RJ em Foco
Com drones e câmeras, CV monitora comunidades e a polícia: 'Tem que se adequar à tecnologia', diz investigado
Denúncia do Ministério Público do Rio descreve uso dos equipamentos; relatório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) aponta 'sofisticação'
A denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) — que embasou a megaoperação que deixou mais de 100 mortos nos complexos do Alemão e da Penha — descreve que o Comando Vermelho (CV) faz o monitoramento em suas comunidades a partir da tecnologia: drones e câmeras de segurança servem para tomar conta do território, como o posicionamento de viaturas da polícia. Outro relatório, este feito pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), aponta para "sofisticação da organização criminosa" nesse uso.
'Japinha do CV':
133 presos:
O chefe do CV no Complexo da Penha, local apontado como principal base da facção, é Edgar Alves Andrade, o Doca: o Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações que levem à sua captura. Entre seus homens de confiança estão Carlos Costa Neves, o Gadernal, e Washington Cesar Braga da Silva, conhecido como Grandão ou Síndico da Penha, conforme aponta o relatório do MPRJ.
Segundo a denúncia, Gadernal "exerce chefia sobre a grande maioria dos traficantes", como com orientações sobre a compra de drones de vigilância. Em uma conversa com Grandão, em 2023, Gadernal alega a necessidade de a facção atualizar seus equipamentos, com a compra de um drone com visão noturna. A falta do aparelho era motivo de queixa do comparsa, que dizia que só iria "ver escuro" durante a noite.
"A gente tem que se adequar à tecnologia, entendeu?", respondeu Gadernal a Grandão.
‘Nenhum bandido importante no Brasil mora em uma favela’,
Naquele mesmo dia, Gadernal também orientou que Grandão "realize um monitoramento com drone da comunidade", conforme analisado pelo Ministério Público do Rio. Na troca de mensagens, os homens de confiança de Doca conversam sobre esse serviço.
Gadernal manda — "Levanta o drone" — o que é atendido por Grandão, que responde com um "No alto". Em seguida, a orientação de Gadernal é que, "todo dia quando chegar no plantão", Grandão levante o drone.
A busca por corpos na mata da Vacaria:
Drones: 'sofisticação'
Já um relatório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) aponta que Geovane Ribeiro dos Anjos, conhecido como Pinguim ou Du Gelo, um soldado do CV, utiliza drones para monitorar a polícia no Complexo da Penha. Isso ajuda aos criminosos se prepararem contra possíveis incursões dos agentes de segurança, diz o documento.
"O uso de drones para vigilância demonstra a sofisticação da organização criminosa e a estratégia de manter o controle sobre a área de tráfico, com a intenção de reduzir os riscos de apreensão e prisão", destaca a DRE. "O monitoramento constante da presença policial com o auxílio de drones sugere uma estrutura organizada e bem coordenada dentro da facção, com foco em proteger seus interesses e negócios ilegais."
Um vídeo que consta no relatório da especializada mostra ainda um vídeo de um monitoramento no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, comunidade sob domínio do Comando Vermelho. No vídeo, quem grava define o aparelho como "Drone do CV" e sobrevoa até a comunidade rival do Morro da Primavera, em Cavalcanti, dominada pelo Terceiro Comando Puro (TCP). A área é apelidada como "Primacu", em tom de ironia.
Após operação no Rio,
Câmeras de segurança em comunidades
Outro responsável por monitoramentos é Juan Breno Malta Ramos, o BMW, apontado como gerente do tráfico na Gardênia Azul e chefe do grupo de matadores Equipe Sombra, aponta o Ministério Público. Segundo a denúncia, BMW tem "controle de diversas câmeras de monitoramento no Complexo da Penha e na comunidade Gardênia", graças à sua ascensão na facção: alguns dos equipamentos têm até sensor de movimentação, destaca o MPRJ.
Após essa descrição, o relatório anexa a foto de um veículo blindado da polícia, o caveirão, flagrado por uma câmera de monitoramento em maio de 2024.
Quem são os mortos e presos?
Grupo para monitorar polícia
Doca, Gadernal e Grandão, diz o MPRJ, utilizam grupos de conversa no celular para tratar de diversos temas, como o monitoramento de viaturas policiais. Soldados da facção também eram responsáveis por passar informações sobre o posicionamento da polícia.
Trecho de uma conversa, anexado à denúncia, mostra que um comunicado foi divulgado num grupo nomeado de "Cpx da Penha". A orientação, assinado pela "diretoria", diz que a conversa será usada "exclusivamente para monitoração e visão de polícia ou outro tema que ponha nossa vida em risco". Fotos, vídeos e figurinhas que possam "tirar o foco" — definido como a "visão de policiais" — são proibidos, assim como repassar mensagens enviadas naquele grupo. A punição seria a remoção do grupo.
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