Poder e Governo
Com Castro empolgado e Paes cauteloso, megaoperação aquece cenário eleitoral de 2026: conheça as estratégias
Direita quer testar nomes ligados à segurança para o governo do estado, enquanto prefeito do Rio evita fazer juízo de valor sobre ação que deixou 121 mortos
A operação mais letal da história do país, que resultou em 121 mortes nos complexos do Alemão e da Penha, reanimou a direita do Rio, que vive incertezas para a eleição do ano que vem. Também levou o prefeito da capital e provável candidato a governador, Eduardo Paes (PSD), a adotar postura cautelosa, na contramão dos diversos posicionamentos sobre segurança que vinha fazendo ao longo do ano. Ambos os movimentos têm como base pesquisas que evidenciam a aprovação da população carioca à incursão policial da semana passada.
O Rio ficou mais seguro?
Megaoperação da polícia:
Na direita, a avaliação positiva sobre a operação causou dois efeitos. O primeiro envolve diretamente o governador Cláudio Castro (PL), que voltou a sonhar com o Senado após um período em que cogitava não tentar a sorte nas urnas. Entre a manhã da terça-feira de operação e sexta, ele angariou cerca de um milhão de novos seguidores no Instagram, rede na qual contava com apenas 460 mil.
Além disso, pesquisa Genial/Quaest feita com moradores do Rio e publicada ontem no GLOBO mostra que o índice dos aprovam a administração estadual subiu de 43%, registrado em agosto, para 53%.
Em outra frente, a megaoperação reforçou no campo bolsonarista a ideia de testar nomes ligados à segurança pública para a eleição de governador, apesar de ainda ser pouco nítido quem poderia despontar como uma aposta promissora. Até aqui, ainda não foi definido um candidato para fazer o embate com Paes, que nada numa competição de raia única a menos de um ano da disputa. Antes do fato de o governo avançar sobre o Comando Vermelho da forma como fez, o prefeito vinha, inclusive, tentando atrair apoios dentro do próprio PL.
Cautela
Paes tem adotado, desde semana passada, uma posição tímida nas reações à operação. A maior parte dos pronunciamentos que fez à imprensa televisiva, além das publicações em redes sociais e conversas com o secretariado, concentrou-se em gerenciar os impactos do episódio no dia a dia da cidade. Afirmou aos secretários, por exemplo, que não queria ver equipamentos municipais sucumbindo ao pânico e fechando as portas sem necessidade.
Foi em um dos momentos de aparição nas emissoras de TV que ele deu a declaração de maior alinhamento com a operação, quando disse que o Rio “não pode ficar refém de grupos criminosos”.
Mesmo quando manifestou comentários críticos, como o que fez à falta de uma “política pública de segurança” do estado, o desabafo veio acompanhado da solidariedade às famílias dos policiais mortos na operação.
A fim de manter o favoritismo para a eleição do ano que vem, o prefeito evitou ao máximo se vincular a posicionamentos de políticos de partidos de esquerda que integram sua gestão, que nos últimos dias denunciaram a violência empregada na atuação policial.
Pesquisas
Além da conveniência eleitoral, Paes manifesta a interlocutores que é preciso, sim, ser duro em relação ao controle territorial das facções, com operações que ajudem a inibir o poderio delas. O problema, diz, é a falta de uma perspectiva para o dia seguinte, com as operações não sendo acompanhadas de um plano maior de retomada do território.
Pesquisa:
Atirar ou tentar prender?
As pesquisas feitas no calor do momento sobre a incursão mais letal da história do país mostram como a população dá aval a medidas do tipo. Segundo sondagem da AtlasIntel, o placar na cidade é de 55% a 40% para a aprovação ao episódio no Alemão e na Penha, superior ao registrado no cenário nacional (51,8% a 45,4%). Mais de seis a cada dez cariocas, 62%, acham ainda que o nível de violência aplicado na operação foi adequado.
Chama atenção, na mesma pesquisa, como a visão favorável tanto à incursão em si quanto à violência é superior entre moradores de favelas. Sobe para 87,6% e 89,5%, respectivamente.
Norteado pelo mapeamento da repercussão, Castro intensificou ao longo dos dias os comentários elogiosos à operação.
— Aquelas (vidas de policiais) foram as verdadeiras quatro vítimas que tivemos ontem. De vítima, ontem, só tivemos os policiais — disse na quarta-feira. — Tirando a vida dos policiais, a operação foi um sucesso.
Somado ao boom nas redes, aliados do governador celebram o fato de ele ter pautado o debate político nacional ao “colocar Lula nas cordas”. Antes, o presidente vivia semanas de relativo conforto, com a melhora nas pesquisas e vitórias como o encontro com Donald Trump, que fez os governadores de direita silenciarem.
É também com base nos números que, além de se reanimar com a eleição para governador, a direita fluminense passou a prever dificuldades para nomes da esquerda na disputa pelo Senado, que terá duas vagas por estado no ano que vem. Quadros como Benedita da Silva, do PT, e Alessandro Molon, do PSB, costumam registrar bons desempenhos em pesquisas e podem abocanhar uma das cadeiras, mas o bolsonarismo vislumbra um cenário fácil de miná-los com base na narrativa da segurança.
Na quarta-feira, Benedita chorou em reunião com familiares das vítimas, o que é vendido pela direita como sinal de que se preocupa mais com “a vida dos bandidos” do que com o problema da criminalidade. Já Molon, apesar de não ter se envolvido em comentários sobre a operação, tem como argumento contra si o fato de o PSB do Rio, presidido por ele, ser autor da ADPF das Favelas — ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que é usada como argumento do governo do estado para alegar que não tem pleno poder de atuação nas comunidades cariocas.
Apesar da empolgação de Castro, observadores pontuam que o governador tem que tomar cuidado com o “teto de vidro”. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pautou para semana que vem o julgamento do caso Ceperj, que pode resultar na cassação de seu mandato.
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