Política

Após destruição do 8 de janeiro, Palácio do Planalto volta a receber visitantes em Brasília

Outros prédios públicos da capital também foram abertos

Agência O Globo - GLOBO 19/08/2023
Após destruição do 8 de janeiro, Palácio do Planalto volta a receber visitantes em Brasília
Palácio do Planalto - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Mais de 200 dias após os atos golpistas de 8 de janeiro, diversos prédios públicos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, fizeram neste sábado um esquema especial de visitação em comemoração ao Dia do Patrimônio Cultural. As sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, além de outros prédios famosos da capital federal, receberam milhares de visitantes.

Leia mais: STF aceita denúncia contra Fátima de Tubarão e mais 69 acusados por atos golpistas no 8 de janeiro

Sonar: 'Parem com esse negócio de prisão', diz Carlos Bolsonaro

Com o lema “conhecer para proteger”, o projeto é um dos primeiros passos para a reinício das visitações públicas a alguns dos prédios, como o Palácio do Planalto.

As consequências da destruição do dia 8 de janeiro são pequenas, quase irreconhecíveis para quem visitou os prédios pela primeira vez, como o caso de turistas brasileiros e estrangeiros que passaram pelos corredores. Apesar disso, alguns vestígios estão lá: no térreo do Palácio do Planalto, por exemplo, a galeria dos ex-presidentes ainda não reapareceu, protegida por um tapume.

Não havia visitação de turistas no Planalto desde os atos golpistas de janeiro. No Congresso e no Itamaraty, as visitas já haviam retomado.

No Congresso Nacional, por sua vez, alguns dos presentes protocolares destruídos durante a invasão golpista não estão à mostra.

Ao contrário de outros dias de visitação, o sábado permitiu aos visitantes conhecer alguns ambientes mais restritos. No caso do Itamaraty, o gabinete do ministro estava aberto para visitação. No Palácio do Planalto, a sala de Estado, onde costumam ocorrer as reuniões do presidente com ministros.

A lembrança do dia 8 rondava as dúvidas da maioria dos visitantes. Um dos coordenadores da visitação admitiu ao GLOBO que os questionamentos sobre os atos viraram parte da rotina de apresentação dos edifícios.

Em um vídeo apresentado aos visitantes, o chanceler Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, afirma que “conhecer e reconhecer essas obras como parte do povo brasileiro é a melhor forma de preservá-las não apenas como objetos, mas também como símbolos de uma nação”.

As dúvidas eram tanto sobre o que tinha sido obras de arte destruídas, mas também sobre itens famosos que foram subtraídos: na visita ao Congresso, por exemplo, um dos visitantes questionou sobre o paradeiro de uma bola autografada pelo atacante Neymar e furtada durante a invasão.

O objeto ficava exposto no Salão Verde da Casa, mas, após os atos golpistas, ficou desaparecido por 20 dias, até ser encontrado em Sorocaba, no interior de São Paulo, localizado a quase mil quilômetros de distância de Brasília. De acordo com o guia, a maioria dos presentes foi recuperada e reconstituída.

— Eu volto com outra mentalidade, um patrimônio desse, uma representação do país, não precisava daquele ato, de quebra. Pode-se protestar de outras formas — afirmou o comerciante Ivo Leite.

Outra visitante, Rosana Scandolaro, afirmou que o 8 de janeiro não foi a motivação para a visita, mas aprovou o tour pelas dependências do Congresso.

— Foi muito boa a visita. O que eu penso que pode fazer uma manifestação, mas sem detonar tudo, já foi quebrado duas vezes — disse.

No caso do Palácio do Planalto, a visita não é acompanhada por guias. No Congresso e no Supremo, visitantes são acompanhados por representantes dos dois órgãos. O Itamaraty preparou também informações interativas com explicações, em áudio, sobre cada um dos ambientes que estavam abertos.

— Essa possibilidade de a população ter contato, experiência, entender o sentido dos bens culturais e é isso que o projeto se propõe. E o lema, conhecer para proteger, é a essência disso. Você não cuida daquilo que não conhece, mas daquilo que você cria uma relação.

Para Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o projeto ultrapassa linhas ideológicas ou de governo.

— O que os bens culturais representam não tem a ver com uma posição ideológica, mas com a nossa memória, com nossas matrizes culturais. No caso específico dos Palácios, aquilo tem um valor simbólico muito grande não só das construções, do edifício em si, mas do conceito que aquilo representa, de entender os princípios da República, que os Poderes são autônomos, isso tem a ver com a liberdade e aquilo que a gente entendeu como o caminho — explica.