Além da movimentação de uma ala do PT para que Neguinho da Beija-Flor concorra ao Senado, outros parlamentares e dirigentes ligados ao carnaval do Rio disputam apoios entre as escolas de samba para se projetarem na corrida eleitoral de 2026. A “bancada do samba” tem casos de concorrência dentro de uma mesma escola, ou no mesmo partido, entre candidatos que vislumbram potencial de voto na proximidade com o carnaval.

Decisão:

STF:

A mesma Beija-Flor incorporada ao apelido de Neguinho, que foi intérprete da escola por cinco décadas e encerrou a carreira na Sapucaí neste ano, vem sendo palco de uma corrida entre veteranos e novatos na política de olho em cadeiras na Assembleia Legislativa (Alerj) e na Câmara dos Deputados. Buscando a reeleição, o deputado federal Ricardo Abrão (União-RJ), que carrega o sobrenome do patrono da escola, disputa espaço com o colega de Casa, Doutor Luizinho (PP-RJ), e com um dos diretores da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), João Drummond.

Ricardo é sobrinho do contraventor Aniz Abrão David, o Anísio, presidente de honra da Beija-Flor. Após um período mais afastado de Anísio, que não apoiou sua candidatura em 2022, ele busca se reaproximar da escola para ter seu apoio no ano que vem.

Segundo interlocutores, o deputado tem boa relação com o presidente da Liesa, Gabriel David, que é filho de Anísio. Gabriel, por sua vez, também é aliado próximo de Drummond, que articula uma candidatura a deputado estadual, conforme noticiado pelo portal Tempo Real e confirmado pelo GLOBO com pessoas próximas.

Além de ser diretor financeiro da Liesa, responsável por organizar os desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio, Drummond é vice-presidente da escola Imperatriz Leopoldinense e neto do antigo patrono da agremiação, Luiz Drummond, contraventor que morreu em 2020. Ele deve se candidatar pelo PP em 2026, em dobradinha com Doutor Luizinho, que concorreu a deputado federal com aval da Beija-Flor na última eleição.

Emendas para instituto

De olho em ter novamente o apoio da agremiação, Luizinho alocou nos últimos anos R$ 3,7 milhões em emendas parlamentares no Instituto Beija-Flor, braço social da escola. Em visita à quadra da escola em junho, ele anunciou que destinará mais recursos no Orçamento de 2026.

“Como a gente está muito feliz que a Beija Flor foi campeã (do carnaval de 2025), vamos fazer aqui uma doação de emenda de R$ 5 milhões”, disse Luizinho na ocasião, ao lado de Drummond.

As visitas de Luizinho e Drummond a quadras de escolas de samba têm ocorrido sob pretexto de acompanhar incursões do Mamógrafo Móvel, equipamento da Secretaria estadual de Saúde do Rio. Na semana passada, ambos fizeram a ação na quadra da própria Imperatriz. Luizinho também anunciou que alocará emendas no Instituto Imperatriz, sob gestão de Drummond. Procurados pela reportagem, Luizinho e Drummond não responderam.

A movimentação de Drummond virou incômodo para o deputado estadual Rafael Nobre (União), que é aliado da família Abrão e esperava ter apoio da Beija-Flor em 2026. Nobre é próximo ao prefeito de Nilópolis, Abraãozinho (PL), que também é sobrinho de Anísio.

Dentro do próprio PP, a candidatura do herdeiro da Imperatriz ainda disputa espaço com o deputado estadual Dionísio Lins, que tem atuação próxima ao Império Serrano e a outras escolas da Série Ouro — a segunda divisão do carnaval do Rio.

Lins tem defendido ampliar o número de agremiações no Grupo Especial, das atuais 12 para 15, e afirma que a proposta atende a anseios das escolas de samba, “que querem mais desfiles e menos shows” na Sapucaí. Uma das inovações da atual gestão da Liesa no carnaval foi abrir espaço para rodas de samba após os desfiles.

A ideia de inflar o Grupo Especial agrada as agremiações da divisão de acesso, mas é tida pela Liesa como inviável financeiramente no momento. Recentemente, Drummond e Gabriel David divulgaram vídeos nas redes sociais rebatendo a ideia de Lins.

Procurado, Lins defendeu atrair financiamento público para ampliar o número de escolas. Ele também disse que Drummond “será bem-vindo” em seu partido.

— O samba ajuda, mas não elege sozinho — afirmou o deputado estadual.

Movimento de Neguinho

No mundo do carnaval, por ora, a hipótese de uma candidatura de Neguinho da Beija-Flor ao Senado é vista com ceticismo. O movimento foi endossado dentro do PT pelo atual prefeito de Maricá, Washington Quaquá, que também é presidente de honra de uma escola da divisão de acesso, a União de Maricá.

O apoio ao ex-intérprete da Beija-Flor é uma forma de marcar posição em disputas internas no PT e entre partidos de esquerda. A deputada petista Benedita da Silva, que não faz parte do grupo de Quaquá no partido, também se movimenta para concorrer ao Senado. Benedita — que é casada com o ator Antonio Pitanga, figura frequente na Sapucaí— busca apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também estará, ao menos indiretamente, envolvido no carnaval de 2026.

Lula será homenageado no enredo da Acadêmicos de Niterói, escola que subiu neste ano para o Grupo Especial. A escola é apadrinhada por parlamentares do PT e do PDT que são aliados do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), rival de Quaquá. No último carnaval, Quaquá acusou a entidade que organiza o desfile da Série Ouro de ter favorecido deliberadamente a escola de Niterói e prejudicado a agremiação de Maricá.

No início do mês, a primeira-dama Janja da Silva visitou o barracão da Acadêmicos de Niterói no Rio. Segundo interlocutores do presidente, Lula não planeja, por ora, assistir ao desfile na Sapucaí, mas tem se mostrado satisfeito com o samba em sua homenagem.