RJ em Foco
Megaoperação no Rio: Rede de atendimento assiste famílias no IML e destaca dificuldades
Ação policial nos complexos da Penha e do Alemão deixaram 121 mortos
Pelo terceiro dia, famílias das dezenas de mortos na megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na última terça-feira, aguardam por informações e tentam reconhecer e liberar os corpos, todos levados para o Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio. No meio da tarde desta sexta-feira, integrantes da Rede de proteção de Atenção a pessoas Afetadas pela Violência do Estado (RAAVE) se organizaram para levar café e suco para quem aguardava para fazer o reconhecimento e a liberação dos corpos.
Quem dita torturas, o especialista em 'propinas' e o general da guerra:
Longe, mas perto:
Dejany Ferreira dos Santos, coordenadora técnica, ao lado de Guilherme Pimentel, conta que a pressão das famílias, em especial das mães que perderem seus filhos na ação policial e das que integram a rede, para mudanças no atendimento. Uma das principais queixas era de como os corpos eram apresentados às famílias durante o reconhecimento e por alguns estarem fora das geladeiras, dado o alto número, uma vez que os óbitos passaram de 120.
— Estamos aqui todos esses dias para prestar auxílio às famílias, incluindo atendimentos psico-sociais. Se não tiver pressão dos militantes dos Direitos Humanos, de grupos sociais, da Defensoria Pública, seria pior do que aconteceu. E vamos continuar até o processo terminar. O objetivo, nesse momento, é prestar esse acolhimento, as primeiras orientações, e garantir o sepultamento digno para todo mundo — destacou a coordenadora.
Balanço da megaoperação na Penha e no Alemão:
Entre os serviços, está o de translado dos corpos, de mortos que são oriundos de outros estados ou municípios fluminenses. Uma das famílias que estavam no IML na tarde desta sexta-feira tentava resolver a ida do corpo de um parente para Cabo Frio, na Região dos Lagos.
— O nosso trabalho aqui é mitigar algo que já foi dado, já foi feito. É uma tentativa de reparação de toda essa violência. O trabalho em rede com as instituições chegaram aqui juntar para auxiliar essas famílias diante desse horror, que foi o que a gente teve aqui. Teve gente que teve a cabeça decapitada, e a mãe reconhecer o corpo sem cabeça. Outros casos com a pele esverdeada, por não estar na geladeira. Não conseguimos dizer, hoje, se há espaço para todos os corpos, e é algo que precisa ser revisto, tendo em vista que o que aconteceu aqui não foi nenhum acidente da natureza, não foi nenhum acidente que passou, foi o próprio Estado o gerador disso, dessa brutalidade, dessa violência. E as famílias são revitimizadas quando chegam num espaço assim. Tem algo desse horror que precisa ser dito — destaca Dejany.
'Solta o moleque':
De acordo com a RAAVE, o número de mortos tende a subir, uma vez que moradores relatam terem vistos novos corpos em área de mata no Complexo da Penha, região que na última quarta-feira foi marcada pelo recolhimento de dezenas de mortos na área conhecida como Vacaria, trecho mais isolado. Hoje, o Governo do Estado contabiliza 121, dos quais quatro policiais e, mesmo ainda sem o reconhecimento dos 117 restantes, diz serem de criminosos. Para Dijany, o dado total já ultrapassou 130.
— Tem uma questão da gratuidade que não tem direito a velório, e isso é uma violação, uma violência diante de algo que é da nossa cultura. Nós necessitamos fazer o velório, passar aquele momento ali com aquele ente, aquele familiar. Vivenciamos algo muito difícil que foi a pandemia (de Covid-19), em que houve uma impossibilidade de velar para depois enterrar — aponta a coordenadora da RAAVE.
CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO
A equipe da RAAVE destaca que não teve acesso permitido ao prédio do IML para prestar apoio e acolhimento às famílias. Também nesta sexta-feira, primeiro as famílias passam por uma triagem no Detran, prédio ao lado do IML, e só depois, até dois parentes podem entrar no IML para fazer o reconhecimento do corpo. Os demais esperam por notícias na calçada, separados pelo muro baixo gradeado.
— Eles não fazem esse trabalho, e quando chega uma rede que tem muitas mães, que estão acolhendo, dando esse abraço, verificando, trocando, falam que não dá, que não pode, que é preciso sair. Estão impedindo de dar o mínimo de dignidade nesse momento de tamanha dor. Não pode negar o luto, que é a perda do ente querido. Que nesse momento não interessa quem seja, a família está enlutada — conta Dejany. — Tem ainda a violência de como ocorre essa perda. Muitas mães falaram: "se chegou perto o suficiente para cortar na faca, por que não prendeu?"
Instantes depois, uma integrante da RAAVE foi ao pátio do IML pedir por apoio médico. Uma mulher, parente de um dos mortos, desmaiou ao lado de fora do prédio. Apenas assim foi autorizada a entrada só profissional que atua em parceria com a rede. A mulher foi acolhida e recebeu atendimento na porta do prédio do instituto.
Procurada, a Polícia Civil não respondeu aos questionamentos.
Via-crúcis no IML:
Perícia independente
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, que esteve nos complexos da Penha e do Alemão e na Assembleia Legislativa, classificou a ação policial como “um fracasso”, num contraponto ao que disse o governador Cláudio Castro, que considerou a operação “um sucesso”. Macaé disse ainda que está empenhada em garantir uma para averiguar as circunstâncias das mortes.
Operação Contenção
A ação, realizada pelas polícias Civil e Militar, deixou 121 mortos confirmados, sendo quatro policiais e 115 suspeitos de envolvimento com o tráfico, segundo as corporações. Outros 113 presos e 10 adolescentes apreendidos também foram contabilizados, além da apreensão de 118 armas — entre elas 91 fuzis.
Considerada a mais letal da história do país, a Operação Contenção teve como alvo criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV). Segundo o secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, o número de mortos ainda pode aumentar, já que os corpos são registrados conforme dão entrada no IML ou em unidades hospitalares.
Presidente de clube de tiro, dono de loja de armas, armeiro:
‘Nenhum bandido importante no Brasil mora em uma favela’,
Mais lidas
-
1DEFESA NACIONAL
'Etapa mais crítica e estratégica': Marinha avança na construção do 1º submarino nuclear do Brasil
-
2CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
3ECONOMIA GLOBAL
Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
-
4REALITY SHOW
'Ilhados com a Sogra 3': Fernanda Souza detalha novidades e desafios da nova temporada
-
5DIREITOS DOS APOSENTADOS
Avança proposta para evitar superendividamento de aposentados