Poder e Governo

Líder do PT admite falta de tempo para votar Messias em 2025 e atribui crise com Alcolumbre a erro de comunicação

Jaques Wagner avalia que é necessário aguardar a redução da tensão criada após a escolha de Jorge Messias para o Supremo

Agência O Globo - 24/11/2025
Líder do PT admite falta de tempo para votar Messias em 2025 e atribui crise com Alcolumbre a erro de comunicação
- Foto: Reprodução

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), reconheceu o mal-estar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), após a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). Wagner afirmou não ver tempo hábil para que a votação da indicação ocorra ainda em 2025. Segundo ele, é preciso aguardar que o ambiente de "tensão muito grande" se acalme:

— Há uma tensão muito grande, tem que esperar esfriar essa tensão e será conversa individual com cada senador e senadora. O voto é secreto e eu não faço aposta em votação com voto secreto. O voto secreto pode ajudar quem queira me ajudar, pode me ajudar quem queira atrapalhar, tem que trabalhar com humildade — declarou Wagner em entrevista à GloboNews.

O desconforto de Alcolumbre ficou evidente já na quinta-feira, logo após o presidente Lula anunciar Jorge Messias para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no STF. Segundo aliados, o senador não foi consultado previamente por Lula e já havia demonstrado insatisfação com a condução do processo. O nome preferido por Alcolumbre e pela maioria dos senadores era o de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Wagner atribuiu o desentendimento a "um erro de comunicação":

— Espero que esse mal-estar do Davi comigo, porque não é meu com ele, espero que a gente volte a conversar com a naturalidade de sempre. Somos os dois únicos judeus do Senado da República, sempre tivemos uma relação muito boa. Acho que foi o momento, essa reclamação dele por não ter sido avisado de que sairia o anúncio na quinta-feira. Foi erro de comunicação, mas não é por isso que vamos romper relações construídas ao longo do tempo — afirmou.

De acordo com Wagner, um integrante de seu gabinete informou erroneamente um jornalista de que Lula teria comunicado Alcolumbre sobre a indicação para a quinta-feira. O senador reforçou que nem ele, nem o presidente avisaram Alcolumbre sobre a data da indicação:

— Alguém do meu gabinete deu informação errada e mentirosa, dizendo que eu teria afirmado que o presidente ligou para Alcolumbre e que eu também falei com ele, o que não é verdade. Já esclareci à pessoa que foi informada erroneamente. Eu não liguei, o presidente também não ligou, houve uma conversa três ou quatro semanas atrás. Teve a conversa com Rodrigo, e ele indicou na quinta. E o Alcolumbre estava na expectativa de que o presidente iria ligar para ele antes da indicação — explicou.

Wagner também relatou que Alcolumbre demonstrou descontentamento com uma declaração sua, feita semanas antes da indicação, na qual Wagner afirmou que Lula já estava decidido por Messias:

— Não tiro ninguém do caminho, mas não confirmo mentira. Afirmei que a minha sensação era de que havia convicção na escolha de Jorge Messias — relatou. — Ele me disse: 'Achei que sua resposta não foi boa'. Mas, quando Lula afirma que escolheu, a partir daí, não tenho mais que opinar.

Sobre o ambiente hostil à indicação de Messias, Wagner destacou que a eleição de ministros do Supremo nunca é simples no Senado e que "nunca há uma folga". O senador afirmou ainda que o próprio presidente Lula poderá conversar com os senadores para pedir apoio a Messias:

— Isso (sobre o placar de Messias no plenário) só será definido no dia da votação. O presidente está fora (em viagem à África), talvez entre em contato com os senadores. É um trabalho a ser feito. Nunca foi fácil eleição; muita gente foi aprovada com 46, 47, 45 votos, nunca há uma folga — concluiu.