Internacional

Venezuela convoca embaixadora em Madri após ministra espanhola chamar país de 'ditadura'

Governo venezuelano descreveu declarações de Margarita Robles de ' insolentes, intrometidas e grosseiras'; representante da Espanha em Caracas foi chamado pela Chancelaria

Agência O Globo - GLOBO 13/09/2024
Venezuela convoca embaixadora em Madri após ministra espanhola chamar país de 'ditadura'

O governo da Venezuela convocou para consultas sua embaixadora em Madri, horas depois da ministra da Defesa espanhola descrever o regime de Nicolás Maduro como uma “ditadura” e prestar homenagem aos venezuelanos que foram para o exterior, citando nominalmente o ex-candidato à Presidência, Edmundo González, que recebeu asilo em Madri.

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Em comunicado, o chanceler, Yvan Gil, chamou as palavras de Margarita Robles de “insolentes, intrometidas e rudes”, e que “apontam para uma deterioração nas relações entre os dois países”. No texto, Gil, que é uma das vozes do chavismo no exterior, anuncia que “decidiu chamar a embaixadora venezuelana acreditada no Reino [da Espanha] para consultas, Gladys Gutiérrez”, assim como convocou para prestar explicações “o embaixador espanhol credenciado em Caracas, Ramón Santos Martínez”, na sexta-feira.

Durante um evento cultural em Madri, Margarita Robles fez uma homenagem a “todos os homens e mulheres da Venezuela que precisaram sair de seu país, precisamente por causa da ditadura em que vivem”. No mesmo discurso, ela citou nominalmente Edmundo González, o candidato da oposição venezuelana à Presidência, que no domingo chegou à capital espanhola.

Alvo de perseguição pela Justiça da Venezuela e de um mandado de prisão, González passou cerca de um mês abrigado na embaixada da Holanda na capital venezuelana antes de embarcar. O governo espanhol garante não ter oferecido qualquer tipo de contrapartida ao regime de Maduro em troca do salvo conduto. Na manhã desta quinta-feira, o opositor se encontrou com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em caráter privado.

“Dou calorosas boas-vindas a Edmundo González Urrutia ao nosso país, a quem damos as boas-vindas demonstrando o compromisso humanitário e a solidariedade da Espanha com os venezuelanos”, escreveu Pedro Sánchez na rede social X. “A Espanha continua a trabalhar a favor da democracia, do diálogo e dos direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela”.

Apesar de não reconhecer González como o vencedor da eleição presidencial de 28 de julho, cujo anúncio da vitória de Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral não foi aceito por boa parte da comunidade internacional, a Espanha tem entrado em um atrito crescente com o governo venezuelano.

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Na terça-feira, o Partido Popular, de oposição a Sánchez, conseguiu a aprovação de uma proposta não vinculativa para que o governo reconhecesse González como presidente eleito da Venezuela.

Aprovado com 177 votos a favor e 164 contra, o projeto foi considerado uma derrota para o premier — que, apesar de ter liderado os esforços para retirar González da Venezuela, prefere a abordagem oficial da União Europeia, de exigir a publicação via órgãos oficiais das atas de votação das eleições de 28 de julho para só então reconhecer um vencedor. O tema será discutido pelo Parlamento Europeu na semana que vem.

Na quarta-feira, um dia após a aprovação da medida sobre González, o presidente do Parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez — principal chavista no Legislativo —, propôs o rompimento das relações diplomáticas, consulares e comerciais com o país europeu.

— Que saiam daqui todos os representantes da delegação do governo do Reino de Espanha e todos os consulados, e traremos os nossos cônsules de lá — declarou Rodríguez, que pediu à Comissão de Política Externa do Legislativo venezuelano que aprovasse uma resolução nesse sentido. — Estamos diante de um caso em que a história se passa como uma tragédia e se repete como uma tragicomédia. É inconcebível que existam seres humanos com um nível de inteligência que pensem em repetir em tão pouco tempo um dos maiores erros políticos, diplomáticos e intervencionistas que já ocorreram na História do planeta.