Internacional
Refém resgatado com vida em Gaza não recebeu tratamento diferente por ser muçulmano e quase não viu a luz do sol
Parentes de Kaid Farhan Elkadi e autoridades israelenses contam que beduíno viu colega de cativeiro morrer ao seu lado e que sempre 'tinha certeza de que era seu último dia'
Apesar de não ter falado publicado, o ex-refém Kaid Farhan Elkadi, de 52 anos, já partilhou com familiares algumas de suas experiências ao longo dos dez meses em que foi mantido em cativeiro na Faixa de Gaza. Oitavo refém a ser resgatado, sendo o primeiro árabe-israelense, Elkadi quase não foi exposto à luz do sol por oito meses e viu um de seus colegas de cativeiro morrer ao seu lado. E, embora seja muçulmano, não recebeu tratado diferenciado.
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— Ele disse que o deixaram rezar, essa foi a única coisa que o deixaram fazer — contou seu primo Fadi Abu Sahiban ao jornal israelense Haaretz.
Elkadi foi um dos oitos membros da empobrecida minoria árabe beduína de Israel sequestrados durante o ataque do Hamas em outubro. Foi encontrado sem querer por soldados israelenses e forças especiais que vistoriavam uma rede de túneis do Hamas durante uma “operação complexa” em Rafah, extremo sul de Gaza, segundo dois funcionários graduados que falaram ao New York Times sob condição de anonimato. Estava sozinho em um quarto a quase 23 metros de profundidade.
Em comunicado, o Exército israelense informou que não poderia dar mais informações sobre o resgate por "considerações sobre a segurança de nossos reféns, a segurança de nossas forças e a segurança nacional". Mas, aos familiares, o ex-refém descreveu os "dias difíceis, [em] um cativeiro muito cruel", segundo informou Ata Abu Medigam, ex-prefeito da cidade de Rahat, no sul de Israel, ao jornal Haaretz.
— Ele falou sobre um dos reféns que foi mantido em cativeiro com ele por dois meses e morreu ao lado dele — explicou Medigam, contando que Elkadi começou a ter medo de perder a visão e, por isso, costumava verificar seus reflexos. — Ele verificava os olhos para ver se ainda estavam funcionando. Ele colocava os dedos nos olhos para verificar seus reflexos.
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O ex-refém também partilhou com a família sobre a relação com a morte e como sua presença parecia constante ao longo dos dias, sem saber de onde o golpe fatal viria.
— [Ele] ouvia os bombardeios das [Forças Armadas de Israel] FDI sem parar e disse que seu corpo tremia — disse o seu primo, acrescentando que, segundo contou Elkadi, "todo dia é uma situação de risco de vida". — Todo dia ele tinha certeza de que era seu último dia, e não apenas por causa de seus sequestradores, mas também por causa do bombardeio do exército.
Elkadi é morador uma aldeia beduína na região de Rahat, no deserto de Negev, informou a rede BBC, e trabalhava como segurança numa fábrica de embalagens em Magen, um pequeno kibutz perto da fronteira com Gaza, quando foi sequestrado. O local sediava também o festival de música eletrônica Supernova, que concentrou a maior parte dos 1,2 mil mortos durante o ataque terrorista.
Segundo a Associated Press, Elkadi tem duas esposas, é pai de 11 filhos e, de acordo com a BBC, avô de uma criança. Segundo o Exército israelense, o homem foi levado a um hospital e está em “condição médica estável”.
Pelo menos três cidadãos árabes de Israel ainda permanecem cativos no enclave. Além de Elkadi, outros dois árabes beduíno — Yousef Zyadna e seu filho, Hamza — foram sequestrados durante os ataques do Hamas em outubro, enquanto um terceiro, Hisham al-Sayed, está preso no território palestino há quase uma década.
No total, dos 251 sequestrados durante o ataque do Hamas, estima-se que 108 reféns ainda permaneçam em Gaza, dos quais aos menos 40 são dados como mortos pelas autoridades israelenses. Em novembro, 105 reféns foram libertadas durante um cessar-fogo de uma semana entre Israel e o Hamas.
A retaliação de Israel ao ataque do Hamas matou mais de 40 mil palestinos em Gaza, segundo autoridades locais de saúde, que não especificam quantos eram combatentes. Também deslocou 90% dos 2,3 milhões de habitantes do enclave e causou grande destruição em todo o território, o que fez com que diversos grupos de direitos humanos emitissem alertas sobre o cenário de desastre humanitário na região.
O Hamas espera trocar os reféns por um cessar-fogo duradouro, a retirada das tropas israelenses de Gaza e a libertação de um grande número de prisioneiros palestinos. As negociações estão em andamento no Egito nesta semana.
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