Poder e Governo

Faria Lima recebe Flávio Bolsonaro com desconfiança e cobra clareza sobre agenda econômica

Gestores apontam viés midiático em encontro no Banco UBS e mantêm dúvidas sobre viabilidade da candidatura presidencial

Agência O Globo - 13/12/2025
Faria Lima recebe Flávio Bolsonaro com desconfiança e cobra clareza sobre agenda econômica
O senador Flávio Bolsonaro (RJ) - Foto: Reprodução / Agência Senado

Gestores do setor financeiro da Faria Lima, que se reuniram nesta semana em São Paulo com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), pré-candidato à Presidência, seguem céticos quanto à seriedade da candidatura, apesar da promessa de um governo alinhado ao mercado. Segundo interlocutores, Flávio sinalizou intenção de adotar uma política econômica liberal, nos moldes do ex-ministro Paulo Guedes, conhecido como “Posto Ipiranga” na campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2018.

A primeira agenda do senador foi um almoço na sede do Banco UBS, que contou com a presença de empresários como Flávio Rocha, da Riachuelo, Richard Gerdau, do grupo Gerdau, e o ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano. Flávio afirmou que, se eleito, pretende “dar sequência” ao trabalho de Guedes e reverter as diretrizes do atual governo, liderado por Fernando Haddad (PT) na Fazenda. O senador também argumentou que iniciaria a campanha com um “piso alto” de votos, suficiente para chegar ao segundo turno contra o presidente Lula.

Entre economistas e gestores, a avaliação predominante é de que Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, teria mais potencial eleitoral. A rejeição ao nome de Flávio se refletiu no mercado: no dia do anúncio de sua pré-candidatura, o Ibovespa caiu 8 mil pontos (4,35%) e o dólar subiu para R$ 5,44, maior valor do ano.

No encontro, a principal dúvida era sobre a manutenção da candidatura. Flávio garantiu que seguirá na disputa e destacou seu sobrenome como vantagem, por garantir o apoio de parte do eleitorado do pai — cerca de 20% das intenções de voto, segundo ele. O senador também afirmou ter potencial para atrair novos eleitores, por ser considerado o menos radical da família Bolsonaro.

Apesar de defender a continuidade da política econômica de Guedes, Flávio não detalhou possíveis nomes para o ministério. O ex-ministro foi citado como possível colaborador na campanha, assim como Montezano, ex-BTG Pactual. Empresários presentes avaliaram que Flávio adotou tom moderado, mas ainda precisa estruturar um programa de governo convincente. Para o mercado, estabilidade fiscal, previsibilidade institucional e continuidade das reformas e privatizações são pontos-chave.

Outro gestor classificou o almoço como um evento de caráter midiático, mais voltado a melhorar a imagem do senador junto ao mercado do que a conquistar apoio efetivo. A divulgação de fotos do encontro reforçaria essa percepção. Segundo ele, o endosso de Guedes não é suficiente para garantir apoio da Faria Lima; é necessário apresentar um programa sólido e detalhado.

Os encontros de Flávio com o setor financeiro têm sido organizados por Filipe Sabará, ex-secretário de Desenvolvimento Social do governo João Doria e coordenador da campanha de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo em 2023. “Depois do anúncio da candidatura, o mercado queria entender quais caminhos Flávio propunha. Conversei com ele para explicar ao grupo, que estava mais propenso a Tarcísio”, afirmou Sabará.

O plano é seguir dialogando com o mercado financeiro nas próximas semanas, inclusive com participações em podcasts de finanças. “Acredito no livre mercado e temos que continuar na linha da desburocratização, porque quem move a economia são os empreendedores, não o governo”, disse Flávio em uma dessas entrevistas.

A tentativa de aproximação com o mercado distancia Flávio da retórica “anti-establishment” adotada por seus irmãos Eduardo e Carlos Bolsonaro. Internamente, há críticas à condução do processo e à relação com partidos do Centrão, tradicionalmente vistos como adversários por parte da família.

Procurado, o UBS afirmou que “realiza regularmente diversos eventos voltados a clientes” e que a iniciativa é “prática comum de mercado”.