Poder e Governo

Influenciadores ligados ao PT criticam texto de Derrite e pressionam Motta e Tarcísio

Vídeos e mensagens do grupo Pode Espalhar, voltado a influenciadores pró-governo, acusam projeto do relator de enfraquecer o combate ao crime organizado

Agência O Globo - 14/11/2025
Influenciadores ligados ao PT criticam texto de Derrite e pressionam Motta e Tarcísio
- Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Grupos de influenciadores alinhados ao governo federal intensificaram, nos últimos dois dias, uma intervenção digital contra o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Eles acusam Derrite de apresentar um texto “tão ruim que confunde leis e gera forte risco de impunidade” no PL Antifacção. As críticas são veiculadas no canal “Influencers Podem Espalhar”, grupo de WhatsApp criado para orientar produtores de conteúdo próximo ao PT. Segundo os administradores, a proposta relatada por Derrite representa um retrocesso no combate ao crime organizado e ameaça a autonomia da Polícia Federal (PF).

Nas mensagens compartilhadas no grupo, um membro lista cinco pontos que, conforme a narrativa pró-governo, evidenciariam o "retrocesso" do texto de Derrite. As mensagens ecoam críticas já feitas publicamente por ministros, parlamentares e técnicos do governo.

Entre os principais argumentos apresentados estão:

Definição de facção criminosa: O grupo argumenta que o enfrentamento às facções e milícias exige um tipo penal mais claro, sob risco de esvaziar investigações em andamento.

Perdimento de bens: O texto do relator é acusado de dificultar o confisco de patrimônio ilegal. "O nosso vai para cima do dinheiro logo no início das investigações e do processo. O dele, só depois de condenado", afirma o material distribuído.

Financiamento da PF: As mensagens alegam que Derrite “tira o dinheiro da PF ao mandar recursos para os estados”, o que, segundo eles, “descapitalizaria a Polícia Federal e deixaria o bolso cheio do crime organizado”.

Alívio para líderes e foco em 'bagrinhos': Influenciadores sustentam que o texto “livra os grandões” e confunde dispositivos legais, criando “risco de impunidade dos criminosos”.

Críticas ao "plano B": O grupo afirma que o relator teria incluído dispositivos que poderiam punir com até 40 anos caminhoneiros e investigados pelos atos de 8 de janeiro.

Em outra mensagem obtida pela reportagem, os administradores classificaram a situação como "jogo sujo da extrema-direita para proteger o crime organizado" e orientaram os participantes a pressionar deputados pela aprovação do texto original do governo. “Defensor do PL Antifacção é defensor do combate ao crime”, diz a publicação.

A campanha também utiliza vídeos com personagens fictícios criados por inteligência artificial. Em um deles, os brasileiros comentam supostos ataques da oposição à PF. Logo abaixo, o grupo envia o texto: "PF News no ar! A extrema-direita ataca a Polícia Federal para proteger seus bandidos de refúgio, mas o povo já entendeu o jogo! E sabe que quem não deve, não teme".

A estratégia de comunicação do Pode Espalhar já foi utilizada em outros benefícios. Em agosto, durante a repercussão da operação Carbono Oculto, administradores criaram a viralização de conteúdos que acusaram o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) de apoiar o PCC ao divulgar vídeos com informações falsas sobre o Pix. Na época, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, reforçou publicamente a crítica e cobrou investigação junto com a Procuradoria-Geral da República.

O conteúdo circulou enquanto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), adiou a votação do projeto para a próxima terça-feira, 18. Motta declarou, em entrevista à GloboNews, que não está interessado em saber “se o troféu vai para Derrite ou Lula”, mas sim em construir um texto que suportará a lei e manterá “os bandidos na cadeia”.