Política
Políticos são titulares de propriedades rurais que somam 96 mil hectares sobre terras indígenas
Segundo o dossiê “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem fazendas sobrepostas a terras indígenas“, elaborado pelo De Olho nos Ruralistas, um total de 42 políticos e familiares de 1º grau são titulares de imóveis rurais com sobreposições em terras indígenas (TIs), totalizando 96 mil hectares — o equivalente à soma das áreas urbanas do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O dossiê foi formado a partir do cruzamento das bases de dados fundiários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
O documento foi lançado nesta quarta-feira, 14, e mostra os nomes de 18 líderes ruralistas financiados por empresários com sobreposições. O dossiê é resultado da investigação de mais de seis meses, envolvendo profissionais de diversos campos do conhecimento — Geografia, História, Agronomia, Direito e Jornalismo — e é apresentado num contexto de pressão contra os direitos dos povos do campo no Congresso, com a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a aprovação do Projeto de Lei nº 490/2007, que institui o Marco Temporal para demarcação de terras indígenas, ambas na Câmara.
O relatório aponta ainda três congressistas que possuem fazendas em terras indígenas registradas em nome de suas empresas: o senador Jaime Bagattoli (PL-RO) e os deputados Dilceu Sperafico (PP-PR) e Newton Cardoso Júnior (MDB-MG). Os três são membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
“Se os deputados querem debater seriamente invasão de terras no Brasil, precisam entender quem declara fazendas em territórios indígenas”, diz o diretor do De Olho nos Ruralistas, Alceu Luís Castilho. “A desigualdade de renda anda de mãos dadas com a desigualdade fundiária e a sociedade tem o direito de saber como as terras são apropriadas neste País”.
O evento de lançamento acontece nesta quinta-feira, no Cine Petra Belas Artes, em São Paulo, e conta com a exibição do filme “Vento na Fronteira”, documentário premiado que apresenta um conflito entre fazendeiros e o povo Guarani Kaiowá na fronteira do Brasil com o Paraguai: “De Olho nos Ruralistas lança 2ª parte do projeto ‘Os Invasores’ no Cine Belas Artes“.
A primeira parte do dossiê, divulgada no dia 19 de abril, apontou os nomes de empresas nacionais e estrangeiras entre as 1.692 sobreposições de fazendas em 213 terras indígenas, que totalizavam 1,18 milhão de hectares — tamanho igual ao do território do Líbano. Na segunda parte, a equipe do observatório rastreou quais destes sócios doaram para políticos nas campanhas de 2022; no caso de 54 dos 81 senadores, também de 2018.
Dezoito integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) receberam R$ 3,6 milhões em doações de campanha desses invasores. Entre eles estão o presidente da frente, Pedro Lupion (PP-PR), os vice-presidentes Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Evair Vieira de Melo (PP-ES), a coordenadora política Tereza Cristina (PL-MS), ex-ministra da Agricultura, e outros oito diretores.
41 fazendeiros com sobreposições doaram R$ 1,2 milhão para a campanha de Bolsonaro
Outro destaque do relatório são os invasores que investiram em peso na candidatura derrotada de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. Juntos, 41 fazendeiros com sobreposições doaram R$ 1,2 milhão para sua campanha. Eles controlam uma área de 107.847,99 hectares, incidente em 23 áreas demarcadas pela Funai.
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