Internacional
Aliados de Israel criticam morte de seis funcionários de agência da ONU durante bombardeio contra escola em Gaza
Alemanha, EUA e Reino Unido lamentaram morte de trabalhadores humanitários e exigiram proteção ampla; Washington volta a pressionar por cessar-fogo

A Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) anunciou que o ataque aéreo israelense a uma escola na cidade de Nuiserat, na Faixa de Gaza, que provocou a morte de seis de seus funcionários, foi o bombardeio isolado mais letal contra integrantes da organização desde o início da guerra na região. Agentes internacionais, incluindo aliados de Israel, condenaram o novo ataque, enquanto autoridades do país justificaram a ação como legítima.
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O bombardeio lançado por Israel atingiu a escola al-Jawni, localizada no campo de refugiados de Nuseirat, onde estima-se que 12 mil palestinos deslocados pela guerra estejam abrigados. Ao todo, 18 pessoas morreram, incluindo seis funcionários da UNRWA que, segundo o diretor da agência, Philippe Lazzarini, estavam no local para oferecer auxílio às famílias deslocadas.
"O que está acontecendo em Gaza é totalmente inaceitável", escreveu o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao comentar o ataque e confirmar as mortes dos seis funcionários da UNRWA. "Essas dramáticas violações da lei humanitária internacional precisam parar agora".
As Forças Armadas de Israel (FDI) justificaram o ataque, afirmando se tratar de um "bombardeio preciso" contra um centro de controle do Hamas. Ao longo do conflito, o Estado judeu defendeu ações contra prédios que gozam de proteção humanitária, como escolas e hospitais, alegando que o Hamas e outros grupos armados utilizam essas áreas para suas atividades bélicas, utilizando a população civil como escudo-humano.
A justificativa, contudo, não foi suficiente para aplacar as condenações internacionais contra a ação, incluindo por parte de aliados. O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha classificou como "totalmente inaceitável" as mortes dos funcionários humanitários, exigindo de Israel a proteção aos trabalhadores que prestam assistência em Gaza.
"Trabalhadores de ajuda humanitária não podem nunca ser vítimas de foguetes. (...) As mortes dos seis funcionários da UNRWA em uma escola de Nuseirat é totalmente inaceitável", declarou o ministério em um comunicado nas redes sociais. O Reino Unido, outro parceiro europeu com que mantém vínculos com Israel, também se manifestou de forma crítica.
— Relatos de seis membros da equipe da UNRWA mortos em um ataque israelense são assustadores — declarou David Lammy, secretário de Relações Exteriores britânicos. — Os trabalhadores humanitários devem ser capazes de fazer seu trabalho com segurança. Precisamos de um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns agora.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também comentou o fato durante uma viagem oficial à Polônia. O diplomata clamou pela proteção dos trabalhadores humanitários na Faixa de Gaza e disse que o ataque mais recente era uma mostra de que a única solução para o fim das hostilidades seria a aceitação do acordo de paz que os EUA tentam emplacar com ajuda de outros mediadores, como Catar e Egito.
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— Isso evidencia mais uma vez a urgência de alcançar um cessar-fogo (...) seria a melhor maneira de assegurar que teremos um espaço realmente protegido em toda Gaza, um espaço em que os [agentes] humanitários não só possam continuar seu trabalho, se não expandi-lo em benefício das pessoas que necessitam desesperadamente — disse Blinken.
Embora tenha defendido a defesa dos funcionários humanitários, o diplomata americano também afirmou que parte da responsabilidade pelas mortes de quarta-feira seria do Hamas, ecoando o argumento israelense de que o grupo seguia "se escondendo" e "se apoderando" de áreas destinadas a atividades humanitárias para "levar a cabo suas operações".
Na mesma medida em que era a agência das Nações Unidas com maior presença em Gaza antes do início da guerra, com cerca de 1,3 mil funcionários espalhados pelo enclave, a UNRWA também se tornou a mais exposta aos impactos diretos do conflito. De acordo com Lazzarini, ao menos 220 trabalhadores humanitários ligados à organização morreram até o momento.
A agência — cujo papel no conflito israelense-palestino é questionado por Israel, sobretudo pelo fato de prolongar o status de refugiado de cidadãos palestinos de famílias que anteriormente habitavam áreas que atualmente são parte do Estado judeu — também ficou sob pressão diplomática, após Israel acusar e provar que funcionários contratados pela organização em Gaza participaram diretamente do atentado terrorista de 7 de outubro, que provocou a escalada do conflito atual. A agência admitiu a ligação e demitiu os funcionários posteriormente.
A guerra entre Israel e Hamas provocou uma crise humanitária aguda em Gaza, onde mais de metade da população foi deslocada em razão do conflito. O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas afirma que mais de 41 mil pessoas morreram no enclave desde o começo das hostilidades, enquanto organizações internacionais alertam para uma série de outros riscos potencialmente letais, como os desabastecimentos de alimentos e medicamentos, além da destruição da infraestrutura básica, que pode levar a uma crise sanitária.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quinta-feira a maior evacuação médica em Gaza desde o início da guerra, com a transferência de 97 pacientes e 155 acompanhantes para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O grupo inclui 45 crianças, com quadros que incluem desde diagnósticos de câncer até traumas graves provocados pela guerra.
O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, classificou a operação como "altamente complexa" e repleta de "desafios operacionais". O órgão também destacou que a retirada foi especialmente difícil no norte de Gaza, primeira área atacada por Israel e de difícil acesso no momento. (Com AFP e NYT)
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