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Eventos extremos devem se tornar mais frequentes, alerta meteorologista após ciclone no Rio

Ciclone extratropical provocou mais de 230 ocorrências atendidas pelos bombeiros e derrubou 108 árvores na capital fluminense

Agência O Globo - 10/11/2025
Eventos extremos devem se tornar mais frequentes, alerta meteorologista após ciclone no Rio
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

A passagem de um ciclone extratropical causou impactos expressivos em diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro. No último fim de semana, os ventos intensos resultaram em 239 acionamentos do Corpo de Bombeiros e derrubaram 108 árvores apenas na capital. A sequência de ocorrências acende um alerta para a intensificação dos fenômenos climáticos extremos.

De acordo com a meteorologista Andrea Ramos, a população deve se preparar para a maior frequência desse tipo de evento. “A intensidade das chuvas e dos ventos, que chegaram a 70 km/h, é reflexo direto do que a ciência já denomina de ‘era dos extremos’”, explica a especialista.

— É uma tendência. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), estamos vivenciando cada vez mais extremos climáticos, que também se intensificam e aumentam em frequência — alerta Andrea Ramos.

Segundo a meteorologista, o que foi sentido em todo o Estado do Rio foi a influência da frente fria associada ao ciclone, que, mesmo sem atingir diretamente a cidade, provocou a queda de centenas de árvores e muros.

— O ciclone extratropical recebe esse nome por se formar e permanecer em alto-mar. Ele é organizado por dois fatores principais: o vento na faixa litorânea, que pode registrar rajadas de até 100 km/h, e a formação de uma frente fria, responsável pelas chuvas — detalha Andrea Ramos.

A especialista destaca que o aumento da temperatura média global e a frequência de eventos extremos já são efeitos observáveis. Ela lembra que 2024 foi o ano mais quente já registrado e que o primeiro semestre de 2025 segue a mesma tendência.

— Independentemente de acreditar ou não nas mudanças climáticas, dois efeitos já estão em curso: o aumento da temperatura e a intensificação dos eventos extremos, como presenciamos ontem — pontua.

Embora pareçam raros no Brasil, os tornados, frequentemente relacionados a ciclones, não são incomuns. A Região Sul do país, junto com Argentina e Paraguai, está entre as áreas de maior incidência de tornados na América do Sul.

Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou mais de 200 tornados no Brasil entre 1990 e 2011, colocando o país entre os líderes mundiais em ocorrência desse fenômeno, atrás apenas dos Estados Unidos.

O estudo ainda aponta que a intensificação dos sistemas de baixa pressão, como o ciclone extratropical, está diretamente ligada ao aumento das condições favoráveis para eventos extremos. No Brasil, tornados de maior intensidade — classificados como F4 ou EF4, com ventos entre 333 km/h e 418 km/h — são raríssimos, mas já foram registrados, representando o ápice da força desses eventos no país.