Poder e Governo

Relator da CPI do Crime Organizado critica viagem de Toffoli com advogado do caso Master

Senador Alessandro Vieira aponta infiltração do crime organizado em gabinetes de Brasília e critica ministros que aceitam caronas em jatinhos ligados a investigados.

Agência O Globo - 09/12/2025
Relator da CPI do Crime Organizado critica viagem de Toffoli com advogado do caso Master
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF) - Foto: Reprodução

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator da CPI do Crime Organizado, afirmou nesta terça-feira que a infiltração de organizações criminosas nos Poderes da República ocorre em "gabinetes e escritórios de Brasília".

— O crime organizado não é o preto pobre armado na favela, isso é o sintoma. O crime organizado é aquilo que a gente vê aqui em Brasília, infiltrado em gabinetes, escritórios e várias atuações — disse o senador durante audiência com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Ao abordar as conexões do crime com autoridades, Vieira fez uma crítica indireta ao ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, que pegou carona em um jatinho acompanhado de um advogado do caso Master, do qual é relator na Corte. O episódio foi revelado pela coluna de Lauro Jardim no último fim de semana.

— Temos ministros que acham normal, cotidiano, caronas em jatinhos pagos pelo crime organizado. Não é surpresa. Gente investigada pelo crime organizado. O cara entra no jatinho, vai para uma viagem paga pelo crime organizado. Acessa um evento de luxo pago pelo crime organizado. E retorna a Brasília para julgar um caso na Corte Superior — afirmou ele, sem citar nominalmente Dias Toffoli.

De acordo com o senador, há um "ponto de infiltração muito claro e estabelecido do crime organizado em relação aos Poderes Brasileiros".

— E isso se dá por meio do lobby e da advocacia que se sustenta, em parte, da venda de acesso a gabinetes. Eu citei um exemplo da Suprema Corte, mas poderia usar um exemplo do Senado da República. Tem campanhas financiadas pelo crime organizado. Esse é um país que já teve presidente, governador, senador, deputado, prefeito, vereador presos. Mas não tivemos nenhum ministro das instâncias superiores presos. Me parece que esse momento se avizinha — disse Vieira, perguntando a Lewandowski "quais soluções nós teríamos para esse cenário".

Lewandowski evitou tratar de um caso específico, disse condenar "qualquer desvio ético" por parte do Poder Judiciário e defendeu que seja "aperfeiçoado" o financiamento de campanha eleitoral.

— É preciso um controle maior dessas verbas, desses fundos bilionários eleitorais. Eu cheguei a aventar até a ideia de um tribunal de contas para fazer o controle dessas verbas — sugeriu Lewandowski.

Diante da declaração contundente do relator sobre o envolvimento de senadores com o crime, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) questionou Vieira se ele não gostaria de retificar a fala para não generalizar os atos dos 81 senadores. Vieira manteve sua posição, dizendo que ela se direcionava a parlamentares que fazem lobby para bets e bancos envolvidos em investigações criminais.

— Quem trabalha para bet é financiado pelo crime organizado. Quem trabalha para lobby de banco que rouba aposentado é financiado pelo crime organizado — disparou o parlamentar.