RJ em Foco

Megaoperação: 54 mortos eram de fora do Rio; alguns lideravam o Comando Vermelho em outros estados

Perícia identifica 109 dos 117 suspeitos mortos; maioria tinha antecedentes criminais graves

Agência O Globo - 01/11/2025
Megaoperação: 54 mortos eram de fora do Rio; alguns lideravam o Comando Vermelho em outros estados

Três dias após a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, a força-tarefa de peritos do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, no Centro, identificou 109 dos 117 suspeitos mortos. Em entrevista concedida ontem pela manhã, o secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, detalhou a lista com base nos 99 nomes conhecidos até então — número tratado como oficial pela corporação até a noite. Segundo Curi, 78 dos mortos possuíam ficha criminal por crimes graves, como homicídio, tráfico de drogas, organização criminosa e roubos. Destes, 42 tinham mandados de prisão em aberto.

Forasteiros e lideranças do crime

O número de criminosos vindos de outros estados chama atenção: pelo menos 54 dos mortos eram de fora do Rio. Alguns foram apontados como líderes do Comando Vermelho (CV) em seus estados de origem. Segundo o secretário, havia 13 criminosos do Pará, sete do Amazonas, seis da Bahia, quatro de Goiás, quatro do Ceará, três do Espírito Santo, um do Mato Grosso e um da Paraíba.

— Alguns exemplos muito sensíveis que eu vou trazer para vocês aqui. Do Espírito Santo, Russo, chefe do tráfico em Vitória. Do Amazonas, Chico Rato e Gringo, chefes do tráfico em Manaus. Da Bahia, Mazola, chefe do tráfico de Feira de Santana. De Goiás, Fernando Henrique dos Santos, chefe do tráfico naquele estado — afirmou Felipe Curi.

Curi destacou ainda que a região alvo da megaoperação ganhou relevância nacional para a facção:

— Os complexos da Penha e do Alemão, até a ocupação de 2010, eram o QG (quartel-general) do Comando Vermelho apenas no Rio. Hoje, esses locais se tornaram o QG nacional da facção. É desses complexos que partem ordens, decisões e diretrizes para outros estados.

Da lista divulgada, nenhum dos mortos havia sido denunciado pelo Ministério Público do Rio na investigação que fundamentou a ação policial.

Um dos nomes apresentados é o do capixaba Alison Lemos Rocha, o Russo, de 27 anos. Segundo a polícia do Espírito Santo, ele era chefe do tráfico no bairro Barro Branco, município de Serra, na Grande Vitória.

Lideranças perigosas

Francisco Machado dos Santos, o Macaco, era apontado como um dos líderes do tráfico em Manaus. Em janeiro, chegou a ser preso com sete armas de fogo e drogas. Contra ele, havia dois mandados de prisão em aberto: um por homicídio qualificado, com condenação de 20 anos (ainda não transitada em julgado), e outro por posse ilegal de arma e tráfico, já com sentença definitiva.

Rafael Correa da Costa, o Rafael Sorriso, era considerado o número 1 do CV em Abaetuba, no Pará, acumulando cinco mandados de prisão por extorsão, assalto à mão armada e homicídio. Foragido, era classificado como “altamente perigoso” pela polícia paraense.

De Goiás, Marcos Vinícius da Silva Lima era chefe do tráfico em Itaberaí e teria se mudado para o Rio no final do ano passado. Do mesmo estado, Keven Vinicius Sousa Ramos tinha mandado de prisão após condenação a nove anos por tráfico de drogas.

Outro nome citado é Adan Pablo Alves de Oliveira, de 28 anos, com mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Criminal de Trindade (GO), condenado a 16 anos por assassinato e considerado foragido.

Brendon Cesar da Silva Souza respondia por participação em dois assaltos a ônibus e chegou a ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Em um dos assaltos, em 2019, ele e comparsas morderam o dedo de um passageiro para roubar uma aliança.