Política

CPI do MST: Stédile diz que invasão de área da Embrapa foi 'erro' e que apoio ao governo não é incondicional

Fundador e líder do movimento afirmou que seguirá se opondo publicamente a determinados aspectos da gestão de Lula

Agência O Globo - GLOBO 15/08/2023
CPI do MST: Stédile diz que invasão de área da Embrapa foi 'erro' e que apoio ao governo não é incondicional
Manifesto de advogados revive movimento histórico e pede diretas já na OAB - Foto: Reprodução

O fundador e principal liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, definiu a recente invasão a terras produtivas da Embrapa, em Petrolina (PE), como "um erro". Stédile também disse que o movimento segue "independente" do governo e garantiu que ações deste tipo não contam com a anuência do poder Executivo. De acordo com ele, o MST não fez nenhum pedido para nomeações em ministérios ou empresas públicas no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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— Em relação a Embrapa, o que nós recebemos de informe é que lá não havia pesquisa para agricultura familiar. No entanto, os companheiros não destruíram nada. Eles só entraram na Embrapa para chamar atenção a um problema que existe na região. É óbvio que está aí o conflito armado, mas eles têm autonomia. Cada acampamento tem autonomia do que faz. Concordo, às vezes eles exageram e erram, mas eles têm o direito de decidir. Nenhuma instância nacional decidiu que eles deviam ir. Está bom, foi um erro, um equívoco entrar na Embrapa. Mas eles decidiram porque era a área pública mais próxima e entraram na Embrapa não para reivindicar a área da Embrapa, entraram na Embrapa para chamar a atenção da opinião pública e conseguiram — afirmou.

No mês passado, o MST voltou a ocupar a unidade da Embrapa em Petrolina. A justificativa é que o governo federal não cumpriu o acordo estabelecido em abril, quando 1.550 famílias haviam invadido as estruturas da estatal pela primeira vez. Em nota, o MST disse que o Ministério do Desenvolvimento Agrário "rompeu com todos os acordos e tenta fazer o seminário Show sem cumprir nada do que foi acertado para resolver a questão das famílias acampadas".

Stédile também afirmou que seguirá se opondo publicamente a determinados aspectos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando julgar necessário. Ele afirmou não ter qualquer compromisso em caminhar com o governo.

— Somos corresponsáveis pelo governo Lula, pro termos ajudado a elegê-lo. Defenderemos este governo apenas dos seus inimigos, como latifundiários improdutivos e o mercado financeiro. Mas, sempre teremos autonomia.

Com a presidência e relatoria do colegiado ocupadas pela oposição, os governistas prepararam uma estratégia para blindar o líder do MST e dissociá-lo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em uma reunião na noite de segunda-feira, parlamentares governistas alinharam as perguntas que seriam feitas a Stédille, de forma a deixar com que ele transpareça um "tom propositivo" em relação às questões relativas à Reforma Agrária.

Após o interrogatório, Stédile é esperado na Marcha das Margaridas, evento organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), e que contará com a presença de lideranças governistas.

No depoimento, Stédille seguiu expondo as suas divergências com Lula e, pelo alinhavado, defendeu que o grupo tem o direito de tecer críticas ao governo, justamente, por ter ajudado a elegê-lo. Desta forma, ele também eximiu os governistas de responsabilidade ou conivência pelas recentes invasões irregulares — inclusive, em áreas produtivas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Este, aliás, vem sendo o discurso adotado por ele nos últimos tempos. Em entrevista recente ao site da revista "Carta Capital", Stédile também alertou que "sempre haverá" ocupações de terra, sobretudo se o ritmo de distribuição de áreas para assentar não for considerado satisfatório.