Poder e Governo
Articulação de Motta pelo PL da Dosimetria leva relação com Planalto ao pior momento desde início do governo Lula
Base governista recorreu até a Arthur Lira em tentativa de evitar derrota na Câmara
A aprovação do Projeto de Lei da Dosimetria, que reduz penas para envolvidos em atos golpistas e pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, desencadeou uma crise sem precedentes entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o governo federal. O episódio é visto como um marco negativo, representando o momento mais delicado no diálogo entre a Câmara e o Palácio do Planalto desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Líderes governistas avaliam que, mesmo em comparação ao ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) — cuja relação com o Planalto era marcada por desconfiança —, a condução de Motta significou um rebaixamento no nível de interlocução. Segundo integrantes da articulação política, Lira ao menos avisava o governo quando pautava temas sensíveis ao Executivo.
As queixas recaem sobre o fato de Motta ter colocado o projeto em votação sem qualquer sinalização prévia ao governo. Destaca-se que, na véspera, Motta reuniu-se com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), sem mencionar a intenção de pautar o PL da Dosimetria.
Aliados do governo aguardam agora o texto que será analisado pelo Senado, mas já apontam tendência para que Lula vete o projeto.
Durante a votação em plenário, a ministra das Relações Institucionais manteve contato direto com Guimarães, buscando informações sobre o clima e a possibilidade de adiamento da votação.
A base governista tentou negociar até o último momento para adiar a votação. Guimarães, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE) buscaram audiência com Motta em seu gabinete, sem sucesso. Em seguida, recorreram a Arthur Lira, e depois abordaram Motta diretamente na Mesa da Câmara, enquanto ele presidia a sessão.
Na conversa, foi proposto um acordo para priorizar outros projetos antes da Dosimetria, mas Motta manteve a pauta e o governo acabou derrotado.
Antes da votação, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da cadeira da Presidência da Câmara, após permanecer cerca de uma hora no local. A Polícia Legislativa foi acionada, gerando tumulto e relatos de agressões a parlamentares. O episódio resultou em acusações de quebra de decoro contra Glauber e inflamou ainda mais os ânimos entre base e presidência.
Em resposta, a Mesa restringiu o acesso ao plenário, expulsando jornalistas e assessores, o que agravou o clima de tensão.
Na retomada da sessão, parlamentares da base governista fizeram discursos contundentes, com críticas públicas inéditas à condução de Motta. O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), afirmou:
— Vossa excelência está perdendo as condições de seguir na presidência dessa Casa.
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