RJ em Foco
‘Forasteiros’ encastelados: CV dá proteção a Bandidos de fora
Esses QGs são reforçados com centenas de fuzis, bunkers e tecnologia capaz de monitorar a entrada da polícia.
A megaoperação policial que aconteceu no Alemão e na Penha e deixou 117 suspeitos mortos escancarou a dimensão da presença de criminosos de outros estados nos quartéis-generais do Comando Vermelho na capital fluminense. Durante a incursão nas comunidades, ficou claro que “forasteiros” não apenas comandam o crime organizado sob proteção nos grandes complexos, como também participaram do confronto com a polícia na tentativa de defender o território dominado pela facção.
Quem dita torturas, o especialista em 'propinas' e o general da guerra:
'Solta o moleque':
Além dos complexos da Penha e do Alemão, o CV tem na Rocinha e na Maré outras de suas principais fortalezas. Esses QGs são reforçados com centenas de fuzis, bunkers e tecnologia capaz de monitorar a entrada da polícia. É justamente por causa desse aparato que criminosos de várias partes do país passaram a buscar comunidades cariocas como refúgio para exercer sua atividade criminosa à distância.
Entre os suspeitos mortos, 13 eram do Pará, sete do Amazonas, seis da Bahia, quatro do Ceará, quatro de Goiás, três do Espírito Santo, um do Mato Grosso e um da Paraíba.
‘É como em uma empresa’
De acordo com o promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Rondônia, Anderson Batista de Oliveira, o movimento de levar lideranças do CV de outros estados para o Rio tem como objetivo “proteger seu ativo sensível geograficamente”:
— O Comando Vermelho passou, de uns três ou quatro anos para cá, a proteger seu ativo sensível geograficamente nas favelas do Rio. Enquanto os protegidos ficam em locais de difícil acesso, permanecem nos outros estados os soldados, necessários para manter o controle dos territórios dominados — e que, se morrerem, são facilmente substituídos. Quando uma liderança importante é presa, há impacto direto nas atividades da facção. É como em uma empresa: você tem um gerente sênior e não quer alta rotatividade; não quer perder quem já está alinhado com a estratégia.
Via-crúcis no IML:
De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público do Rio, Fabio Corrêa, tornou-se rotineiro receber pedidos de colaboração de outros estados para a realização de capturas e operações em favelas cariocas:
— As facções do Rio conseguiram desenvolver um domínio territorial armado tão forte que acabam estimulando a vinda de criminosos de outros estados. Eles sabem que há uma dificuldade muito maior de sofrer repressão policial dentro dessas áreas.
Abrigado em um dos QGs do Comando Vermelho, Anastácio Paiva Pereira, de 36 anos, comandou um esquema criminoso para interferir nas eleições de Santa Quitéria, no Ceará, que fica a mais de 2,5 mil quilômetros da capital fluminense. Uma denúncia do Ministério Público Eleitoral aponta que, durante cerca de dois meses do ano passado, um grupo liderado por Pereira fez ameaças e expulsou moradores que demonstraram apoio ao candidato que concorria com José Braga Barroso. Em grupos de WhatsApp, os criminosos se articulavam para coagir eleitores do município. O traficante chegou a enviar um comparsa, Daniel Claudino dos Santos, para realizar missões na cidade.
Presidente de clube de tiro, dono de loja de armas, armeiro:
Foi de Daniel que uma eleitora, apoiadora do candidato rival, recebeu a mensagem: “Lindo vai ser sua cara quando nós pegarmos e deixar toda furada de bala.” A ameaça é apenas uma das dezenas atribuídas ao grupo. Eles também ordenavam que fossem pichados os locais onde houvesse fotos do candidato Tomás Figueiredo e que fossem quebrados carros, motocicletas e bicicletas com qualquer alusão ao político.
Segundo o MPE, Anastácio foi o autor intelectual e mandante dos crimes. Ele continua foragido da polícia, com dez mandados de prisão em aberto. Após a investigação do caso, o prefeito José Braga Barroso, o Braguinha (PSB), que conseguiu ser reeleito, foi cassado. Nova eleição aconteceu na semana passada: o vencedor, com 53,21% dos votos, foi Joel Barroso (PSB), filho de Braguinha.
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