A Polícia Civil do Paraná investiga os crimes de ameaça, injúria e lesão corporal no caso envolvendo o deputado estadual Renato Freitas (PT-PR), filmado trocando socos com Wesley de Souza Silva em uma rua de Curitiba, na última quarta-feira (19). O parlamentar alega ter agido em legítima defesa, reagindo a ofensas de cunho racista e ideológico. Ambos registraram boletim de ocorrência.

Lideranças do PT e de partidos de esquerda manifestaram apoio a Freitas, enquanto adversários políticos apresentaram oito pedidos de cassação por quebra de decoro parlamentar à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). As representações serão analisadas em conjunto pelo Conselho de Ética, sob novo código de conduta aprovado em setembro. O relator deve ser escolhido nesta terça-feira e o processo pode durar de 60 a 90 dias úteis.

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, declarou "total apoio" a Renato Freitas, destacando sua atuação na luta antirracista e classificando o episódio como "inadmissível e criminoso". Já a ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) ressaltou que Freitas foi "alvo de evidente provocação que terminou em agressão, às vésperas do Dia da Consciência Negra". O PT do Paraná repudiou a agressão e apontou o "caráter racista" do episódio, reiterando o compromisso do partido com os direitos humanos e o combate ao racismo.

O caso também gerou reações de adversários políticos, como integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e representantes da direita paranaense. Pelo menos quatro parlamentares, entre eles os vereadores Bruno Secco (PMB) e Guilherme Kilter (Novo), e os deputados estaduais Ricardo Arruda (PL) e Tito Barichello (União), afirmaram que pedirão a cassação de Freitas. Arruda classificou a atitude do deputado como "inaceitável" e "vergonhosa". Kilter e Tito Barichello também defenderam a cassação, alegando quebra de decoro.

O confronto ocorreu pela manhã, na rua Vicente Machado, no Centro de Curitiba. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o deputado, de camisa amarela, discutindo com um homem vestido de preto, acompanhado de um assessor. Após trocas de empurrões e agressões físicas, Freitas foi atingido no rosto e, segundo a afiliada da TV Globo, RPC, sofreu fratura no nariz, sendo encaminhado para atendimento médico.

O novo Código de Ética da Alep, aprovado em setembro, ampliou para sete o número de membros do Conselho de Ética e lista 20 atos passíveis de punição, incluindo ofensas físicas dentro ou fora da Assembleia, desde que relacionadas ao exercício do mandato.

Deputados e apoiadores compartilharam imagens do episódio, defendendo Freitas como vítima de racismo e violência política. O deputado federal Josias Gomes (PT-BA) lamentou os ataques racistas sofridos por Freitas, destacando a proximidade do Dia da Consciência Negra. Ana Júlia Ribeiro (PT), deputada estadual, afirmou que a agressão "torna-se ainda mais grave quando dirigida a um representante eleito que já enfrenta histórico de ataques" e que adversários buscam inverter responsabilidades para deslegitimar sua atuação.

O deputado federal André Janones (Avante-MG) compartilhou vídeo dos momentos anteriores à briga e defendeu que Freitas reagiu a um ataque, anunciando projeto de lei para reduzir penas de vítimas de racismo que reagem a ofensas.

Em vídeo publicado nas redes sociais, Renato Freitas relatou ter reagido a situações de "humilhação, racismo, injúria, violência e agressão". Segundo ele, o conflito começou após um motorista jogar o carro em sua direção e de uma amiga, também negra, e proferir ofensas. Freitas afirma que foi perseguido e filmado pelo agressor, que buscava "criar views" com o episódio. "É Curitiba, fio. Para sobreviver, só sendo sobrevivente", declarou o parlamentar.