Poder e Governo

Líderes do governo e do PT se dizem surpreendidos com votação do projeto da dosimetria

Base sugere acordo entre Hugo Motta e oposição para acelerar pauta sobre atos de 8 de janeiro

Agência O Globo - 09/12/2025
Líderes do governo e do PT se dizem surpreendidos com votação do projeto da dosimetria
Líderes do governo e do PT se dizem surpreendidos com votação do projeto da dosimetria - Foto: Bruno Spada /Câmara dos Deputados

Líderes governistas na Câmara relataram surpresa diante da decisão do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar para esta terça-feira a votação do projeto que reduz penas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. O movimento passou a ser interpretado como parte de uma negociação envolvendo o PL e a família Bolsonaro.

Segundo parlamentares alinhados ao Palácio do Planalto, a inclusão repentina do tema na agenda legislativa ocorre no contexto da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), lançada em meio a resistências do Centrão e sinais de fragilidade política.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, destacou que Hugo Motta não comunicou previamente à base governista sobre a decisão de avançar com a matéria.

— Pegou só a gente de surpresa. É o começo de uma negociação — afirmou.

Para Lindbergh, o alinhamento imediato do PL ao anúncio, concordando com a votação e informando que não apresentaria destaques, reforça a percepção de um acordo prévio.

— Está muito claro que essa decisão do Hugo Motta foi combinada com o PL e com a família Bolsonaro. Eles concordaram de pronto com a votação e ainda anunciaram que não fariam destaques. Foi uma negociação — declarou.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também associou o avanço do projeto da dosimetria ao cenário político criado pela candidatura de Flávio Bolsonaro.

— Isso tem tudo a ver com a candidatura do Flávio Bolsonaro — disse Guimarães.

A pré-candidatura, anunciada na semana passada, começou sob sinais de isolamento. O jantar promovido por Flávio para reunir presidentes de partidos do Centrão terminou sem apoios públicos, e governadores de direita evitaram endossar sua entrada na disputa.

Nesse contexto, a declaração de Flávio — de que retirar sua candidatura teria “um preço” — passou a ser interpretada por parlamentares como um recado sobre a contrapartida política esperada. Lindbergh retomou o tema ao comentar a movimentação desta terça-feira:

— Vocês lembram do Flávio Bolsonaro dizendo que para retirar a candidatura tinha um preço? Pois é.

Para a base do governo, a aceleração da votação da dosimetria faz parte desse tabuleiro de pressões e reposicionamentos. Deputados avaliam que a atitude de Hugo Motta indica sua entrada nas negociações. A assessoria de Motta, porém, nega articulações.