Política

CPI das Pirâmides Financeiras rejeita requerimento para ouvir Jair Renan Bolsonaro

Autor do pedido para ouvir o filho ‘zero quatro’ do ex-presidente, Glauber Braga (PSOL-RJ) acusou os colegas de estarem ‘blindando’ o rapaz

Agência O Globo - GLOBO 30/08/2023
CPI das Pirâmides Financeiras rejeita requerimento para ouvir Jair Renan Bolsonaro
Jair Renan Bolsonaro - Foto: Instagram - @bolsonaro_jr

A CPI das Pirâmides Financeiras rejeitou nesta quarta-feira um requerimento para ouvir como testemunha Jair Renan Bolsonaro, o filho “zero quatro” do ex-presidente Jair Bolsonaro. A justificativa para a convocação era que Jair Renan fez publicidade para uma empresa de tokens que utilizava a imagem de seu pai. Os tokens tiveram uma queda de 80% no seu valor, e o “zero quatro” acabou saindo do projeto. Ele apagou de suas redes sociais os vídeos em que promovia o produto.

O requerimento havia sido apresentado pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). “Em 17 de novembro de 2022, Jair Renan Bolsonaro publicou em suas redes sociais vídeo em que fez propaganda do Myla, uma criptomoeda que, em suas palavras, se constituiria como ‘uma ótima oportunidade para mudar de vida’”, explicou o parlamentar na justificativa do pedido.

“Cumpre destacar que tal criptomoeda estava atrelada a um ‘metaverso de direita’ e a um jogo de combate entre mocinhos e um time de vilões vermelhos liderados pelo Ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal). Estima-se que, em apenas 24 horas, Jair Renan Bolsonaro conseguiu captar 266 mil reais em investimentos na Myla”, afirmou o deputado do requerimento.

Ainda segundo Braga, “cerca de um mês depois, após o fracasso da empreitada e do desmoronamento do valor da referida criptomoeda, Maciel Carvalho, advogado de Jair Renan Bolsonaro, anunciou o ‘desligamento’ de seu cliente da Myla Metaverse, deixando de ocupar os postos de sócio e de ‘embaixador’ do negócio”.

Durante a sessão desta tarde, Braga se irritou com a rejeição de seu pedido e acusou os colegas de estarem “blindando” o filho do ex-presidente. O deputado se queixou da conduta dos membros da CPI, que aproveitaram que ele estava momentaneamente fora do plenário para votar contra a convocação de Jair Renan.

A CPI das Pirâmides Financeiras foi criada na Câmara dos Deputados para investigar práticas ilícitas cometidas por empresas de serviços financeiros que alegavam alocar recursos de clientes em criptoativos. Contudo, o escopo da CPI tem aumentado, com a convocação, por exemplo, dos sócios da 123Milhas, empresa que cancelou passagens vendidas aos consumidores com desconto.

Pirâmides financeiras são fraudes que consistem na atração de pessoas para um investimento com promessa de retorno muito acima do mercado. O retorno financeiro, no entanto, é baseado na entrada de novos investidores. Os pagamentos são feitos aos primeiros investidores com o dinheiro dos novos.

Esse tipo de esquema é conhecido por pirâmide porque seu funcionamento é insustentável: em determinado ponto, é impossível encontrar novos investidores e o esquema rui, causando prejuízos.

Além de Jair Renan, a CPI já tentou convocar outras pessoas famosas, como os atores Cauã Reymond e Tatá Werneck, também por terem feito publicidade para produtos que depois perderam valor. Os artistas, que negam qualquer irregularidade, conseguiram um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) que permitiu que não comparecessem à CPI.

Operação policial

Na semana passada, em um outro caso que não tem relação com a CPI, Jair Renan e Maciel Carvalho foram alvos de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal que investiga supostos crimes contra a ordem tributária, estelionato, falsidade ideológica e associação criminosa. Carvalho é apontado como o cabeça do suposto esquema e está preso preventivamente.

Já Jair Renan teve celular, HD e documentos apreendidos durante o cumprimento de mandados de busca em dois endereços ligados a ele, em Brasília e em Balneário Camboriú (SC). Uma das suspeitas da Polícia Civil é que o filho “zero quatro” de Bolsonaro tenha transferido a propriedade de uma empresa, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, para um “testa de ferro”. As defesas dos envolvidos negam irregularidades.