Internacional

Comissão vaticana denuncia retaliações contra vítimas de abusos

Documento apontou 'resistência' na Itália a enfrentar o problema

Redação ANSA 16/10/2025
Comissão vaticana denuncia retaliações contra vítimas de abusos
- Foto: ANSA

Uma comissão do Vaticano afirmou nesta quinta-feira (16) que as vítimas de abusos sexuais por parte do clero continuam sofrendo retaliações "perturbadoras" e apontou uma "notável resistência" na Itália a enfrentar esse tipo de crime na Igreja Católica.

As conclusões estão no segundo relatório anual da Comissão Pontifícia para Proteção dos Menores, instituída pelo finado papa Francisco para combater um fenômeno que abalou a imagem do catolicismo em dezenas de países ao longo das últimas décadas.

O documento, feito com a contribuição de 40 vítimas, descreveu "relatos perturbadores de retaliação" por parte de prelados contra sobreviventes que denunciaram abusos sexuais.

"Meu irmão era seminarista, e o bispo disse para minha família que minha acusação poderia afetar a ordenação dele", contou uma vítima.

"Escutar os sobreviventes é o primeiro passo rumo à realização de uma Igreja cada vez mais segura para nossos filhos. Precisamos dar uma resposta honesta às incontáveis vítimas que tiveram a coragem de lançar o alerta sobre os abusos, apesar dos obstáculos inimagináveis", declarou a jurista Maud de Boer-Buquicchio, responsável pelo relatório.

"Engajar-se em uma missão de escuta e adotar uma abordagem mais ampla de proteção exige que a Igreja esteja profissionalmente equipada e siga estruturas de proteção claramente explicadas", reforçou o presidente da comissão, o arcebispo francês Thibault Verny.

O colegiado é formado por religiosos e leigos especialistas no campo da proteção aos menores, como o brasileiro Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos. Em 2022, Francisco integrou a comissão ao governo da Santa Sé e pediu relatórios periódicos sobre os progressos realizados.

O documento deste ano examinou em detalhe a situação em quase 20 países, como Etiópia, Guiné, Malta e Moçambique, além da Itália, onde foi verificada uma "notável resistência cultural para enfrentar os abusos". Segundo o relatório, apenas 81 das 226 dioceses da Conferência Episcopal Italiana (CEI) responderam a um questionário sobre a proteção de crianças e adolescentes.

"Os tabus culturais podem tornar difícil para as vítimas e suas famílias falar das próprias experiências e denunciá-las às autoridades", apontou o texto, que recomenda à Igreja na Itália que amplie a "colaboração formal com as autoridades civis para garantir uma análise mais eficaz das acusações e uma maior transparência".