Poder e Governo

Assembleia de MG aprova venda da Copasa após articulação de Zema

Deputados mineiros autorizam privatização da estatal de saneamento após retirada de referendo. Governo mira investimentos em ano eleitoral, inspirando-se em modelo do Rio.

Agência O Globo - 17/12/2025
Assembleia de MG aprova venda da Copasa após articulação de Zema
Romeu Zema - Foto: Arquivo/Câmara dos Deputados

A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou nesta quarta-feira, em segundo turno, o projeto de lei que autoriza a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), uma das principais bandeiras do governador Romeu Zema (Novo). A proposta foi aprovada por 53 votos a 19, superando o mínimo de 48 votos necessários, após rejeição das emendas apresentadas pela oposição. Durante a sessão, trabalhadores da estatal protestaram nas galerias.

A votação acontece pouco mais de um mês após a base governista aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retirou a exigência de referendo popular para a venda da companhia, facilitando o processo de desestatização. A medida ocorre em ano pré-eleitoral, quando o vice-governador Mateus Simões (PSD) deve disputar a sucessão de Zema.

De autoria do governador, o projeto permite que o estado, atualmente controlador de 50,03% das ações, deixe o comando da empresa, presente em cerca de 75% dos municípios mineiros. A Copasa atua em 637 cidades no abastecimento de água e, em 308 delas, também oferece serviços de esgotamento sanitário, incluindo municípios atendidos pela subsidiária Copanor, responsável pelo Norte e Nordeste do estado.

Romeu Zema defende que a privatização é fundamental para modernizar a estatal, atrair investimentos e contribuir para o equacionamento da dívida de Minas Gerais com a União, estimada em cerca de R$ 180 bilhões. Em 2024, a Copasa registrou lucro líquido de R$ 1,3 bilhão; de janeiro a setembro deste ano, o resultado já ultrapassou R$ 1,07 bilhão.

A oposição tentou obstruir a votação e criticou duramente o projeto. O deputado Ulysses Gomes (PT), líder do bloco contrário à venda, argumentou que a desestatização tende a precarizar serviços essenciais, citando experiências negativas em outros estados.

— A consequência da privatização, sobretudo de serviços essenciais como energia e saneamento básico, na absoluta maioria dos locais onde aconteceu, foi danosa na vida do cidadão — afirmou Gomes.

O texto aprovado, fruto de substitutivo da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, estabelece metas de universalização dos serviços de água e esgoto e de melhoria da qualidade da água tratada após a privatização. Determina ainda a manutenção dos contratos de trabalho dos empregados efetivos por 18 meses, após os quais o estado poderá remanejá-los para outras empresas públicas, sem garantia de permanência.

Os recursos obtidos com a venda poderão ser usados para amortizar a dívida com a União e para cumprir exigências do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Parte do valor também poderá ser destinada a um fundo estadual de saneamento básico.

Nos bastidores, o governo mineiro já sinalizou que não pretende repassar integralmente à União o valor arrecadado. Em ofício ao Tesouro Nacional após a aprovação da PEC, Zema informou que parte dos recursos será aplicada em investimentos de infraestrutura, estratégia semelhante à adotada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), na concessão da Cedae. A expectativa do governo de Minas é arrecadar cerca de R$ 4 bilhões com a venda da Copasa e destravar aproximadamente R$ 1,4 bilhão em obras em 2026, o que pode favorecer a candidatura de Simões à sucessão estadual.

A oposição questiona a pressa do governo e a ausência de estudos de impacto detalhados, além de alertar para o risco de aumento de tarifas e demissões. O Palácio Tiradentes, por sua vez, afirma que a privatização é condição essencial para viabilizar investimentos e reorganizar as finanças do estado.