Após a votação apertada no Senado que reconduziu o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o Palácio do Planalto avalia que o cenário para uma eventual indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) é mais favorável. Caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficialize o nome de Messias, a expectativa é de menos resistência na Casa.

Gonet foi reconduzido ao cargo com 45 votos a 26 — o placar mais apertado desde a redemocratização. Diante desse resultado, Lula intensificou os cálculos políticos para garantir uma aprovação tranquila de seu indicado ao STF.

Aliados do presidente enxergaram na votação de Gonet uma resposta direta à atuação do procurador-geral na denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, no processo que apura tentativa de golpe de Estado.

As resistências ao nome de Messias no Senado, entretanto, têm outra natureza. O favorito entre os parlamentares é Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atual presidente do Senado, que já comandou a Casa por dois mandatos.

No caso de Gonet, a denúncia contra Bolsonaro, segundo avaliação do governo, contribuiu para o maior índice de rejeição já registrado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ): foram 17 votos favoráveis e 10 contrários após a sabatina.

Coube ao procurador-geral também denunciar todos os envolvidos na cadeia de comando da tentativa de golpe em 2022, que resultou em condenações pelo STF neste ano.

No entorno presidencial, a avaliação é de que, caso Lula escolha Jorge Messias, o advogado-geral da União será analisado por sua trajetória profissional, sua ligação com o governo e o PT, sem o mesmo passivo de Gonet junto à ala bolsonarista.

O Planalto destaca ainda que, no momento em que for indicado por Lula, Messias deixará de disputar internamente com outros cotados, como Rodrigo Pacheco e Bruno Dantas, e passará a articular sua aprovação diretamente com os senadores.

Assim como ocorre com o procurador-geral da República, o indicado ao STF precisa ser sabatinado pela CCJ e aprovado em votação no plenário do Senado, com o mínimo de 41 votos.

Apesar de Jorge Messias seguir como favorito à vaga, o senador Rodrigo Pacheco e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, ainda não desistiram da disputa.

Ambos se animaram com o resultado apertado da recondução de Gonet à PGR. Como revelou O GLOBO, Lula pretende conversar pessoalmente com Pacheco e Dantas antes de anunciar sua decisão final.

Na segunda-feira, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou em Belém que Lula deve se reunir com Pacheco ainda nesta semana e que não vê possibilidade de recuo na escolha por Messias:

— Eu sinceramente creio que o nome está lançado. Não vejo reversão — afirmou Wagner.

Entre aliados de Pacheco e Dantas, a declaração de Wagner foi interpretada como uma estratégia para testar a aceitação de Messias no Senado, o que não necessariamente indica uma decisão definitiva de Lula.

Segundo esse grupo, Lula teria usado Wagner, em jogada combinada, para medir o clima entre os senadores. Wagner integra o núcleo restrito de auxiliares com quem o presidente discute a indicação ao Supremo.

Há três semanas, Lula se reuniu com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e postergou a escolha do substituto de Barroso para fortalecer politicamente a indicação.