Poder e Governo

Análise: promessas e atos chamativos na segurança marcam história do Rio

Combate à violência é usado como bandeira eleitoral por governadores, mas nem sempre o resultado final reflete em benefícios para a população do estado

Agência O Globo - 03/11/2025
Análise: promessas e atos chamativos na segurança marcam história do Rio
- Foto: Reprodução

A fim de derrotar o antropólogo Darcy Ribeiro, candidato à sucessão de Leonel Brizola, Moreira Franco prometeu acabar com a violência do Rio em seis meses. Era 1986, e o emedebista, também embalado pelo Plano Cruzado de José Sarney, conseguiu se eleger. Passaram-se bem mais que seis meses, e os problemas de segurança não só permanecem, como se ampliaram. O que também segue em voga é o uso da pauta como principal motor narrativo de governadores.

A operação mais letal da história do país, com 121 mortos, é considerada uma virada de chave para Cláudio Castro. Em três dias, ganhou quase 1 milhão de seguidores, mais que o dobro do que tinha antes, e pesquisas mostram que a população avaliza esse modelo de confronto.

Antes de Castro, a segurança perpassou governos que a tinham como bandeira — ou que dela foram vítimas.

O segundo caso assolou a gestão de Brizola, que, de volta do exílio, virou o primeiro governador do Rio eleito por voto direto depois da ditadura. Baseados na política de direitos humanos do gaúcho, opositores o associam até hoje à escalada da violência no estado, algo que pesquisadores da área consideram reducionista. Fato é que, politicamente, a arma foi letal.

“A ‘escalada do crime’ era o ponto mais criticado do governo de Brizola”, afirma a historiadora Marly Motta no livro “E agora, Rio?”. Com base nesse “marco fundador da construção da imagem da administração brizolista”, a sedutora promessa de Moreira ganhou tração.

O problema da segurança não foi resolvido em seis meses, nem em quatro anos, e Brizola voltou ao governo no início de 1991. Dois dissidentes da “família brizolista” ainda seriam eleitos naquela década: Marcello Alencar e Anthony Garotinho.

Garotinho prometeu uma “revolução” na segurança e chegaria a ser secretário da pasta na gestão seguinte, da mulher, Rosinha. Mas, a despeito de medidas modernizadoras como a Delegacia Legal, a marca que deixou na área foi tímida. Protagonizou também episódios como a demissão ao vivo, pela TV, de um dos formuladores da política de segurança, Luiz Eduardo Soares, que havia denunciado a “banda podre” da polícia — com a qual Garotinho depois seria acusado de compactuar. O ex-governador se gaba até hoje, no entanto, de prisões como a de Fernandinho Beira-Mar, chefe do CV.

Controle de território

Com Sérgio Cabral, eleito em 2006, o Rio viveria o programa mais ousado de tentativa de combate ao controle armado do território. As UPPs foram a principal vitrine do então cacique do MDB e daquele Rio que se preparava para os grandes eventos. O sucesso a curto prazo do projeto ajudou a impulsionar a popularidade de Cabral, reeleito com 66% em 2010.

Nos estertores do segundo mandato, e também no governo Luiz Fernando Pezão, o programa ruiu pouco a pouco — a exemplo do estado, que enfrentou uma crise fiscal e política sem precedentes.

Diante do vácuo deixado pela Lava-Jato e embalado pelo bolsonarismo, o ex-juiz Wilson Witzel, desconhecido até a campanha, elegeu-se governador em 2018. Ele prometia “mirar na cabecinha” e “abater” criminosos.

Durante o curto governo, que terminaria com impeachment em 2021, Witzel protagonizou cenas folclóricas, como a comemoração da morte do sequestrador de um ônibus na Ponte Rio-Niterói, onde pousou de helicóptero e correu eufórico pela pista.

Mesmo sem a retórica de Witzel, de quem era vice, Castro é responsável pelas três operações mais letais que o Rio já viu. Com a da semana passada, reafirma o protagonismo inevitável da pauta em 2026. (Caio Sartori)