Internacional

Agentes venezuelanos intensificam presença ao redor da Embaixada argentina em Caracas, que tem acesso bloqueado

Escalada ocorre horas depois de o governo da Venezuela revogar a autorização para que a Embaixada tenha custódia do Brasil no país

Agência O Globo - GLOBO 07/09/2024
Agentes venezuelanos intensificam presença ao redor da Embaixada argentina em Caracas, que tem acesso bloqueado
Agentes venezuelanos intensificam presença ao redor da Embaixada argentina em Caracas, que tem acesso bloqueado - Foto: Reprodução/internet

Um dia após homens encapuzados cercarem a Embaixada da Argentina em Caracas, a oposição venezuelana comunicou um novo episódio na manhã deste sábado. A rua que dá acesso à sede da representação diplomática foi fechada, disse uma fonte da oposição ao GLOBO, e oficiais do regime chavista têm impedido o acesso de jornalistas, publicou o partido Vem Venezuela. A escalada ocorre horas depois de o governo venezuelano revogar a autorização para que a Embaixada tenha custódia do Brasil no país.

Contexto: Maduro suspende unilateralmente custódia do Brasil sobre Embaixada da Argentina em Caracas

Ameaças: Opositores asilados na Embaixada da Argentina em Caracas denunciam cerco por forças de Maduro

Ao GLOBO, uma fonte do governo brasileiro em Caracas disse a revogação foi feita de forma unilateral e que o Brasil continuará tomando conta da Embaixada "até que outro país assuma" a responsabilidade. A AFP confirmou a presença de patrulhas na região, além da instalação de um posto de controle policial para verificar a identidade das pessoas que transitam pela área. O local abriga seis colaboradores da líder da oposição, María Corina Machado, acusados pelo regime chavista de terrorismo, associação criminosa e traição à pátria.

“Na Embaixada da Argentina na Venezuela, sob custódia do Brasil, estamos com a energia elétrica cortada e com os acesso à sede tomados”, escreveu no X Magalli Meda, chefe de campanha de María Corina e uma das asiladas. Os colaboradores da oposição estão abrigados na sede diplomática desde 20 de março e podem ser presos caso deixem o prédio.

Na sexta-feira, Pedro Urruchurtu, coordenador internacional do partido Vem Venezuela e um dos asilados, disse no X que patrulhas do Sebin (Serviço Nacional Bolivariano de Inteligência) e do DAET (Corpo Nacional Bolivariano de Polícia), além de “oficiais encapuzados e armados”, cercaram e sitiaram a sede diplomática. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram veículos com sirenes ligadas nos arredores do prédio, e outro aliado da oposição asilado no local, Omar González Moreno, afirmou que a energia da embaixada foi cortada.

Além de Meda, que é o braço direito de María Corina, e de Urruchurtu e Omar González, também estão refugiados no local Claudia Macero, coordenadora de comunicações do partido; Humberto Villalobos, coordenador eleitoral da campanha; e o ex-ministro Fernando Martínez Mottola, assessor. Todos eles desempenharam papéis estratégicos importantes na campanha da oposição, apesar de estarem confinados.

María Corina: Todo mundo que contesta o governo acorda achando que é o dia em que será preso

Uma eventual entrada das forças de segurança venezuelanas na embaixada, mesmo que sob custódia de outro país, configuraria uma violação da Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, que prevê a inviolabilidade de instalações diplomáticas, incluindo embaixadas, consulados e residências de embaixadores. Por isso, se a Venezuela quiser o Brasil fora da representação argentina, outra nação terá que assumir a custódia do local.

No final de julho, a Argentina pediu para o Brasil assumir a representação de seus interesses na Venezuela, após o governo venezuelano expulsar as equipes diplomáticas de ao menos sete países que questionaram os resultados das eleições presidenciais. Quando o pedido foi aceito pelo governo brasileiro, o presidente argentino, Javier Milei, que tem uma relação tumultuada com o Palácio do Planalto, agradeceu e destacou os “laços de amizade” entre os dois países. A bandeira do Brasil foi hasteada na embaixada em 1º de agosto.

Condenação internacional

Horas antes do cerco de sexta-feira, a Chancelaria argentina emitiu um comunicado no qual solicitava ao Tribunal Penal Internacional (TPI) uma “ordem de prisão contra Maduro e outros líderes do regime venezuelano”. Segundo o jornal La Nación, o pedido considerou o “agravamento da situação” na Venezuela, além da “prática de novos atos que podem ser considerados crimes contra a Humanidade”.

Em entrevista: Lula diz que comportamento de Maduro 'deixa a desejar' e volta a falar em novas eleições na Venezuela

Na sexta, cerca de 30 ex-presidentes da América Latina e da Espanha também entregaram uma carta em Haia pedindo ao promotor Karim Khan que emitisse mandados de captura contra Maduro e o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, recentemente nomeado ministro do Interior e Justiça. Entre os signatários estão os ex-presidentes da Espanha Felipe González, José María Aznar e Mariano Rajoy, assim como os colombianos Álvaro Uribe e Iván Duque, o argentino Mauricio Macri, o mexicano Vicente Fox e o boliviano Carlos Mesa.

A proclamação de Maduro como vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) foi ratificada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), ambos acusados de servir ao chavismo. A oposição, por outro lado, reivindica a vitória do ex-diplomata Edmundo González Urrutia, de 75 anos, substituto de María Corina Machado nas eleições devido a uma inabilitação da líder opositora imposta pela Suprema Corte. Ambos estão escondidos há mais de um mês.

Os resultados oficiais das eleições de 28 de julho foram questionados por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina, que pediram uma verificação minuciosa dos votos. O CNE não divulgou as atas de votação, como a lei exige, alegando que foi alvo de um ataque de hackers. O anúncio dos resultados provocou protestos em todo país, com um balanço de 27 mortos, 192 feridos e 2.400 detidos.

(Com AFP e El País)