Poder e Governo

Publicação de Flávio também foi motivo para Moraes decretar prisão de Bolsonaro em agosto

Magistrado já havia alertado sobre a utilização dos perfis dos filhos

Agência O Globo - 22/11/2025
Publicação de Flávio também foi motivo para Moraes decretar prisão de Bolsonaro em agosto
Flávio Bolsonaro - Foto: Reprodução

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes citou mais uma vez postagem do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para justificar a . Em agosto, quando foi decretada a prisão domiciliar do ex-presidente, Moraes já tinha alertado sobre a utilização dos perfis dos filhos de Bolsonaro como forma de driblar a proibição de uso das redes sociais por Bolsonaro.

Há três meses, uma imagem compartilhada por Flávio foi o estopim para Moraes converter a proibição de uso de redes sociais em prisão domiciliar. Dessa vez, um vídeo postado pelo parlamentar, convocando apoiadores para uma vigília, foi interpretado como risco à garantia da ordem pública, resultando na transferência de Bolsonaro para a Superintendência da Polícia Federal.

Nesta sexta-feira, o senador convocou apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio onde Bolsonaro mora e cumpria sua prisão, o que poderia configurar risco iminente de tumulto e violação do perímetro de segurança da residência onde o ex-presidente cumpre pena.

No vídeo, publicado em formato de "Shorts" no YouTube e replicado em outras redes, o senador convocava a base bolsonarista, afirmando que os bolsonaristas iriam reagir. O roteiro lembra os motivos que levaram Bolsonaro à prisão domiciliar em agosto deste ano.

Naquela ocasião, Moraes fundamentou a decisão citando "provas inequívocas" de que o ex-presidente descumpria a proibição de contato político e uso de redes sociais, utilizando os perfis dos filhos para driblar as restrições.

O episódio central foi a divulgação, por Flávio, de uma imagem em que Bolsonaro aparecia enviando uma mensagem de áudio aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro. À época, a publicação foi apagada pelo senador após a repercussão, numa tentativa de "omitir a transgressão legal", segundo descreveu Moraes na época.

Na decisão de agosto, o ministro foi duro ao classificar a ação como "participação dissimulada":

"O flagrante desrespeito às medidas cautelares foi tão óbvio que, repita-se, o próprio filho do réu, o senador Flávio Nantes Bolsonaro, decidiu remover a postagem realizada em seu perfil", escreveu Moraes no despacho anterior.

Na decisão de agosto, Moraes reforçou a tese de que havia uma "atuação coordenada" do clã Bolsonaro para desafiar o Judiciário. Além de Flávio, condutas de outros aliados foram citadas no histórico do processo.

Em agosto, o ministro destacou uma videochamada realizada entre Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) durante um ato em Belo Horizonte, onde o parlamentar exibiu o celular ao público afirmando: "Bolsonaro não pode falar, mas pode ver".

O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também foram citados por impulsionarem mensagens do pai ou ataques à Corte, mesmo cientes das restrições impostas.

A prisão preventiva deste sábado

Em despacho cumprido neste sábado, Moraes afirma que não havia mais condições para manter a prisão domiciliar.

A decisão de Moraes afirma que a tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro foi violada pouco depois da meia-noite deste sábado. Além disso, o despacho cita uma vigília convocada para esta noite pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a porta do condomínio onde o ex-presidente mora.

"O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho", ressaltou Moraes.

Na decisão, Moraes pontuou que "embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de 'vigília'", a conduta indica o mesmo "modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares com o objetivo de conseguir vantagens pessoais".

"O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu", frisou.

Moraes afirmou no despacho que a ordem deveria ser cumprida "com todo respeito à dignidade" de Bolsonaro e "sem a utilização de algemas e sem qualquer exposição midiática".