por videoconferência. O regulamento prevê ainda que ele não tenha acesso a meios de comunicação externos. Por isso, não há televisão e nem tomada em cada uma das celas. Já a energia do chuveiro e das lâmpadas são ativadas e desativadas em horários determinados.

Investigação:

Com a operação de transferência desta quarta-feira, o Rio de Janeiro passa a ser o estado com o maior número de presos sob custódia federal, totalizando 66 custodiados de alta periculosidade. Somente em 2025, 19 novas inclusões foram realizadas no Sistema Penitenciário Federal (SPF). Segundo a Senappen, os presos ficarão custodiados inicialmente na Penitenciária Federal em Catanduvas. Eles serão alocados de acordo com um mapa estratégico de distribuição de presos, que é realizado pelo setor de inteligência da Polícia Penal Federal. Posteriormente, poderão ser transferidos e redistribuídos para outros presídios federais. 

Sem o equipamento:

Veja abaixo, os nomes dos sete detentos transferidos para a Penitenciária Federal de Catanduvas.

Marco Antônio Pereira Firmino, o My Thor, é citado em processos como chefe do tráfico no Morro Santo Amaro, no Catete, na Zona Sul. Ele está preso há mais de 23 anos.

Arnaldo da Silva Dias, o Naldinho, foi condenado por tráfico e homicídio a mais de 50 anos de prisão. Ele é apontado como chefe de favelas em várias cidades do Sul Fluminense e porta-voz do CV, sendo responsável por levar as ordens do topo até a base da facção.

Fabrício de Melo de Jesus, o Bicinho, é a pontado em processos como chefe do tráfico do bairro Dom Bosco, em Volta Redonda. Integrante de uma comissão do CV, responde a crimes de tráfico e de homicídio. Ele foi condenado a uma pena de 26 anos de prisão por envolvimento no assassinato de um homem que teve o corpo jogado no Rio Paraíba do Sul.

Carlos Vinicius Lirio da Silva, o Cabeça da Favela do Sabão, em Niterói, foi apontado pela Polícia Civil como o mentor de um plano de usar uma aeronave para tirar bandidos da cadeia em Bangu, em 2021. Ele próprio seria um dos alvos do resgate, já que, na ocasião, cumpria pena no Complexo Penitenciário de Gericinó.

Eliezer Miranda Joaquim, o Criam. Apontado pela polícia como um dos sucessores de Elias Maluco, é dos chefes do tráfico na Baixada Fluminense. Criam tem 27 anotações criminais e uma ficha que inclui tráfico de drogas, homicídios, sequestros, formação de milícia privada e organização paramilitar. Ele já foi condenado a 60 anos de prisão por um ataque ocorrido em 2007, quando, junto a outros seis comparsas armados com fuzis e escopetas, executou um morador que se opunha à instalação de bocas de fumo em São João de Meriti.

Alexander de Jesus, o Choque. Também conhecido como Coroa, é integrante da cúpula do CV e apontado como chefe do tráfico em Manguinhos, na Zona Norte do Rio. Em agosto desse ano, ele foi autorizado a realizar uma cirurgia no Hospital Samaritano, unidade de alto padrão em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Já passou por unidade de alta periculosidade federal, em Mato Grosso do Sul.

Roberto de Souza Brito, o irmão Metralha. Apontado pela polícia como integrante do segundo escalão do Comando Vermelho, com atuação no Complexo do Alemão. Ele foi preso por tráfico em 2007, condenado a 50 anos, 2 meses e 20 dias.