Política

Lançado por Castro, PactoRJ tem obras paradas e vira alvo de reclamações de prefeitos que miram reeleição

Programa foi criado com a intenção de ser vitrine da sua gestão e de aliados

Agência O Globo - EXTRA 20/08/2023
Lançado por Castro, PactoRJ tem obras paradas e vira alvo de reclamações de prefeitos que miram reeleição
Lula e Claudio Castro

Os mais de dez pilares às margens da BR-040, na altura de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, deveriam sustentar uma ponte que ligaria o bairro do Pilar à rodovia como parte de um programa de mobilidade urbana para a Baixada Fluminense. No entanto, em meio ao matagal, os pilares refletem o destino de pelo menos 150 ações do PactoRJ, programa de investimentos do governo do estado. Paradas ou ainda em fase de licitação, as obras tinham a expectativa de render dividendos eleitorais a prefeitos, vereadores e candidatos nas eleições do ano que vem. Mas hoje são motivo de pressão política que miram o governador Cláudio Castro (PL).

Em busca de reeleição ou interessados em fazer sucessores, prefeitos apontam que “a falta de inaugurações” tem implicado em cobranças em seus redutos eleitorais. De acordo com um prefeito da Baixada, aliados de Castro na região temem “não ter o que mostrar durante a campanha eleitoral”, já que parte das obras que implica em parcerias com as cidades está parada ou em ritmo lento. Nomes da base do governador também afirmam avaliar a presença de Castro em seus palanques em 2024.

Cobranças pelo Estado

Lançado em agosto de 2021, o PactoRJ prevê investimentos de R$ 17 bilhões e reúne obras de pavimentação, recuperação de estradas e construção de restaurantes populares, colégios, unidades de saúde e praças. Em algumas cidades, há obras que permanecem na fase de licitação. Por contemplar os 92 municípios fluminenses, os projetos estão espalhados por todas as regiões.

Recentemente, uma comissão de prefeitos e presidentes de Câmaras Municipais do Noroeste e do Norte Fluminense procurou na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) parlamentares da base de Castro, com um pedido de ajuda para destravar as obras. Foram recebidos pelo presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União). O grupo deixou o local com a promessa de a Alerj interceder.

Somente em Duque de Caxias, maior cidade da Baixada Fluminense, com quase 1 milhão de habitantes e base do secretário estadual de Transporte, Washington Reis (MDB), um dos principais aliados de Castro na região, foram suspensas obras de drenagem e pavimentação de ruas em bairros do segundo distrito. Juntas, somam R$ 77 milhões em investimentos. Também não avançou a drenagem nos canais Gaspar Ventura e Canal dos Velhos, orçada em cerca de R$ 175 mil, além da construção da ponte do Pilar. O projeto, que prevê gastos de R$ 12 milhões, inclui reurbanização, ciclovia, iluminação pública e construção de calçadas.

Ainda na Baixada, está parada a construção do restaurante popular de São João de Meriti. A obra foi orçada em R$ 4,2 milhões.

Em Petrópolis, cidade serrana, um programa de recuperação de estradas rurais ficou na promessa, assim como ações semelhantes em Cabo, Frio, Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Iguaba Grande e Saquarema, na Região dos Lagos.

Prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo (PSB) afirma que há uma insatisfação nos municípios em relação a obras paradas ou com ritmo lento.

— Tenho conversado com outros prefeitos. Muitos trabalharam pela reeleição de Cláudio Castro e hoje cobram dele o mesmo tratamento, o mesmo empenho. É legítima a insatisfação. O mínimo que o estado poderia fazer era procurar os municípios. Se não tem condições de levar à frente a obra, o momento é de trabalhar em parceria — afirma Bomtempo.

Castigada por dois temporais no ano passado que mataram 241 pessoas, Petrópolis também aguarda obras de recuperação de 44 prédios de um conjunto habitacional.

Macuco, no Centro-Norte, e Porto Real, no Sul, são outras cidades em que os investimentos em moradias populares do PactoRJ não andaram. Seriam construídos prédios.

Na maior cidade do interior do estado, Campos dos Goytacazes, no Norte, estão previstas ações como a construção de uma ponte na RJ-190 e um restaurante popular em Guarus. Próximo de Castro, o prefeito Wladimir Garotinho (União) confirma os atrasos:

— As obras estão de fato com o calendário atrasado, e a população tem começado a se queixar da demora, mas confio que o governador honrará seus compromissos.

Há ainda na lista de obras paradas, pelo menos 12 rodovias aguardando recuperação.

850 obras em andamento

Segundo o governo do estado, o PactoRJ tem mais de 850 ações em andamento. Sobre o viaduto do Pilar, a obra está em análise da documentação de habilitação das empresas que participaram da licitação. Já a pavimentação de ruas em Duque de Caxias teve licitações marcadas. Os restaurantes populares devem ter obras iniciadas neste semestre. Sobre as estradas rurais, “não houve execução por não ter intervenções significativas”. Em Petrópolis, o contrato foi executado parcialmente por causa da tragédia de 2022. Já em relação às rodovias e conjuntos habitacionais, há adequação de documentação e novas licitações.